Preço é visto como o fator decisivo da compra

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A classe C, que já responde por 71% do consumo do País, tem-se adaptado às novas tecnologias e ao padrão social de nova classe média de maneira confortável, mas o poder aquisitivo maior não impede que os consumidores pesquisem os melhores preços e prefiram qualidade moderada a modernidade, o que pode ser um desafio para os empresários.

"Talvez a classe C não se interesse por tecnologias que deixem o notebook mais leve, por exemplo, mas ela continua com intenção de comprar o eletrônico que tenha um preço mais acessível e características funcionais", diz a gerente de Negócios no Varejo da GfK CR Brasil, Simone Aguiar.

Outro fator que contribui para que isso aconteça é apontado por Oliver Römerscheidt, gerente da GfK. "Com o boom imobiliário, o aumento da venda de produtos de linha branca foi impulsionado pela classe C. O preço influencia porque enquanto as classes A e B procuram por produtos de tecnologia avançada, a classe emergente quer arrumar e mobiliar a casa", aponta.

A economia estável permite que a classe emergente se lance ao consumo dos bens duráveis, itens que, de acordo com a GfK, movimentaram no Brasil, de janeiro a agosto de 2011, cerca de R$ 49 bilhões, crescimento de quase 10% ante os dados de 2010.

Nas 52 categorias de produto consideradas pela GfK -como portáteis, linhas branca, marrom, informática e telecom , os eletrônicos puxam a alta do setor embalados pela ampla venda de televisores de tela fina, smartphones e notebooks.

Somente no Brasil, a alta dos eletros foi puxada pelo crescimento do poder de compra da Região Nordeste. "O varejo está otimista com o nordeste, a região que mais contribuiu para o crescimento total do País, com 2,6%", afirma Simone. Isto porque três em cada 10 pessoas que ingressam na nova classe média são nordestinas, de acordo com o Data Popular.

Segundo a analista, embora o ritmo de expansão esteja diminuindo gradativamente, o desempenho do varejo brasileiro ainda é destaque entre as principais economias mundiais. Na Alemanha, por exemplo, o crescimento foi de apenas 0,2%, enquanto no Reino Unido as vendas subiram 1,5%, e em Portugal, caíram 6,2%. Nos Estados Unidos o avanço foi de 7,9%, ainda que sobre uma base de comparação bastante tímida.


Categorias

Não é à toa que televisores de tela plana, smartphones e notebooks estão entre os objetos mais cobiçados pelos consumidores. De acordo com a GfK, estes itens foram responsáveis por 23% do faturamento de linha marrom no País nos oito primeiros meses do ano. O segmento de televisores teve alta de 18,5%, o de smartphones, 12,8%, e o de notebooks, 13,1%. O destaque maior fica por conta dos lançamentos de TI, que deverão representar 30% do faturamento este ano.

"Neste ano, o consumo de televisores de 3D aumentou 690%, frente ao avanço de 258% dos tablets e de 72% dos smartphones", explica Aguiar. A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio) estima que neste Natal a intenção dos brasileiros de comprar notebooks e celulares inteligentes deve ficar só atrás de itens de vestuário, representando 11,6% e 11,3%, respectivamente. "A tendência é de que a tecnologia 3D seja cada vez mais difundida em televisores, e o segmento deve sofrer maior erosão de preços com o aumento da concorrência. A baixa no preço das novas tecnologias e o interesse do consumidor por novidades também deverão intensificar a venda dos aparelhos em 2012", analisa o gerente Oliver Römerscheidt.

O especialista acrescenta que haverá diferença em outras regiões: "No nordeste do Brasil, a intenção de compra de televisores de tela plana deve aumentar consideravelmente nos próximos seis meses", comentou ele. Segundo Römerscheidt, o País tem mercado parecido com o do México nos itens de linha branca. A categoria cresce 11,5% e os refrigeradores continuam sendo os mais significativos em participação de faturamento: 41,6%, de janeiro a agosto deste ano. "No ano que vem, o crescimento deve ser moderado nas categorias mais saturadas, como as de refrigeradores e liquidificadores", diz o analista.

E-commerce

O aumento generalizado do poder aquisitivo da população, a disseminação e as melhores condições do crédito à pessoa física e o fácil acesso aos computadores - com maior penetração nas classes C, D e E - são os principais incentivadores para o crescimento do varejo eletrônico (e-commerce) em 2012. A previsão do mercado, é que haja uma alta de 30% das vendas on-line para o ano que vem, já que o comércio eletrônico deverá faturar R$ 20 bilhões em 2011, uma alta de 35% se comparado aos R$ 14,8 bilhões em 2010.

A novidade não é a chegada da classe C ao varejo digital, mas a força por ela representada no mercado on-line, como aponta a GfK. "Apesar de apresentar déficit de 57% do valor gasto nos sites, a classe emergente compensa as transações pelo maior volume de vendas e representa uma parcela significativa do varejo da Web", diz Simone Aguiar, referindo-se ao tíquete médio estipulado em R$ 205 para a Classe C e em R$ 322 para A e B, em transações digitais. "Com esse aquecimento econômico, o anonimato também é uma vantagem para as vendas na Internet. Um consumidor da classe C pode sentir-se constrangido ao entrar em uma loja sofisticada, e na Internet isso não acontece", aponta Simone.

De acordo com a consultoria e-Bit, o número de brasileiros conectados que utilizam a Internet para consumo deve aumentar 30%, chegando a 28 milhões de compradores on-line. Pedro Guasti, diretor-geral da e-Bit, diz que "o gasto médio das famílias com renda de até R$ 3 mil é de R$ 321 por mês". O cenário é tão otimista que daqui dois anos, estima-se que o comércio eletrônico irá movimentar R$ 40 bilhões, o dobro do previsto para este ano. Os clubes de compra também são essenciais para o crescimento do varejo eletrônico.

A GfK prevê que em 2011 as compras coletivas alcançarão R$ 1 bilhão de faturamento; o movimento em 2010 foi de aproximadamente R$ 170 milhões.


Os desafios de conquistar o novo consumidor

"A mesma mulher que compra uma bolsa Louis Vuitton e paga R$ 21 mil, também compara os preços da margarina na hora de comprar no mercado". A afirmação é do diretor-geral da GfK CR Brasil, Paulo Carramenha. "Não se pode esperar estabilidade de comportamento para todas as ações do consumidor", completa. -

Os avanços tecnológicos, os diferentes estilos de vida impulsionados pela economia, a migração de classes e a entrada da mulher no mercado de trabalho são alguns dos fatores que transformam o perfil do novo consumidor. "Hoje em dia o consumidor é bombardeado de informações, o que pode alterar o seu comportamento", explica Carramenha.

"O consumidor está mais consciente às informações que o ajudam a tomar decisões, vê com maior atenção as mensagens publicitárias e está disposto a experimentar, o que faz com que não seja tão fiel às marcas", diz o diretor.

Para Carramenha, independentemente do público, é preciso construir valores. "Os valores são criados na mente das pessoas e fazem com que elas não decidam pelo preço, mas pelo valor percebido e atribuído ao produto. Quando ele [o consumidor] acha que vale a pena, não vai se importar em pagar mais", e continua: "75% dos produtos líderes no Brasil são mais caros", conclui.


Veículo: DCI


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