Lojas populares projetam faturamento de R$ 9 bi em 2011

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O processo de distribuição de renda, que permitiu que nos últimos 18 meses 30 milhões de pessoas das classes D e E tenham migrado para a classe C, contribui para os bons negócios no mercado popular. Somente neste ano, a previsão é de que as 50 mil lojas de produtos a partir de R$ 1,99 espalhadas pelo País faturem juntas em torno de R$ 9 bilhões.

O porte destas vendas é tão grande entre consumidores das classes C e D que, apesar dos preços baixos dos artigos, a escala de volume garante a rentabilidade dos lojistas. “Em 2010, o setor teve crescimento de quase 11%, mas para este ano estamos calculando um índice mais modesto, em torno de 4% a 5%”, estima o empresário Eduardo Todres, idealizador e promotor da Feira 1 a 99 Brasil, evento que reúne lojistas, fornecedores, distribuidores e importadores que atuam no varejo popular, e que ocorre semestralmente em São Paulo. Todres atribui a baixa da perspectiva à crise internacional, mas admite que a desvalorização do real em relação ao dólar também influencia. Não que haja pessimismo com a perda de estabilidade, pelo contrário. “A demanda de investidores interessados em entrar nesse varejo é enorme”, afirma Todres, explicando que a oscilação do câmbio pode, sim, ser um aliado do setor.

Faz sentido. Se atualmente os preços de produtos importados estão mais altos, o mesmo não ocorria em 1995, ano em que surgiram as primeiras lojas com artigos de R$ 1,99 no Brasil. A estabilidade da moeda nacional naquele período permitiu que estes estabelecimentos se mantivessem por muito tempo negociando 100% de produtos importados com preço único. “O mercado nacional avançou muito em anos de alta do dólar, depois os importados foram ganhando espaço novamente”, destaca Todres. Atualmente, os produtos estrangeiros representam cerca de 65% dos itens comercializados pelas lojas com preços a partir de R$ 1,99. Destes, 80% são chineses.

Os estoques dos lojistas são formados com aquisições junto a fornecedores com linhas para o comércio de preço mais baixo, mas o varejo popular também se abastece de produtos arrematados em leilões das indústrias, que usam deste canal para não ficar com os artigos encalhados após os períodos de compras sazonais do comércio. Utilidades domésticas, roupas, brinquedos, materiais escolares, ferramentas, artigos para festas, entre outros, podem ser encontrados por valores mínimos. E, segundo os lojistas do segmento, a qualidade é a mesma que a de itens encontrados no restante do varejo.

“O mercado de R$ 1,99 consolida-se como o poder de compra dos consumidores de todas as faixas de renda. É a grife de produtos de boa qualidade e melhor preço”, conceitua Todres, que também é consultor de varejo popular. Ele destaca que os comerciantes ofertam todos os tipos de produtos, além dos de utilidades domésticas, mas também os sazonais, voltados ao Dia das Crianças, festas juninas, Páscoa e Natal. Isso porque de uns anos para cá os consumidores passaram a exigir mais variedade com os diferenciais do mercado tradicional.

“O consumo popular está ficando mais sofisticado, as pessoas agora têm mais condições de ter demandas mais qualificadas. Em vista disso, nos últimos oito anos, os artigos melhoraram bastante”, opina o consultor Claudio Felisoni, presidente do conselho do Provar e do Ibevar. Segundo ele, a utilização do preço quebrado é outro grande chamariz deste mercado.
Perfil empreendedor do brasileiro impulsiona a criação das empresas

Diariamente, o consultor de varejo popular Eduardo Todres recebe pedidos de orientação de empreendedores interessados em fazer parte deste mercado. “Ter o próprio negócio já é da natureza do brasileiro”, avalia.  O consultor, que também é fornecedor para o comércio barateiro, acredita que o investimento em lojas com produtos a partir de R$ 1,99 tem tudo para dar certo. “Basta ter bom ponto comercial, muita disposição para trabalhar e ter disponível um capital de giro de pelo menos R$ 30 mil a R$ 40 mil para iniciar atividades”, resume.

Entre os lojistas, o contentamento confirma a teoria de Todres. “A grande vantagem de trabalhar com produtos de preço baixo é que os clientes saem muito satisfeitos, e alguns fazem verdadeiros ranchos”, diz a proprietária do Mundo do Real, Cátia Cilene Konnorate. Há seis anos, ela abandonou o emprego em uma fábrica de compressores no estado de Santa Catarina para se associar ao negócio que o irmão abriu em Porto Alegre. Na loja, que vende desde balas de goma até lingeries, a preços que variam de R$ 1,00 até R$ 140,00, Cátia encontrou sua vocação para o varejo. Também pudera: passou de simples assalariada para empresária com faturamento mensal de R$ 70 mil.

Localizado em bairro afastado do Centro de Porto Alegre, o Bazar 1,99 deixou de oferecer apenas artigos de preço único, para negociar cinco mil itens de todos os gêneros, cujos preços não ultrapassam R$ 80,00. Antes de entrar para o negócio, há 15 anos, o proprietário Júlio César Cardoso era bancário. Aproveitando o momento cambial que nivelava o dólar e o real a “um por um”, ele comercializou produtos de preço único durante quatro anos. “Mas com o retorno da inflação, mesmo em índices pequenos, aos poucos as mercadorias começaram a ficar um pouco mais caras”, explica.

De qualquer forma, os preços dos produtos ainda são acessíveis, pondera Cardoso. E a qualidade dos artigos melhorou muito de dois anos para cá, completa a concorrente Cátia. Segundo os dois comerciantes, a vantagem do negócio em relação ao varejo tradicional é que se lida com produtos de giro rápido, e a maioria das vendas é feita com pagamentos à vista, o que também elimina as chances de inadimplência.


Veículo: Jornal do Comércio - RS


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