O dossiê de tendências do setor de alimentos The Future Report Food aponta uma inversão no comportamento entre as economias que estão acima e abaixo da linha do Equador. Segundo o levantamento do The Future Laboratory, agência britânica dedicada à pesquisa de consumo e marcas, a crise vem levando os consumidores dos Estados Unidos e da Europa a se reunirem mais sob o mesmo teto, na mesma mesa, em detrimento à vivência individual que reinou nas últimas décadas nesses mercados. Por outro lado, os latinos, sempre tão gregários, agora optam mais por morar sozinhos e vêm preferindo comer fora.
"A crise nas economias europeia e americana fez o consumidor rever seu orçamento e restringir alguns hábitos, como jantar fora", diz Paulo Al-Assal, presidente da Voltage, agência brasileira parceira do the Future Laboratory na pesquisa. "É comum que as pessoas cozinhem mais em casa e, na adolescência, retardem a sua saída do lar paterno ou, em alguns casos, até voltem a morar com os pais", diz. Em suma, é a "cultura do convívio" em resposta à recessão global.
Atentas a essas transformações, as multinacionais de alimentos e bebidas investem em embalagens "tamanho família" nos mercados em crise. No Brasil, cresce o número de opções para consumidores que moram sozinhos, os "single", sem deixar de lado as embalagens maiores. "A tendência dos lares solteiros convive com o aumento do poder de compra da população de baixa renda, o que leva os fabricantes a investir também nas versões 'tamanho família'", diz Al-Assal.
De acordo com a pesquisa, a indústria alimentícia mundial deve faturar US$ 5,9 trilhões em 2014, o que vai representar um crescimento de 37% sobre os cinco anos anteriores. Os segmentos de maior destaque serão os de alimentos funcionais, que devem movimentar US$ 30 bilhões (alta de 24%); de alimentos orgânicos, com faturamento de US$ 104,5 bilhões (aumento de 82%); e de congelados, com vendas de US$ 262 bilhões em 2014, um avanço de 20%.
"As tendências de praticidade e de alimentação saudável são as mais importantes nos próximos anos, independentemente de qual seja o mercado", diz o presidente da Voltage. Há algumas particularidades, porém, como em chocolates e confeitos. "Esse segmento está enxugando em mercados maduros, tendo em vista a preocupação com a obesidade e outros problemas de saúde, mas continua a crescer no Brasil", diz Al-Assal. No mundo, as vendas de chocolates e confeitos devem chegar a US$ 170 bilhões em 2014, uma alta de 12% sobre os cinco anos anteriores.
O mundo moderno gera outras tendências de consumo: o crescimento do mercado global de "snacks" (bolinhos, biscoitos, salgadinhos etc), que deve movimentar US$ 334 bilhões em 2015, como resultado de cada vez mais horas dedicadas ao trabalho e menos tempo para comer em casa ou na rua.
Veículo: Valor Econômico