Indústria derruba atividade no Sudeste e no Nordeste

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No Sudeste, assim como no Nordeste, o que freou a economia no terceiro trimestre foi a indústria. A produção de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo fechou o primeiro trimestre do ano com resultados positivos, tendência revertida nos três meses encerrados em setembro. A indústria paulista, que responde por 40% de todo o setor nacional e é a mais diversificada do país, cresceu 2,1% nos primeiros três meses do ano em relação ao trimestre anterior na série livre de sazonalidades, ritmo que caiu para retração de 1,3% no trimestre encerrado em setembro.

A indústria do Sudeste foi a grande surpresa negativa de 2011 para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). O economista-chefe da instituição, Rogério César de Souza, esperava que a maior diversificação industrial da região segurasse seus resultados, o que acabou não acontecendo. "Essa é a nossa maior preocupação", diz.

Souza observa que as férias coletivas dadas por montadoras ajudaram a derrubar a produção nos Estados do Sudeste no terceiro trimestre do ano, mas que a indústria da região - que responde por 60% da nacional - também sofre com questões conjunturais. "A indústria foi o primeiro setor a ser afetado pelo movimento de desaceleração da economia brasileira, mas tem questões que são só dela, como a concorrência dos importados. Isso foi mais decisivo para os resultados deste ano."

A indústria nordestina, por outro lado, amenizou sua retração ao longo do ano, mas continua no negativo. Iniciou o primeiro trimestre com queda de 1,8% na comparação com o período anterior e, nos três meses encerrados em setembro, diminuiu o recuo para 1,1%. Esse movimento não pode ser considerado uma melhora, avalia o economista-chefe do Iedi. Nos nove primeiros meses de 2011, a produção nas fábricas nordestinas acumula retração de 5,2%.

Os principais setores da concentrada indústria do Nordeste - petroquímica, têxtil, calçados e couro - tiveram desempenho sofrível neste ano. Entre janeiro e setembro, a queda na produção de têxteis chega a 23,5% e, em calçados e artigos de couro, a 14%, ambos resultados em relação aos mesmos nove meses de 2010.

Nesses dois segmentos, a concorrência dos produtos chineses explica os péssimos resultados, enquanto no primeiro paradas técnicas programadas e não programadas em refinarias encolheram a produção, afirma André Magalhães, economista da consultoria nordestina Datamétrica. Nos químicos, a produção nacional também apanha da importada, lembra Souza, do Iedi, enquanto nas refinarias de petróleo e álcool, a produção oscila de acordo com "decisões estratégicas" do setor, pautadas pelos preços no mercado.

Mesmo com a recessão industrial, o emprego melhorou na região ao longo do ano. O saldo de vagas formais criadas no Nordeste, que foi negativo em 9,5 mil postos no primeiro trimestre, pulou para 89,5 mil no segundo e aumentou novamente no terceiro, para 207,5 mil. Os Estados do Sudeste, por sua vez, diminuíram sua participação no total de empregos com carteira criados no país, de 59% no primeiro trimestre do ano para 39% no terceiro.

O emprego formal começou o ano no vermelho no Nordeste devido à antecipação da safra de cana-de-açúcar, que tem efeitos negativos sobre o mercado de trabalho e a produção industrial regionais no trimestre seguinte, lembra o economista Alexandre Rands, também da Datamétrica.

Como a safra 2011/2012 - que já começou a ser colhida - deve bater recorde, a criação de vagas com carteira assinada se recuperou neste trimestre, explica ele. A previsão do IBGE é que 73,5 milhões de toneladas de cana sejam produzidas no Nordeste na safra atual, 6% a mais do que na passada. O Estado com geração mais expressiva é justamente o que estava pior no início do ano, onde o setor sucroalcooleiro tem peso grande: Pernambuco. Nada menos do que 59,8 mil vagas foram criadas no terceiro trimestre do ano, com destaque para a indústria de transformação pernambucana, cujo saldo líquido entre contratações e demissões foi positivo em 27,1 mil postos no período.

Outro fator que impulsiona as contratações no terceiro trimestre é a preparação do setor de comércio e turismo para as férias, observa Rands. "No fim do ano, a geração de postos não será mais tão forte porque o comércio da região está com perspectiva de crescimento, mas pouco", pondera o economista. (AM)


Veículo: Valor Econômico


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