Papai Noel magro para investidor?

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Resultado negativo da Hypermarcas lança dúvidas sobre o desempenho futuro das empresas voltadas para o mercado interno.


Os investidores que desejam ter um Natal gordo buscam as boas ações – no pregão da bolsa de valores, claro. Nos últimos dois anos, as listas vêm começando invariavelmente com papéis de companhias voltadas ao mercado interno. Redes de varejo ou empresas de consumo têm sido as queridinhas dos investidores. Apoiados em um crescimento sólido da renda e na abundância do crédito, os resultados dessas companhias vinham apresentando recordes sucessivos. Outra vantagem é que seus setores estão bastante protegidos dos solavancos do mercado internacional. No entanto, na terça-feira 7, a divulgação do resultado do terceiro trimestre da Hypermarcas, uma das maiorais do setor de consumo, acendeu uma luz amarela no mercado devido à abrupta reversão de um lucro de R$ 78 milhões em 2010 para um prejuízo de R$ 190 milhões em 2011. Embora os resultados da maioria das empresas ainda estejam fortes, a expectativa dos investidores está abaixo do que era em janeiro. Os prognósticos são de menos presentes debaixo da árvore.


Parte desse efeito é uma malvadeza da matemática. “Os números de 2010 foram muito bons e por isso os resultados de 2011 perdem na comparação”, diz Sandra Peres, analista da corretora paulista Coinvalores. Outros são mais enfáticos em afirmar que o cenário mudou. “As medidas de restrição ao crédito e o aumento da inadimplência no varejo podem afetar o desempenho em 2012”, diz Luiz Cesta, da corretora Votorantim.Segundo Cesta, a inadimplência é o que mais preocupa. O aperto no crédito não apenas reduziu o fôlego das financeiras como também elevou a fatia do salário comprometida com os juros e as prestações da dívida. Como resultado, o calote vem crescendo lenta, gradual e  firmemente. Segundo o Serviço de Proteção ao Crédito, a inadimplência em todo o Brasil cresceu 4,8% em outubro frente a 2010, a nona elevação consecutiva desse indicador. Isso é muito ruim para o varejo. “Se a loja não é capaz de financiar, o consumidor não consegue comprar”, diz Cesta.

Não por acaso, o aumento do calote divulgado pela Lojas Marisa foi o número da empresa que mais desagradou o mercado. A rede de vestuário feminino divulgou perdas de R$ 32,9 milhões, 28,9% superiores às de 2010. No dia 4 de novembro, data da divulgação, suas ações caíram 12%. Para complicar, os prognósticos não são bons. Embora os juros devam manter sua trajetória declinante nos próximos meses, isso não vai aliviar o quadro. “A queda dos juros poderia tornar a captação de recursos mais barata para as empresas, mas esse não é o item mais relevante no custo financeiro do setor”, diz Cesta. Os problemas não se limitam ao varejo, mas ocorrem com as fabricantes de bens de consumo. No caso da Hypermarcas, parte da explicação para o resultado ruim foi o início de um processo de ajuste severo na companhia, que se notabilizou demonstrando um apetite insaciável por aquisições nos últimos anos. No entanto, isso é apenas parte da história.
 
Muitas das empresas adquiridas pela Hypermarcas eram generosas na hora de calcular o desconto concedido aos clientes e definir seus prazos de pagamento. O resultado foram enormes estoques nas mãos dos revendedores – que, percebendo uma desaceleração nos negócios, deixaram de comprar. “Eles precisam de uma nova política comercial, que estimule a redução dos estoques”, diz Sandra Peres, da Coinvalores. “Vai demorar para colocar isso em prática.” Cauê Pinheiro, analista da corretora paulista SLW reforça a opinião de Sandra.  “A Hypermarcas só deve resolver esse problema no ano que vem”, afirma Pinheiro. O que fazer então? Apesar das restrições, a deterioração das expectativas deve ser vista com uma dose de cautela. Apesar de resultados pontuais ruins, na média o setor continua avançando, ainda que mais lentamente. “No ano passado, as empresas apresentaram crescimento de dois dígitos, mas esse avanço deve cair para um dígito em 2012, o que não deixa de ser um bom resultado”, diz Peres.
 
Quem gosta de varejo pode migrar das ações de redes de lojas para os papéis das administradoras de shopping centers, que vêm mostrando bons números. Essas empresas são menos sujeitas a solavancos devido à sua menor exposição à inadimplência, pois seus clientes não são pequenos compradores, mas sim comerciantes que alugam seu espaço. Um bom exemplo é o da administradora paulista BR Malls. Os resultados do terceiro trimestre poderiam assustar os investidores, pois caíram para R$ 9,3 milhões, uma baixa de 89% em relação ao mesmo período de 2010. No entanto, a queda decorreu de um ajuste contábil de R$ 113 milhões para um título de dívida denominado em dólar. Sem esse ajuste, o lucro teria sido de R$ 92 milhões, um avanço de 29,1% em relação a 2010. Quando divulgou os números, no dia 28 de outubro, a BR Malls viu suas ações subirem 3,8%. “Essas empresas vêm apresentando uma taxa de ocupação elevada, de 98%, não dependem do dólar e geram muito caixa”, diz Peres. Ou seja, além de fornecerem muitos dos presentes de Natal, os shoppings podem garantir gordas lembranças de fim de ano para seus acionistas.
 

Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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