Desafios das teles vão além dos balanços

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Os balanços da Oi e TIM, divulgados na terça-feira, mostram que para garantir maior receita e aumento nos lucros as empresas enfrentam uma corrida cada vez mais desafiadora atrás da melhoria da qualidade e diferencial no serviço.

Ainda não está muito claro o que leva o cliente a escolher uma ou outra operadora. Para alguns pode ser a qualidade, para outros, o preço. Nesse último caso, é preciso ponderar sobre o peso do poder aquisitivo do usuário, pois se for muito baixo, o preço poderá ser um fator decisivo na escolha por um serviço mais barato. Quanto à qualidade, independentemente de sua posição financeira, todo cliente quer receber um bom serviço e que seja veloz.

Mas, com smartphones sugando as redes, pesando na transmissão de dados, qualidade só acontece com muito investimento em infraestrutura. E é aí que entra a condição financeira da operadora, que depende de ser saudável para realizar os aportes necessários.

A TIM encerrou o primeiro trimestre deste ano com lucro líquido de R$ 306,1 milhões, 13,9% acima do valor verificado em igual período de 2012. No trimestre deste ano, a receita líquida da operadora avançou 5,4%, para R$ 4,71 bilhões. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) subiu 3,9%, para R$ 1,22 bilhão. A margem Ebtida entre janeiro e março ficou em 25,9%, uma queda de 0,37 ponto percentual na comparação anual.

A Oi encerrou o primeiro trimestre deste ano com lucro líquido de R$ 262,3 milhões, o que representou uma queda de 40,9% em comparação aos três primeiros meses de 2012. O resultado ficou acima da média das expectativas divulgadas por analistas, que seria de um lucro líquido de R$ 157,7 milhões para o período.

A receita líquida da companhia no primeiro trimestre aumentou 3,5%, para R$ 7,04 bilhões. O desempenho, de acordo com a tele, foi favorecido pela expansão da base de assinantes de telefonia móvel, ao aumento da receita com banda larga e TV paga, e menor desligamento de linhas fixas residenciais. O Ebitda cresceu 6,6% no trimestre, para R$ 2,15 bilhões.

A Oi ainda continua em sua luta para controlar seus débitos. A operadora encerrou o primeiro trimestre de 2013 com uma dívida bruta consolidada de R$ 33,55 bilhões, 2,2% mais alto que a dívida bruta de 2012. O aumento, segundo a companhia, deveu-se à elevação dos juros no período.

A dívida líquida consolidada da Oi foi de R$ 27,495 bilhões, 2,9% acima da expectativa de analistas, que era de uma dívida líquida de R$ 26,71 bilhões. Em comparação ao primeiro trimestre do ano passado, o aumento foi de 63,3%. O aumento foi associado a gastos com investimentos, dividendos e o pagamento de juros de dívidas.

Com aumento ou queda no lucro, cada operadora teve de se organizar para fazer os investimentos que garantiriam o cumprimento do prazo estabelecido pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para lançamento da rede 4G nas cidades-sede da Copa das Confederações. Todas as teles atingiram o objetivo. Mesmo com São Paulo fora desse bloco de municípios, a Claro saiu na frente e iniciou a oferta do serviço também na cidade paulistana, dia 25 de abril, seguida pela Telefônica/Vivo, dia 30.

Não é por acaso que as operadoras estão acelerando a ampliação da cobertura também de redes 3G. Mesmo já ativada, a 4G é para poucos, e não é o foco.

O diretor-financeiro da Oi, Alex Zornig, disse, na terça-feira, durante teleconferência de divulgação de resultados, que uma das principais estratégias da companhia é o investimento na expansão da cobertura das redes - leia-se, em especial, 3G - e na oferta regionalizada de serviços.

A Oi fechou 2012 com 692 municípios com cobertura 3G. Houve aumento expressivo nos investimentos nos últimos meses do ano pois, até setembro, a Oi contava com 442 localidades com 3G. No fim de dezembro, a Claro já tinha 1.116 municípios com 3G; a Telefônica/Vivo, 3,1 mil, e a TIM, 712.

O novo presidente da TIM, Rodrigo Abreu, especialista em infra-estrutura de redes, com conhecimento acumulado durante sua gestão na Cisco, disse, na teleconferência de resultados da tele italiana: "Qualidade de rede é minha prioridade pessoal, dado meu histórico". E reconheceu a necessidade de a TIM melhorar a qualidade da rede.

Os números refletem a situação das empresas. A TIM encerrou o primeiro trimestre com crescimento de 6% na base de assinantes, para 71,2 milhões de acessos. Entretanto, no mesmo período, 8,4 milhões de clientes trocaram de operadora, crescimento de 10,5% sobre o primeiro trimestre de 2012.

A Oi precisa da telefonia celular para gerar mais receita. O site de notícias on-line "Teletime" divulgou, em 24 de abril, citando dados da Anatel, uma queda do tráfego local do telefone fixo. No período de 2011 a 2012, em minutos cursados, caiu 15,6%. A queda na Oi, Telefônica/Vivo, CTBC e Sercomtel juntas foi de 22,6% em um ano. Nas chamadas autorizadas, onde se incluem GVT e Net/Embratel, o tráfego em 2012 registrou aumento de 3%.

Um analista que pede para não ser identificado fez a conta. A receita com tráfego local da Oi em 2011 foi em torno de R$ 1,5 bilhão. Já em 2012, com a redução do tráfego local, a estimativa é de que tenha caído para R$ 830 milhões.

Os pacotes com telefonia fixa e televisão por assinatura têm sido solução para segurar o cliente, mas a margem da TV paga é baixa com custo de programação alto. Banda larga fixa é outra aposta, mas com concorrência acirrada, assim como na telefonia celular.

Na Oi, a telefonia fixa com cobertura nacional tem peso, mas vem sangrando. A telefonia móvel pessoal responde por 32% da receita, daí a estratégia de crescimento da cobertura 3G.

A Oi não divulga números absolutos, mas informou ao Valor que trabalha com a perspectiva de aumentar, neste ano, em 44% os municípios brasileiros atendidos por rede 3G. Entre 2011 e 2012 o crescimento foi de 155%. O aumento da capacidade do volume de bytes ficou 13,7% maior no mesmo período.

Aliado ao momento de redução das margens no setor, investimentos elevados, o peso da dívida, especialmente no caso da Oi, diante dos bilhões de reais envolvidos, um dos desafios é manter o cliente fiel à operadora.

Os preços e ofertas das teles são similares. Daí a aposta entre analistas de que, além da qualidade como diferencial, o subsídio para o aparelho tem tudo para voltar a pesar na hora da escolha, recurso que já foi importante no passado.

Com smartphones cada vez mais atraentes - e caros -, nove entre dez usuários querem o mais moderno, mais amigável, fashion e com maior capacidade para vídeos. Alguém tem que pagar esse preço, e o cliente quer saber qual operadora oferece mais vantagens.



Veículo: Valor Econômico


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