O humor dos empresários em relação ao desempenho do comércio neste início de ano foi o principal aspecto negativo que recaiu sobre a confiança da atividade em fevereiro. Juros altos, crédito mais caro e elevado grau de endividamento das famílias têm diminuído o potencial de vendas e desestimulado o setor
De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec) recuou 2,5% em fevereiro ante janeiro, ao menor patamar já registrado na série, iniciada em março de 2011.
"Certamente se houvesse dados mais antigos, ainda seria o mínimo histórico", afirmou o economista da CNC Fabio Bentes. "A insatisfação com a economia continua ocorrendo numa escala muito grande. Agora, o que se somou a isso foi a percepção sobre o setor. Considerando o que foram os meses de janeiro e fevereiro (em termos de vendas), os fatores não jogam a favor do comércio".
No mês passado, quatro em cada cinco empresários do setor (79,8%) consideraram que a economia piorou, de acordo com a entidade. Além de todas as dificuldades relacionadas ao crédito, o "tarifaço" promovido neste início de ano, com aumentos nos preços da energia elétrica, de transportes coletivos urbanos e dos combustíveis, contribui para essa percepção, pois "rouba" potencial de consumo das famílias, disse Bentes.
"O orçamento das famílias está bastante pressionado", afirmou o economista. "Além disso, o tripé mercado de trabalho, crédito e inflação está muito fragilizado neste início de 2015", observou.
A principal reação dos empresários diante deste cenário é reduzir investimentos, tanto em melhorias do estabelecimento quanto em mão de obra. Para 47,1% dos entrevistados, o realinhamento do setor ao menor ritmo de crescimento das vendas implica menos contratações.
Inflação - A única boa notícia é que a inflação de bens comercializáveis está cedendo, ajudada pela menor demanda das famílias, e pode arrefecer ainda mais. Hoje, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou que o Índice de Preços ao Produtor (IPP) recuou 0,13%. O indicador é um termômetro dos preços na porta de fábrica. Com esse comportamento da inflação para o atacado, Bentes acredita que os preços no varejo também podem desacelerar.
No ano passado, o varejo registrou inflação de 6,1%, de acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE. Para este ano, a CNC projeta aumento de 5,0%. ""Abre-se espaço para alguma recuperação eventual do varejo, embora claramente não em 2015. Não tem espaço no potencial de consumo das famílias hoje para ampliar o consumo, mesmo com a inflação baixa", afirmou Bentes.
Para o economista da CNC, as vendas devem reagir apenas no segundo semestre deste ano. Mesmo assim, o comércio deve ter expansão entre 1% e 1,5% este ano - o que, se confirmado, será o pior desempenho em 12 anos. (AE)
Veículo: Diário do Comércio - MG