Contrariando o forte movimento de fusões e aquisições que tem gerado negócios milionários no Brasil, a farmacêutica nacional EMS adotou uma estratégia de expansão mais conservadora, focada na construção de fábricas (projetos "greenfield"), em um investimento de R$ 600 milhões.
Fontes ouvidas pelo Valor afirmam que o controlador do grupo, Carlos Sanchez, também está estruturando as empresas controladas pela holding EMS - Legrand, Germed, EMS e Nova Química (antiga Mepha) - para que elas estejam preparadas, em um futuro indefinido, para uma associação estratégica com fundos ou até mesmo ir à bolsa. Procurada, a EMS nega essa estratégia.
A decisão do grupo de promover o crescimento orgânico tem razões econômicas. As recentes aquisições de ativos farmacêuticos no país estão sendo fechadas a preços estratosféricos - até 20 vezes o Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). A empresa está investindo cerca de R$ 600 milhões na construção de três fábricas. Com esse valor, o empresário compraria apenas um ativo de médio porte nesse setor no país.
A EMS já começou a erguer uma unidade em Manaus, na região da Zona Franca, para a produção de sólidos (comprimidos). A estratégia é avançar no Norte do país, onde a companhia ainda tem pouca participação. A expectativa é de que essa unidade entre em operação até o fim de 2013. Outros dois projetos também já saíram do papel. Em Brasília, a EMS projeta uma fábrica voltada para oncologia, com operação também prevista para o ano que vem, e uma unidade menor em Jaguariúna (SP), para produzir suplementos alimentares. Ao lado da sede do grupo, em Hortolândia (SP), a empresa está concluindo uma unidade para produção de embalagem de medicamentos sólidos, que deve ser inaugurada mês que vem.
Sem alarde, a companhia contratou dois executivos para dar prosseguimento aos seus planos de expansão. Mário Nogueira, ex-Mantecorp, já responde pela vice-presidência corporativa, análise de riscos e relações institucionais do grupo, e Jorge Coelho, ex- Medley, controlada pela francesa Sanofi - principal concorrente do laboratório nacional, é consultor nos projetos de expansão da companhia. A companhia deverá contratar um executivo que ocupará a vice-presidência de novos negócios.
O Valor apurou que o controlador da empresa aposta no crescimento maior de duas de suas quatro empresas controladas - a Germed e Legrand. Essas duas companhias comercializam, assim como as demais empresas do grupo, medicamentos genéricos e de prescrição médica. Nos últimos anos, contudo, a Germed e Legrand estão se destacando em vendas. A intenção, segundo as mesmas fontes, é que essas empresas estejam preparadas para uma eventual abertura de capital, se assim seu controlador desejar. Ao Valor, Mário Nogueira, recém-contratado executivo da companhia, afirmou que esses planos não estão no radar do grupo no curto e médio prazo.
Para este ano, a EMS deverá encerrar com faturamento entre R$ 2,3 bilhões a R$ 2,5 bilhões. Se confirmado, será um crescimento entre 20% e 25% sobre o ano anterior. "A companhia saiu de uma receita de R$ 600 milhões há seis anos para até R$ 2,5 bilhões [estimativa] neste ano", disse Nogueira.
A companhia nacional ocupa a posição de terceira maior farmacêutica da América Latina. Em 2010, era a sétima. Há pelo menos dois anos, a EMS vem estudando expandir seus negócios além do mercado farmacêutico. O grupo criou a companhia ACS, voltada para o mercado imobiliário, que analisa áreas para a construção de condomínios de casas no interior de São Paulo. Outras divisões de negócios estão sendo estudadas por Carlos Sanchez, mas nada foi definido ainda.
Neste ano, o empresário aderiu a um projeto maior, apoiado pelo governo federal, que foi a criação da Bionovis. Essa empresa é resultado de uma joint venture entre EMS, Aché, Hypermarcas e União Química, para produzir medicamentos biológicos. Cada empresa terá 25% de participação e o BNDES dará suporte financeiro para expansão da nova companhia.
Veículo: Valor Econômico