Alta na produção calçadista é insuficiente para zerar perdas

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 Empresas esperam melhora nas vendas no segundo semestre, mas expectativa se baseia em fraco desempenho no ano passado, quando o volume produzido caiu 2,5% ante 2013

 



O setor calçadista deve enfrentar mais um ano difícil, depois de terminar 2014 com retração de 2,5% na produção. O avanço das vendas que tradicionalmente ocorre no segundo semestre não deve ser suficiente para zerar as perdas passadas e a produção deve crescer apenas 1,5% este ano.

O Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi), consultoria que realiza estudos para o setor calçadista, já reduziu a estimativa de crescimento da produção em 2015 ante o ano passado, de 2,1% para 1,5%.

"A nossa projeção é de alta na produção este ano, mas isso depende muito da melhora da confiança, que ainda está muito baixa", observa o diretor do Iemi, Marcelo Prado. Ele destaca, entretanto, que a discreta expansão vem depois de uma queda entre 2013 e 2014.

A previsão de crescimento leva em consideração dois fatores que barraram as vendas no ano passado e deixaram mais fraca a base de comparação: Copa do Mundo e Eleições, comenta ele.

"O primeiro evento causou o adiamento e a redução das vendas, o segundo teve maior impacto na confiança do mercado". De acordo com Prado, essa falta de confiança ainda se reflete nos baixos volumes no começo desse ano.

A Alpargatas, por exemplo, não vislumbra uma melhora antes do final do primeiro semestre. "Vamos sofrer um pouco ainda em maio, mas a partir de junho e julho acreditamos que com a entrada da nova coleção melhore", afirmou o diretor-presidente da companhia, Márcio Utsch, em teleconferência com analistas na última segunda-feira (11). A empresa detém as marcas Havaianas, Topper e Timberland.

Volume de vendas

No primeiro trimestre do ano, a receita líquida da Alpargatas nos negócios nacionais caiu 1,5% para R$ 560,9 milhões, na comparação com o primeiro trimestre de 2014. Já o lucro líquido recorrente, considerando todas as operações da companhia, somou R$ 99,2 milhões, alta de 17,3% na mesma comparação. O aumento do lucro da companhia foi atribuído a maior geração de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, Ebitda na sigla em inglês.

"Foi uma política da companhia de preservar rentabilidade [no período], então reajustamos os preços. Subimos em torno de 7% o preço médio na comparação com o ano passado", contou Utsch. Ele avalia que a alta nos preços, combinada a um cenário recessivo levou a uma queda no volume comercializado.

As vendas em unidades da Alpargatas caíram de 53,9 milhões de unidades entre janeiro e março do ano passado para 51 milhões de unidades no mesmo intervalo de 2015.

"O estoque dos nossos clientes subiu cerca de 20 dias a mais, porque eles não conseguiram vender no varejo e então eles seguraram as compras, o que segurou um pouco o nosso volume, mas isso foi transitório", acredita o executivo.

O diretor de finanças e relações com investidores da Grendene, Francisco Schmitt, conta que o varejo tem sinalizado que as vendas estão mais difíceis no segundo trimestre. Na opinião dele, o crescimento das vendas em unidades em ritmo acima da receita líquida se deve a migração do consumo para produtos de menor valor, comum em períodos de desaceleração da atividade econômica.

Nos três primeiros meses do ano, o volume de vendas da Grendene no País avançou 11% sobre um ano antes, mas a receita líquida teve alta de 7,8% para R$ 532,3 milhões.

Para o segundo semestre, a Grendene aposta nos eventos sazonais para aumentar o volume das vendas, mas trabalha com a perspectiva de piora do cenário no País. "Não podemos prever o consumo, mas muito provavelmente o consumidor vai continuar com dinheiro curto e muito cauteloso em seus gastos", declarou Schmitt, em nota enviada ao DCI.

É nesse cenário que a Beira Rio espera continuar ganhando espaço no mercado. Assim como a Grendene, a fabricante tem conseguido ampliar o volume vendido, mas com margens mais pressionadas.

"Nossa estratégia tem sido tentar segurar ao máximo [os custos] e não repassar ou atenuar isso no preço", destacou o analista de mercado da Beira Rio, Ângelo Gasques, em entrevista recente ao DCI.

Gasques explica que a produção de calçados da empresa deve continuar crescendo, mas pondera que a alta é reflexo da produtividade. "No segundo semestre, com os modelos de verão, a produção tende a aumentar pela facilidade", disse ele.

A Arezzo, também notou melhor desempenho das marcas de menor preço. No primeiro trimestre, a receita bruta das marcas Arezzo e Schutz cresceu 1,2% e 12,6%, respectivamente, enquanto a marca de entrada, Anacapri, avançou 34,7%. A receita líquida da companhia somou R$ 236 milhões nos três primeiros meses desse ano, alta de 10,7% na comparação com o mesmo período de 2014.

Mercado externo

Se a demanda interna é desanimadora, a valorização do dólar frente ao real pode impulsionar as vendas externas, ressalta Marcelo Prado.

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, também vê as vendas para o mercado externo como uma alternativa para o setor. Ele afirma, entretanto, que ainda é cedo para falar em retomada das exportações.

"Ainda vivemos um cenário de instabilidade, mas podemos ter uma ligeira melhora pelo câmbio", disse Klein.

Na Paquetá, dona das marcas Capodarte, Dumond e Ortopé, o plano de crescimento inclui o aumento das exportações, que hoje representam de 15% a 17% do faturamento. "Esse ano as exportações devem aumentar, mas ainda precisamos de mais segurança em relação ao câmbio", conta o presidente da empresa, Adalberto Leist.



Veículo: DCI


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