Aumenta pressão por mudanças na aposentadoria

Leia em 4min 10s

Proposta que extingue o fator previdenciário deve entrar em discussão entre parlamentares e sindicalistas em agosto


Parlamentares e sindicalistas devem iniciar na quarta-feira pressões para que o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia, coloque em votação projeto que muda a aposentadoria. A proposta extingue o fator previdenciário - índice que reduz o benefício por tempo de contribuição de quem se aposenta cedo. A fórmula foi criada para estimular o adiamento do benefício, mas, na prática, isso não ocorreu. Os trabalhadores continuaram a se aposentar cedo, com valor menor, e optaram por continuar na ativa após receber o benefício.

Além disso, há um agravante: em razão do fator, é impossível para o trabalhador programar sua aposentadoria. O índice muda - para pior - todos os anos, com a evolução da expectativa de sobrevida da população.

Hoje, um homem com 60 anos de idade e 35 anos de contribuição tem fator 0,8668. Porém um trabalhador com 55 anos de idade e 30 de contribuição não terá esse mesmo índice em cinco anos. O fator será menor, porque a expectativa de sobrevida da população tende a aumentar, e seu impacto na aposentadoria, maior.

A pressão pelo fim do fator aumentou há cinco anos. O Congresso chegou a aprovar sua extinção, mas o então presidente Lula vetou a proposta, em 2010, por não haver um substituto para o índice. Agora, as discussões voltam-se para o chamado fator 85/95, que já foi discutido anteriormente, mas acabou descartado. Como o governo não aceita o fim puro e simples do fator atual, a fórmula voltou a ser cogitada.

A proposta é simples: aposentadoria integral quando a soma da idade do segurado com seu tempo de contribuição for 85, para mulheres, e de 95, para homens. O tempo mínimo de contribuição (30 anos para mulheres, e 35 para homens) seria mantido. A mudança valeria só para os trabalhadores da ativa.

O problema é que o governo, que já deveria ter apresentado uma contraproposta mais próxima do que considera viável do ponto de vista orçamentário, não conseguiu finalizar o texto até agora. Além disso, o Ministério da Previdência já fala que medidas provisórias podem emperrar as votações e levar a discussão para setembro.

O relator do fator 85/95, deputado Ademir Camilo (PSD-MG), entretanto, afirma que Marco Maia será cobrado para manter o acordo de votação até o dia 10 de agosto. “Temos acordo com as lideranças. Se o governo não apresentar um novo texto, pode fazer ajustes no nosso.” A CUT e a Força Sindical também prometem pressionar pela votação.
Palácio do Planato defende aposentadoria com idade mínima

O governo quer implementar a idade mínima para a concessão da aposentadoria por tempo de contribuição para novos segurados - aqueles que ainda não ingressaram no mercado de trabalho. Embora não tenha apresentado nenhum projeto formal, a equipe econômica do governo defende para a aposentadoria de futuros trabalhadores as idades mínimas de 65 anos (homens) e de 60 anos (mulheres). A proposta mantém o tempo mínimo de contribuição atual - 35 e 30 anos, respectivamente.

A ideia, polêmica, encontra forte resistência nas centrais sindicais, o que pode atrapalhar a votação das alterações na aposentadoria. “Para nós, a idade mínima é absolutamente prejudicial para a maioria dos trabalhadores”, disse Artur Henrique da Silva Santos, dirigente e ex-presidente da CUT. “É uma irresponsabilidade com as gerações futuras.”

A Força Sindical também diz ser contra. Para Julio Quaresma Filho, diretor-administrativo do Sindinapi (sindicato dos aposentados da Força), a medida prejudica os mais pobres, que precisam trabalhar mais cedo. O Planalto procura respaldo para a idade mínima no avanço da expectativa de vida da população.

No começo do mês, a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, disse ter lhe chamado “muito a atenção” o fato de a expectativa de vida da população ter aumentado mais de 20 anos desde 1960. “Hoje estamos em 73.” Também preocupa o Planalto o déficit da Previdência, que saltou 38,1% em junho, para R$ 2,757 bilhões.

As propostas não param aí. Fala-se ainda em idade mínima progressiva, que mudaria para 61/66 anos, e assim por diante, de acordo com o aumento da expectativa de sobrevida da população. Essa progressão poderia ser aplicada para trabalhadores da ativa, no fator 85/95. Ou seja, aumentar para 86/96, depois para 87/97 etc., até o fator 95/105 se a população envelhecer demais. Também há resistência. “O fator 85/95 é o máximo que a gente consegue suportar”, disse Artur Henrique, da CUT.

A pensão por morte também deve ser revista. O governo gastou mais de R$ 100 bilhões em pensões em 2011. Pode haver carência para a concessão e a limitação do valor da pensão em decorrência da idade e do número de filhos da viúva, por exemplo. Hoje, basta o segurado fazer uma contribuição para o cônjuge receber para sempre o benefício máximo, mesmo que case novamente. Além disso, distorções no cálculo fazem com que a pensão, muitas vezes, seja maior se o trabalhador morrer antes de se aposentar.



Veículo: Jornal do Comércio - RS


Veja também

Commodities esperam alta

As exportações brasileiras de commodities agrícolas também têm sofrido com a retra&cce...

Veja mais
Importação de componentes chineses divide opiniões no setor calçadista

Produtos entram no mercado brasileiro com valor abaixo do preço de custo e desequilibram concorrênciaEles c...

Veja mais
Canola deve ganhar mais espaço em áreas do Rio Grande do Sul

Produtores têm obtido rendimento médio de até 2,5 mil kg/haO Brasil verificou na safra do ano passad...

Veja mais
Indústria quer ficar perto do consumidor

A expansão da operação de varejo de companhias originalmente industriais tem, não de agora, ...

Veja mais
Agência recua e permite venda de medicamentos em gôndolas

Analgésicos estão entre as drogas afetadas pela nova decisãoDepois de questionamentos por leis esta...

Veja mais
Excesso de chuva em SP faz produtor de hortaliças usar mais agrotóxicos

Aumento da umidade e temperaturas amenas no outono e no inverno elevam os riscos de doenças em verduras e legumes...

Veja mais
Fibria e Klabin registram perdas no segundo trimestre

O mesmo dólar que ajudou no aumento de receita também impactou contabilmente os resultados de grandes pape...

Veja mais
Emergentes amenizam queda de lucro do Casino no semestre

A crise na Europa continua atrapalhando players do varejo, tanto que o grupo francês Casino acaba de ver as suas o...

Veja mais
Estrela, Mattel e Gulliver encaram novo perfil infantil

Fabricantes lançam mão de tecnologia, inovam portfólio e reforçam parcerias para atender con...

Veja mais