Importador busca alternativa para driblar o aumento do dólar

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Descontrole cambial. Com a moeda norte-americana cotada acima de R$ 3, empresários passam a repensar a forma de abastecer seus estoques, evitando a falta de produtos no ponto de venda

 

 

O temor do dólar cotado acima de R$ 3 se concretizou na última semana no Brasil e, com ele, trouxe a necessidade de ajustes operacionais para quem depende dos importados nos pontos de venda. Como saída, importadores e varejistas buscam na substituição de fornecedores a ação que minimizará os efeitos negativos do descontrole cambial.

Mas, seja qual for a iniciativa, o maior prejudicado será o consumidor, que já encontra itens oriundos de outros países 10% mais caros nas lojas. Outra medida, essa mais específica aos importadores que abastecem supermercados e empórios, está no aumento de volume da compra de itens de grandes saídas, diminuindo a quantidade de importações ao ano e a descontinuidade de algumas categorias. "Já estou em busca de uma nova linha de importados que custem de R$ 10 a R$ 20", afirmou o diretor da Latinex - importadora de alimentos premium -, Eduardo Moraes.

Outra medida adotada por Moraes é potencializar as categorias mais rentáveis e descontinuar os produtos que não gerem tanto lucro à Latinex. "Posso afirmar também que vamos procurar fornecedores com produtos de qualidade para atender os consumidores emergentes que não querem perder o seu poder de compra", argumentou ele.

Por atuar em um segmento de primeira necessidade (alimentos), o dólar acima dos R$ 3,05 cotação da última sexta-feira -, pode trazer um efeito "marginal" positivo aos importadores. "Isso pode trazer a diminuição da concorrência, o que nos dá a perspectiva de ter maior market share este ano", disse Moraes, e acrescentou: "É preciso sacrificar as margens para ganhar mercado em um ano complicado no mercado nacional".

O diretor financeiro da importadora de bebidas BeerManiacs, Carlos Eduardo Motter, acredita que o momento ainda não é dos piores, pelo menos para eles. "Ainda estou trabalhando com produtos em estoque comprados com dólar mais baixo que o atual", disse Motter.

Além do dólar

O executivo afirmou que no ano passado já trabalhava com uma perspectiva negativa em relação a moeda norte-americana. "O patamar estimado no ano passado era de R$ 2,90. Talvez eu não tenha sido pessimista o suficiente", brincou.

Para ele, ir além do dólar para fazer com que a empresa tenha lucro neste ano é fundamental. "É hora de renegociar com os nossos fornecedores e eles não estão restritos as marcas de bebida. Temos que comparar preço de frete, ainda mais com a alta do combustível anunciada", disse. No ano passado, só o frete, sofreu reajuste superior a 15% no País.

"Hoje, além de se preocupar com a cotação do dólar é preciso traçar medidas de redução de custos operacionais e logísticos", disse o executivo ao enfatizar que, outro gargalo à empresa está na tributação das cervejas. No caso das marcas trazidas ao País pela BeerManiacs, uma forma de otimizar o frete está na importação de mais um contêiner. "Cotamos em diversas empresas e pegamos o transporte apenas uma vez", explicou Motter.

Outras ações estipuladas pela empresa para ter um 2015 menos conturbado foi a otimização do nível de estoque reduzindo os custos com armazenagem; a procura por rótulos de maior giro e o enxugamento do portfólio ofertado aos seus clientes. "Nós sentimos a puxada de freio dos nossos clientes em 2014. Eles estão preocupados com a situação política do País e isso os faz rever os estoques também."

Precificação


Outra preocupação dos empresários está no repasse dos preços. Mas, para alguns deles, fazer o reajuste integral está fora de cogitação. "As decisões sobre precificação são tomadas tendo em vista prazos e não dependem de movimentos - de alta e baixa - pontuais do dólar. Quando os produtos chegam em nossa casa, verificamos nossos estoques e fazemos um preço médio entre o custo atual e o antigo. Chegando-se a essa média, aplicamos nossa margem de lucro", disse a diretora da Casa Santa Luzia, Ana Maria Lopes. A executiva explicou que desta forma, "alivia o impacto da alta de preços grande para o cliente. Além disso, trabalhamos com estoques altos."

Além da precificação dos produtos, os empresários que atuam com importação começam a deixar de comprar artigos supérfluos, pois são os primeiros cortados pelos varejistas. "Os equipamentos portáteis de massagens e correlatos foram as primeiras categorias a apresentarem queda nos pedidos no segmento de farmácias", afirmou ao DCI, o fundador da Supermedy, Albert Kribely.

O executivo, que tem na China o seu principal fornecedor, explicou que as negociações estão mais penosas, uma vez que os chineses 'são duros na queda' e não abrem mão de seu lucro. "Eles não gostam de negociar e mesmo explicando a atual conjuntura, a maioria deles não diminui o preço dos produtos", disse Kribely.

A intransigência do maior fornecedor da Supermedy , faz com que o repasse de preços seja inevitável e o maior afetado é o consumidor. "O câmbio está 35% mais caro, com isso o repasse da Supermedy ao varejista foi de 20%. Quando o produto chega na ponta da cadeia [consumidor], ele está no mínimo, 12% mais caro", explicou ele.

Desabastecimento

No caso da Nutty Bavarian, por trabalhar com commodities o problema está em perder fornecedores. "Como exportar será mais rentável, os nossos fornecedores podem nos deixar de lado", explicou o diretor da rede, Daniel Miglorancia.

Para ele, o mais correto a se fazer neste momento é dividir a conta pesada do dólar por três. "O consumidor não pode arcar com tudo sozinho. Acredito que essa conta deve ser dividida por três: varejista, fornecedor e consumidor", disse.

Hoje, a rede conta com 112 unidades e mesmo com o cenário conturbado tem como projeção novos 30 pontos de venda. "O maior empecilho para abertura de lojas está nos shopping centers que estão cobrando de forma exagerada o preço do metro quadrado", concluiu ele.

Para o gerente do departamento de pesquisa da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Rodrigo Mariano, não existe a possibilidade de o supermercadista sofrer com a falta de artigos importados em suas lojas.

"Estamos falando de uma classe média que não quer parar de consumir. Eles experimentaram coisas diferentes e não querem retroceder, então, mesmo com o aumento do preço dos importados, haverá procura por esta categoria", disse.

Desta forma, o supermercadista mantém a compra dos insumos, evitando ruptura e fica a cargo do consumidor migrar de categoria ou não. "Eles podem comprar, por exemplo, azeites nacionais ao invés dos importados. O que não se pode é deixar de ofertar os produtos."



Veículo: DCI


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