Mercado do algodão deve se ajustar sem compras chinesas

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A redução das compras chinesas da pluma do algodão, indicadas nesta semana por Pequim para este ano, não deve afetar a quantidade do produto exportado pelo Brasil, mas já pressionam o preço da commodity, que deve passar a variar em patamares menores no curto ou médio prazo, segundo analistas e representantes da cadeia do algodão consultados pelo DCI. A China é o terceiro maior destino do algodão em pluma produzido no Brasil, absorvendo 18% das exportações brasileiras do produto.

Em dois anos, o governo chinês promoveu uma política agressiva de composição de estoques de algodão, quintuplicando o volume de suas reservas. De acordo com o Comitê Consultivo Internacional do Algodão (Icac), foi essa política que segurou as cotações da pluma no mercado internacional no período.

"Se o governo chinês desovar [os estoques de algodão] de forma atabalhoada, isso deprecia os preços. Se parar de comprar e desovar de forma ordenada vamos sentir os efeitos no médio prazo", diz Fernando Pimentel, diretor superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abtit).

As autoridades chinesas já indicaram que a redução das compras externas deve começar somente em agosto, período em que os produtores rurais dos Estados Unidos já terão decidido sobre a extensão de área que será cultivada com algodão. Portanto, até lá pode haver um ajuste global da oferta à demanda internacional menor, segundo Pimentel.

Sem efeito para o Brasil

O ajuste dos preços do algodão não deve impactar na receita com as exportações da pluma para o ano safra 2014/2015, pois a maior parte da produção que será colhida neste período e está sendo plantada agora já foi comercializada. "Para a temporada 2014/2015 não vemos um grande impacto em relação aos preços para nós, brasileiros", afirma Gilson Pinesso, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa).

Os cotonicultores fecharam contratos futuros do algodão, na média, entre 89 e 90 centavos de dólar por libra-peso. Ontem, a cotação da pluma na Bolsa de Nova York já precificava a mudança da demanda chinesa e girou o dia todo em torno dos 84 centavos de dólar por libra-peso. No mercado à vista, o algodão está sendo comercializado a 76 centavos de dólar por libra-peso.

Destinos do algodão brasileiro

Embora a China compre um quinto do volume de algodão que o Brasil exporta, a redução das compras chinesas não deve causar excesso do algodão nos estoques nacionais.

"Se a China não estiver comprando, outros mercados vão surgir, ou nós vamos tomar a decisão de reduzir a oferta e plantar no lugar mais soja e milho", diz o presidente da Abrapa.

Países como Coreia do Sul, Taiwan, Indonésia, Bangladesh e Vietnã podem absorver a pluma brasileira que deixar de ser comprada pela China. "O Brasil teria como encaixar o algodão em outros destinos asiáticos sem nenhum problema", diz o consultor Carlos Cogo.

As exportações da pluma neste ano devem alcançar 450 mil toneladas, de acordo com a estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgada ontem. Esse volume representa 13% do que os cotonicultores brasileiros devem produzir na safra 2013/2014, em torno de 4,1 milhões de toneladas.

O mercado interno não tem capacidade de absorver o algodão que deixará de ser vendido para a China, segundo o presidente da Abit. "A indústria têxtil vem sofrendo quedas de produção nos últimos três anos", lembra Pimentel, que não vê demanda nem para composição de estoques privados. "Após período errático na economia, o empresário fica mais cauteloso com relação à sua posição de estoques."



Veículo: DCI


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