Clientes voltam às lojas, mas sobra cautela

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Um sinal mais positivo para o varejo foi publicado ontem e pode indicar alguma reação na demanda de consumidores nas lojas. Houve um aumento de 9,5% no fluxo de clientes no comércio em novembro em relação a outubro. Em comparação a novembro de 2013, a elevação é de 1,2%, segundo o Índice de Consumidores do Varejo Mensal (ICV 30), publicado pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC).

Mais pessoas circulando nas lojas, no entanto, não se reflete necessariamente em vendas ou níveis de rentabilidade maiores. Os clientes podem estar apenas pesquisando produtos ou buscando promoções, e nem sempre gastando mais. Em novembro, com a agressiva campanha promocional das redes em veículos de comunicação, com o "Black Friday" na última semana do mês, aumentou o volume de ofertas de produtos que "puxam" tráfego nas lojas.

Se o cliente buscou basicamente itens com descontos, o varejo pode ter vendido volumes maiores de itens com margens de lucro menores. Isso acaba exigindo das redes uma estratégia mais acertada na definição da cesta de mercadorias em oferta - para tentar compensar isso por meio da elevação de preços de outras mercadorias. É a chamada estratégia "high and low", comum no varejo brasileiro.

Nela, a venda de um item com o "valor cheio" compensa a perda com a venda de outro com desconto. A principal vantagem da política de ofertas agressivas está na geração de capital de giro para a rede - que até pode abrir mão de alguma margem para queimar estoque, que eleva o custo fixo da loja.

"O aumento de fluxo em novembro é um sinalizador positivo, mas o que ainda não conseguimos saber, e isso deve ficar mais claro em dezembro, é se esse tráfego maior reflete o retorno às compras de uma demanda reprimida ou se o que existiu em novembro foi apenas uma antecipação de vendas de Natal", disse Eduardo Terra, presidente da SBVC.

"O pior cenário seria um maior tráfego em novembro apenas como adiantamento das compras de dezembro. Se isso ocorreu, dezembro não terá um desempenho tão positivo, e poderemos ter um dos piores anos para o varejo na década", afirmou. O mês de dezembro para o varejo chega a representar uma receita de 30% a 35% superior a média mensal do ano.

Pelos indicadores já publicados, 2014 deve se tornar o pior ano para o setor desde 2003. O comércio nunca cresceu tão pouco nos últimos dez anos - 2,6% no acumulado até setembro, em volume vendido, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE. O pior ano da história da PMC foi 2003, quando houve queda no volume de 5,2% até setembro.

De janeiro a setembro, a receita nominal do varejo subiu 9% (4% de expansão real, ao se descontar IPCA/IBGE). É o pior índice de expansão na receita desde o ano de 2006, quando o aumento foi de 7,4%.

Segundo o Índice de Consumidores do Varejo, em outubro de 2014 houve um crescimento de 7,2% no fluxo de clientes nas lojas em relação ao mês anterior. A pesquisa da SBVC é feita em parceria com a consultoria Virtual Gate, que possui câmeras de monitoramento de tráfego em 1,2 mil pontos no país. A câmera captura as imagens da entrada da loja e um servidor converte isso em números. Como é o primeiro levantamento feito pela SBVC, não há comparação com anos anteriores.

A SBVC anunciou ontem o lançamento do ICV 30 e do ICV SAZ (Índice de Consumidores do Varejo Sazonal), ambos de monitoramento do fluxo nas lojas físicas. Segundo dados da Virtual Gate, o movimento de clientes nas lojas na "Black Friday", na sexta-feira passada, foi 46% superior ao de 2013.



Veículo: Valor Econômico


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