Commodities esperam alta

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As exportações brasileiras de commodities agrícolas também têm sofrido com a retração da demanda internacional, embora menos que os produtos manufaturados. As perspectivas, porém, são de que essa situação venha a mudar, devido a fatores climáticos no exterior. Como reflexo da maior seca desde 1956 nos EUA, os preços dos principais ingredientes da ração animal, como o milho e o farelo de soja, estão em alta e isso deverá ter um efeito direto sobre a produção de carnes bovina, suína e de frango, como observa o Financial Times.

Exportador de todos esses produtos, o Brasil deverá se beneficiar com a elevação de suas cotações, podendo aumentar substancialmente a receita de divisas proveniente das vendas de commodities agrícolas, aumentando o saldo da balança comercial e, em decorrência, melhorando o desempenho das contas externas.

A gravidade da situação nos EUA já determinou um alerta do Departamento de Agricultura sobre o forte impacto da alta dos preços dos grãos sobre os das proteínas de origem animal. Segundo Larry Pope, presidente executivo da Smithfield Foods, "a carne bovina ficará cara demais para comer. A de suíno não ficará muito atrás, e a de frango está se aproximando rapidamente do mesmo patamar".

Em razão disso, crescem as oportunidades para o Brasil exportar para mercados normalmente abastecidos pelos EUA e até mesmo para vender produtos agrícolas para os EUA - o que é raro. De todos os produtos citados, o que vai melhor atualmente é o farelo de soja, o segundo maior item da pauta de exportações brasileiras, cujas vendas alcançaram US$ 11,939 bilhões no primeiro semestre deste ano, apresentando um crescimento de 35,54% em relação ao mesmo período do ano passado. Como importante componente de rações animais, esse produto tem ainda muito espaço para avançar.

Quanto ao milho, a safra 2011/2012 foi excepcional, produzindo um excedente exportável recorde, estimado pela consultoria Agroconsult em 12,2 milhões de toneladas, superando o maior nível obtido até agora (10,9 milhões de toneladas em 2007). Isso se deve, segundo a Abramilho, aos contínuos ganhos de produtividade dessa lavoura. As exportações do produto tradicionalmente aumentam no segundo semestre, e demanda não faltará, inclusive porque 40% da safra americana de milho será destinada à produção de etanol, de acordo com a programação em vigor de estímulo à produção de biocombustíveis, reduzindo o uso do cereal como ingrediente de rações animais. Diante da escassez da oferta no mercado americano, há a possibilidade de processadores de carne dos EUA adquirirem milho brasileiro para abastecer seus fornecedores.

Se, para esses dois produtos, as projeções são de continuidade de um avanço já captado pelas estatísticas, as perspectivas, com relação às carnes de frango, suína e bovina, são de recuperação. As exportações nacionais de carne de frango congelada ou fresca, embora tenham sido expressivas, carreando divisas no total de US$ 3,325 bilhões nos primeiros seis meses deste ano, apresentaram um decréscimo de 3,39% em valor em relação ao primeiro semestre de 2011.

As exportações de carne suína acusaram uma queda maior (6,52%) em faturamento, somando US$ 698,3 milhões. Contudo, as condições de concorrência no mercado internacional tendem a melhorar e é possível que outros países levantem suas restrições sanitárias ao produto nacional, a exemplo do que já fez a Argentina.

Talvez a melhor perspectiva seja para a carne bovina. No primeiro semestre deste ano, as vendas do produto pouco ultrapassaram US$ 2 bilhões, registrando uma queda de 1,71% em comparação com a primeira metade do ano passado. Como o gado no Brasil é criado extensivamente em pastos, utilizando pouca ração animal, o setor pode oferecer preços internacionalmente competitivos.

Em vista disso, são hoje maiores as chances de que as exportações agrícolas nacionais, que foram de US$ 95 bilhões em 2011, ultrapassem a meta de US$ 100 milhões, prevista pelo Ministério da Agricultura.

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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