Vendas no comércio voltam a cair e arrastam os alimentos

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Queda de 0,9% em março foi a maior para o mês desde 2003 e atingiu os bens essenciais, devido à perda de renda das famílias. Em Minas, os negócios recuaram 0,1% ante fevereiro

 



Crédito mais restrito, inflação e juros altos corroendo a renda das famílias e a baixa geração de empregos comprimem as vendas no comércio varejista. Em março, os negócios do setor recuaram 0,9% no país frente a fevereiro, divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a maior queda para o mês analisado desde 2003, quando houve retração de 2,4%. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o recuo foi de 0,4%. Em Minas Gerais, o comércio varejista apresentou indicadores um pouco melhores, ainda assim de estabilidade, com redução de 0,1%, em março.

Esta é a quarta vez consecutiva que o estado apresenta resultados negativos. Frente a idêntico período de 2014, o comércio varejista mineiro teve crescimento de 0,6%. Já em Belo Horizonte, as vendas fecharam o primeiro trimestre de 2015 com queda de 1,67%, se comparadas a janeiro a março do ano passado, de acordo com balanço divulgado pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH). Ante março de 2014, a queda foi de 2,55%. Já em relação a fevereiro, as vendas cresceram 3,96%.

Para especialistas, os indicadores ruins devem influenciar diretamente o PIB (soma da produção de bens e serviços medida pelo Produto Interno Bruto) do país e do estado, tendo em vista a dependência do indicador do consumo das famílias. Em Minas Gerais o comércio tem importante participação na economia. Em 2012, o setor respondia por 11,92%, com receita de R$ 41 bilhões, de um PIB de R$ 351 bilhões movimentados no estado, segundo último dado disponível do IBGE.

“Quanto mais as pessoas consomem, mais o PIB tende a crescer e o mesmo raciocínio vale quando há queda no consumo. Vivemos em um ambiente de incertezas, com juros mais altos e crédito restrito, o que implica corte de gastos dos consumidores”, explicou Eduardo Coutinho, coordenador do curso de administração do Ibmec-MG. Para o especialista, não há perspectivas de recuperação para os próximos meses e a expectativa é de que as vendas fechem o ano estagnadas ou com pequena queda.

Em Minas, mais da metade dos seguimentos avaliados no levantamento do IBGE, que incluem de supermercados, combustíveis a automóveis e produtos farmacêuticos, apresentaram queda. Sendo que os setores de móveis eletrodomésticos e combustíveis foram os que apresentaram maior nível de recuo, forçando o fechamento no vermelho. O ramo de eletrodomésticos apresentou a retração mais acentuada, de 6,4% em março deste ano comparado a idêntico mês de 2014, seguido de móveis e eletrodomésticos que tiveram queda de 5,4%. Na avaliação da supervisora de Pesquisa Econômica do IBGE em Minas Juliana Dias Alves as famílias brasileiras estão deixando de comprar produtos supérfluos e dão prioridade aos itens de necessidade básica.

“A instabilidade econômica deixa o consumidor inseguro. A inflação está corroendo a renda e todo mundo tem medo de fazer empréstimo”, afirma Juliana. O levantamento do IBGE mostrou que, no Brasil, o segmento de hipermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo apresentou recuo de 2,4% em março na comparação com 2014. Já em Minas Gerais, o seguimento ainda conseguiu apresentar um ligeiro crescimento de 0,6%.

Reação só no
segundo semestre


Para o presidente da Associação de Comerciantes do Hipercentro, Flávio Assunção, os indicadores são resultados da fraca economia do país. “Nós já sabíamos que 2015 seria um ano difícil, mas não imaginávamos uma queda tão acentuada. Nem mesmo o Dia das Mães salvou o comércio e, se não houver uma mudança, os consumidores vão continuar inseguros, evitando fazer compras”, completou. Já o presidente da CDL-BH, Bruno Falci, aposta em uma recuperação da economia no segundo semestre, com expectativa de fechar o ano com pequeno crescimento.

“Estamos num cenário nacional bem negativo, com inflação e juros altos, crédito mais caro, mas acredito numa melhora desses indicadores para o segundo semestre com as medidas que estão sendo implementadas pelo ministro da Fazenda (Joaquim Levy), o que poderá dar fôlego nas vendas”, completou. Proprietária de uma loja de roupas e acessórios na Savassi, Zona Sul de BH, Daniela Côrtes afirma que nos últimos cinco anos não viu resultado de vendas tão ruim quanto agora.

“Quando um país entra em recessão, o varejo é o último setor a ser atingido por essa crise. No entanto, aqui, desde o ano passado nós já estamos observando a queda nas vendas”, afirma a comerciante. Daniela diz apostar em promoções pontuais e vitrines mais atrativas para chamar a atenção do cliente e espera, com isso, uma melhora para o segundo semestre. Segundo ela, a empresa terá que passar por uma readequação interna para diminuir os gastos e equilibrar a receita.

Nem efeito calendário ajudou o setor


Rio de Janeiro – A evolução mais tímida da renda dos trabalhadores afetou em cheio as vendas no segmento de hipermercados, supermercados e produtos alimentícios. Segundo Juliana Vasconcellos, gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nem o maior número de dias úteis de março deste ano conseguiu salvar o setor das perdas. “O segmento é muito sensível à renda dos trabalhadores, e a renda está reduzindo seu crescimento”, afirmou.

A massa de rendimentos reais habituais no Brasil, ainda de acordo com o IBGE cresceu 1,8% nos últimos 12 meses até março último, ante a expansão de 2,6% em idêntica base de comparação até março de 2014. Já o segmento de outros artigos de uso pessoal e doméstico tiveram alta de 17,4% nas vendas em março ante igual mês do ano passado. “Nesse segmento, são pesquisadas as lojas de departamento, e as vendas de ovos de Páscoa acabaram influenciando. Apesar de a Páscoa ter mostrado queda em abril, foi bem no início, então as vendas ocorreram em março”, explicou Juliana.  Outro setor que registrou desempenho significativo na comparação anual foi o de equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação, com expansão dos negócios de 21,8%. “Os preços desse segmento estão em queda, o que favorece o comércio” disse a gerente do IBGE.

A pequena retomada de reformas de casa beneficiou o varejo de materiais de construção em março, com aumento de 2,8% nas vendas em relação a igual mês de 2014, informou IBGE. As empresas ganharam, ainda, com o maior número de dias úteis em março deste ano, já que, em 2014, o carnaval foi celebrado no terceiro mês do ano.  Apesar disso, o segmento de materiais de construção registrou recuo de 0,3% em março ante fevereiro. Na avaliação de Juliana Vasconcellos, do IBGE, a alta de 0,4% nas vendas do varejo restrito (sem veículos e material de construção) em março ante março de 2014 “sobreviveu” por causa do efeito calendário. Em 2014, o carnaval foi celebrado em março, o que gerou uma base mais fraca. Neste ano, por sua vez, março teve três dias úteis a mais.




Veículo: Estado de Minas


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