Alta do dólar provocou a queda de até 30% no volume de vendas nos últimos 12 meses.
A crise internacional e a conseqüente alta do dólar atingiu em cheio os negócios dos shoppings populares. Baseados principalmente no comércio de produtos eletroeletrônicos, a maioria importados, esses centros de compras registraram queda de até 30% no volume de vendas nos últimos 12 meses. A cotação da moeda norte-americana, que ficava no patamar de R$ 1,60 em junho de 2011, no mesmo mês de 2012 tem variado em torno R$ 2.
No Shopping Tupinambás, no hipercentro da Capital, a queda de 30% no faturamento foi considerada um desastre pelo representante dos lojistas no conselho gestor do mall, Eliazar Teixeira de Carvalho. "No último ano, tivemos uma queda acentuada e nem mesmo as lanchonetes escaparam. Mesmo sendo um centro de compras consolidado, há oito anos no mercado, sentimos o baque", afirma Carvalho.
Além da alta dos preços, que tem afugentado os clientes, os comerciantes estão preocupados com o nível de endividamento do consumidor brasileiro. "Para não deixar de consumir, o brasileiro está fazendo dívidas, produtos relativamente baratos são adquiridos a prazo. Isso apenas adia o problema. As recentes ações do governo federal ainda não surtiram efeito para o comércio popular", avalia.
O resultado ruim, por enquanto, não causou demissões. "Isso ainda não aconteceu porque o atendimento na maioria das lojas é feito pelo proprietário e alguém da família. O problema é que nessa situação o orçamento familiar fica comprometido."
Para tentar conter os prejuízos os lojistas têm apostado em ações de marketing. Promoções e sorteios também fazem parte da estratégia.
Na rede de shoppings populares Uai, com três unidades em Belo Horizonte, sendo duas na região de Venda Nova e outra na região central da cidade, também sentiu o baque. Com 45% do mix formado por eletroeletrônicos, a rede também viu o faturamento cair cerca de 30% em um ano. "O resultado ruim é culpa do dólar mas também de outros fatores. A greve dos metroviários fez com que o movimento na nossa loja do centro caísse", avalia o gerente de marketing da Rede Uai, Lucas Malaquias.
Nem mesmo o Dia dos Namorados, considerado uma boa data para a venda de eletroeletrônicos, salvou o mês de junho. Segundo o gerente, até o planejamento anual de publicidade do shopping já foi alterado em busca de resultados mais animadores. Entre as estratégias mais comuns para atração dos consumidores, como promoções e sorteios, os lojistas têm optado pela mudança no mix de produtos oferecidos. "Buscamos oferecer produtos com valor médio menor. Assim ganhamos menos na venda unitária, mas garantimos a presença do consumidor na loja", explica.
A mesma estratégia foi adotada pelo Shopping Xavantes, também no hipercentro. Segundo o diretor do Xavantes, Leonardo Surman, a mudança do mix tem alcançado bons resultados. "Até agora temos conseguido conter a queda no volume de vendas. Diminuímos o tíquete médio dos nossos produtos e conseguimos segurar os clientes. Antes ganhávamos na unidade e agora no volume, assim mantivemos o faturamento estável", afirma Surman. Mesmo preocupado com a possibilidade de um resultado negativo em 2012, o diretor anuncia o crescimento do número de lojas que devem passar de 550 para 600 até o fim do ano.
Desaceleração - Não menos grave é a situação de muitos lojistas do Shopping Oiapoque. Para o proprietário da Amacell, Amado Magella Sales, nem as estratégias de substituição de itens do mix por similares mais baratos e promoções têm resolvido o problema. "Em seis meses sentimos uma queda de 40% no faturamento. Não trabalhamos mais com alguns produtos como HDs (hard disks) externos de um terabyte e alguns modelos de câmaras fotográficas. Outros itens tentamos substituir por nacionais e na maioria dos casos estamos diminuindo a margem de lucro, evitando repassar o aumento para o consumidor", explica Sales.
No Oiapoque desde a inauguração, em 2004, a Loja do Artur passa pelo pior período. O proprietário, Artur José Soares, já considera o ano perdido. "Tivemos uma queda de 50% no faturamento nos últimos 12 meses. Todas as estratégias de oferecer outros produtos e bancar o prejuízo já não surtem efeito. Nem 2009 foi tão ruim", reclama Soares, que tem achado os corredores vazios.
O empresário, que tinha dois funcionários, já demitiu um e não acredita em uma recuperação no segundo semestre, nem mesmo contando com datas como o Dia das Crianças e o Natal. "Para mim 2012 já acabou. O jeito é acreditar que 2013 vai ser melhor", finaliza.
Veículo: Diário do Comércio - MG