Custo de comer fora de casa dobrou em 10 anos

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Gastos com refeição em restaurante subiram duas vezes mais que inflação


O custo de comer fora de casa sobe quase o dobro da inflação oficial no Brasil. Nos últimos 12 meses, o item alimentação fora do domicílio, que inclui almoço, jantar, lanche e café da manhã, teve alta de 9,51%, enquanto o aumento do custo de vida medido pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)ficou em 5,84%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em dez anos, o preço da comida em bares, restaurantes e lanchonetes mais que dobrou. A alta chegou a 134,5%, em média, ante uma inflação de 76,6% no período, o que representa aumento real (acima do IPCA) de 32,8%.

O estrago no orçamento atinge em cheio a classe trabalhadora, principalmente nas grandes cidades, onde se almoça mais fora de casa. Pesquisa da consultoria GfK indica que 51% da população come fora de casa e 16% dos brasileiros almoçam em restaurantes durante a semana.

O matemático Armando de Lima, técnico de operação da Petrobrás, costuma tomar café da manhã e almoçar na região da Avenida Paulista, em São Paulo, perto do escritório onde trabalha. Ele mora com a mulher e o filho em São Caetano do Sul, no ABC paulista, e gasta em média R$ 30 por dia com alimentação fora de casa. De setembro para cá, no entanto, percebeu um aumento de 10% a 15% nos preços.

"Estaria mentindo se dissesse que pesa para mim, mas acho um absurdo subir tanto o preço da alimentação, que é uma coisa básica. Se o cara não comer, ele não trabalha", afirma o analista da Petrobrás, que diz ter um salário "razoavelmente bom".

Nem mesmo o benefício do vale-refeição concedido pela maioria das empresas resolve a situação. É praticamente impossível comer numa cidade como São Paulo com apenas um tíquete.

"Sempre tenho que completar com dinheiro", diz o geógrafo Alexandre Ciuffa, funcionário da Secretaria de Planejamento do Estado de São Paulo, que recebe vale de R$ 15, mas gasta no almoço pelo menos R$ 25.

Comer fora de casa acaba sendo indigesto quando se compara o custo do alimento com o preço do prato. Num restaurante de classe média em São Paulo, 240 gramas de filé mignon acompanhado de fritas custa R$ 62,70, sem taxa de serviço. Na sexta-feira, o quilo do filé mignon podia ser comprado por R$ 29,89 em um supermercado na capital paulista. Na mesma loja, o quilo da batata saía por R$ 3,99.

Na avaliação do economista Nelson Barrizzelli, professor da USP e especialista em varejo, a alta dos preços tem a ver exclusivamente com o aumento da demanda. "Sempre que há um aumento de demanda, existe uma visão errada por parte das autoridades econômicas de que tivemos um choque de oferta." Para ele, o que tem havido é um "choque de demanda", provocado pelo próprio governo, que nos últimos cinco anos tem incentivado o consumo de todas as formas possíveis no País, em vez de incentivar o investimento.

"É só ir, na hora do almoço, a qualquer shopping center do Brasil, para ver como as praças de alimentação estão absolutamente apinhadas", argumenta. "É evidente que, numa situação como essa, os preços têm de subir, porque o dono do restaurante sabe que consegue melhorar suas margens, uma vez que o consumidor, dentro de certos limites, vai continuar comprando."

Altos custos. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em São Paulo, Joaquim Saraiva, a demanda está maior, mas o gasto médio diminuiu. "As pessoas passaram a pedir pratos mais baratos, a trocar o suco por água mineral e deixar de comer sobremesa."

Os próprios restaurantes, segundo Saraiva, tiveram de adaptar seus cardápios, tirando produtos mais caros, para não perder clientela. Ele atribui os preços elevados das refeições ao alto custo de mão de obra, logística e aluguel, além da alta dos próprios alimentos.

A situação é complicada porque um terço dos gastos do brasileiro com comida é destinado à alimentação fora de casa, mostra a Pesquisa de Orçamento Familiar, do IBGE, referente a 2008/2009. O porcentual das despesas com alimentação fora de casa, no total das despesas das famílias, cresceu de 24,1%, na pesquisa anterior (2002/03), para 31,1%.


Veículo: O Estado de S.Paulo


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