Consolidadas, as cooperativas do sul querem brigar no mercado de alimentos
Símbolos da modernização do agronegócio da região sul do país, as cooperativas agropecuárias estão diante de um novo desafio: diversificar a produção e adquirir escala suficiente para fazer frente às grandes multinacionais de alimentos – cujo mix de produtos abarca desde pratos prontos até sucos e bebidas processadas. Do Paraná ao Rio Grande do Sul, as grandes cooperativas já não encaram mais a industrialização e a profissionalização da gestão como diferenciais competitivos. Para elas, esses são pré-requisitos básicos, quase elementares para quem está disposto a abocanhar uma parte do gigantesco mercado de alimentos.
“Há uma concorrência muito severa nesse setor, gerada pelos benefícios tributários que outras empresas têm para entrar na região sul”, aponta Calos Poletto, presidente da Cotrijuí– Cooperativa Agropecuária e Industrial, a maior do setor no Rio Grande do Sul. Hoje, não basta ter acesso facilitado à matéria-prima. Para ser competitiva, a cooperativa precisa ter escala de vendas, qualidade percebida e, é claro, preço atraente. “Há mais de 12 anos, insistimos no reforço da marca e na eficiência. Quando não se é competitivo pelo preço, se oferece qualidade”, garante. Forte na produção de grãos, especialmente do complexo soja, a Cotrijuí busca a diversificação em duas frentes: insumos, rações e sementes (que já representam quase 17% do faturamento) e carnes (13%). Além disso, aposta fortemente no crescimento do mercado de leite e derivados. A Cotrijuí é sócia da CCGL, empresa focada na produção láctea, para quem entrega toda a sua produção de 140 mil litros por dia. “Estamos quase no limite de nossa capacidade, mas ela poderá ser duplicada caso a indústria demonstre condições de absorver esse crescimento. Já temos um projeto de expansão”, revela Poletto.
Maior de Santa Catarina, a Cooperativa Central Aurora Alimentos é dona de um dos mais bem-sucedidos casos de construção de marca no setor. Já são 750 produtos alimentícios distribuídos entre as linhas Aurolat, Nobre e Peperi. As marcas não só agregam valor aos produtos finais como ajudam a posicioná-los nas gôndolas dos principais supermercados do país – o que garante demanda para produtores associados. Diariamente, a Aurora abate 14,5 mil suínos e 600 mil aves. E a intenção é expandir esses números. Há pelo menos duas décadas, a cooperativa busca novos associados fora das fronteiras de Santa Catarina – hoje, recebe insumos do Rio Grande do Sul, Paraná e até de Mato Grosso do Sul. “O grande desafio é originar grãos suficientes. A industrialização dos produtos vem crescendo ano a ano e nós temos a necessidade de nos socorrer com os grãos de mercados exportadores, como é o caso da região centro-oeste e do Paraguai”, explica Neivor Canton, vice-presidente da Aurora.
O dobro em cinco anos
A industrialização de alimentos traz a reboque uma série de oportunidades de expansão – que, somadas, tornam ainda mais importante o agronegócio para a economia da região sul. A paranaense Coamo, maior cooperativa da América Latina, administra hoje um ativo total de R$ 1,1 bilhão apenas com a Credicoamo – braço financeiro que ajuda a financiar as compras de seus associados. A rentabilidade das operações permite que a cooperativa faça os investimentos necessários na modernização e ampliação de suas instalações. “Estamos duplicando a capacidade da nossa planta de gordura vegetal, que é importante para que possamos atuar nos mercados que demandam esse tipo de produto – como sorvetes, alimentos fritos etc”, conta Aroldo Galassini, presidente da Coamo. A cooperativa também pretende construir oito novas unidades de armazenamento, sendo cinco no Paraná e outras três em Mato Grosso do Sul. Só em 2011, a Coamo faturou o equivalente a R$ 5,8 bilhões – e a perspectiva é de dobrar esse número nos próximos cinco anos.
À medida que avançam nesse processo de modernização, porém, as cooperativas sentem na pele os mesmos problemas que afligem as grandes indústrias. Canton, da Aurora, reclama da falta de infraestrutura ferroviária na região como um dos principais entraves à competitividade dos negócios. “Essas dificuldades comprometem nossos planos de abertura de novas plantas no sul”, revela. A existência de malha ferroviária ajudaria as cooperativas da região a conquistar mercados, tal como acontece com a Cotrijuí – que utiliza os trilhos para comercializar a maior parte de sua produção de arroz nos Estados do sudeste. “Nos maiores centros comerciais do sul, que são as regiões metropolitanas, tem muita produção e indústria. Então nós industrializamos em Dom Pedrito [próximo à fronteira com o Uruguai], levamos de trem e vendemos no sudeste”, explica Carlos Poletto.
Veículo: Portal Terra