Importação de café do Peru gera polêmica

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Enquanto a Abic considera a medida positiva, entidades que representam os cafeicultores brasileiros são contrárias

 



A decisão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em liberar a importação da café produzido no Peru foi aprovada pela indústria, mas causou receio ao setor produtivo do grão. Enquanto o segmento industrial avalia a abertura como uma nova oportunidade de se produzir blends utilizando o café importado junto ao nacional, o setor produtivo analisa a autorização com receio, uma vez que o ingresso do grão de outro país pode ampliar ainda mais a oferta e causar perdas aos cafeicultores nacionais.

A Instrução Normativa nº 6, de 29 de abril de 2015, assinada pelo secretário de Defesa Agropecuária do Mapa, Décio Coutinho, aprovou os requisitos fitossanitários para importação de grãos (Categoria 3, Classe 9) de café (Coffea arabica L.) produzidos no Peru. A publicação foi feita no "Diário Oficial da União", no dia 30.

Para o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), Nathan Herszkowicz, a decisão é positiva para o setor industrial e deverá beneficiar, inclusive, as empresas de pequeno porte, que poderão agregar valor à produção.

"A importação de café de outras origens vem sendo discutida há anos.  um assunto delicado e foi conduzido com bastante cautela e consultando todos os setores envolvidos. O fato é que a importação de café do Peru permite que as indústrias brasileiras, inclusive as pequenas, possam oferecer bebidas diferenciadas. Hoje, o produto é feito com 100% do café do Brasil, mas se tivermos uma importação controlada de grão de alta qualidade poderemos combiná-los com o nacional. DesSa forma vamos oferecer produtos diferentes, exóticos e raros dando impulso ao mercado, o que é fundamental para estimular a ampliação do consumo de cafés e renda de toda a cadeia", avalia.

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Na visão do representante da Abic, desde que estabelecidas cotas e padrões de qualidade, a importação de café não deverá afetar a produção nacional do grão. A liberação das importações do grão in natura do Peru também é vista como um forma da indústria nacional concorrer com os cafés importados e industrializados provenientes de outros importantes países produtores do grão, que já estão presentes no mercado brasileiro.

"A liberação da importação do café peruano, em parte, nos pegou de surpresa, já que veio sem salvaguarda.  importante que sejam criadas medidas para limitar o volume importado e estabeleça um padrão mínimo de qualidade. Essas salvaguardas foram citadas em um estudo do setor, que teve a participação inclusive dos produtores do grão, e entregue ao Mapa em 2008 e que não foram mencionadas. A indústria precisa importar cafés diferenciados, mas a negociação deve ser protegida para não correr o risco de importar cafés que o país não precisa", diz Herszkowicz.


Faemg - De acordo com o diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) e presidente das comissões de Cafeicultura da entidade e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Breno Mesquita, o ingresso do café peruano no mercado brasileiro pode desestimular os cafeicultores que vêm investindo, cada vez mais, na melhoria da qualidade do grão. Além disso, a produção diversificada no País é capaz de atender à demanda da indústria.

"O Brasil, além de ser o maior produtor de café do mundo e ter um mercado fantástico, que é atendido pelos grãos de origem brasileira, é conhecido no mundo como um País de cafés diferentes, diferenciados e de alta qualidade, seja arábica ou conilon, por isso, não tem sentido importar café se encontramos no mercado interno vários tipos do produto. Na minha visão, a autorização para importar o grão do Peru é um desestímulo à produção. Não seria interessante cortar o empreendedorismo dos produtores nacionais, que estão investindo em qualidade e na melhoria dos processos de produção. A decisão é um balde de água fria para quem está apostando na cultura", explica Mesquita.

Em nota, o presidente-executivo do Conselho Nacional do Café (CNC), Silas Brasileiro, também criticou a decisão do Mapa. A entidade encaminhou ofício ao ministério e à presidente Dilma Rousseff solicitando a imediata suspensão da aprovação de requisitos fitossanitários para importação de café produzido no Peru.

"O CNC entende como inaceitável e inconcebível a autorização para se importar café arábica do Peru, justamente no período da entrada de safra do Brasil, o maior produtor mundial. Esse tipo de postura é extremamente danosa ao País, pois o ingresso de grãos do exterior, quando temos café para satisfazer as nossas necessidades, pressionará ainda mais os preços da commodity para baixo, fazendo com que os produtores, já endividados, percam renda e competitividade. Dessa forma, entendemos esta medida como extremamente negativa e que poderá retirar muitos cafeicultores da atividade, a qual, do ponto de vista social, é a principal geradora de empregos no campo", ressalta o CNC, em nota.



Veículo: Diário do Comércio - MG


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