Estoques acumulados nas fábricas darão conta das encomendas de Natal

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Produção brasileira ficou estagnada na passagem de setembro para outubro, na série livre de influências sazonais. Em relação a outubro do ano passado, atividade industrial encolheu 3,6%

 




A atividade industrial ficou estacionada na passagem de setembro para outubro, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A estagnação da produção é reflexo dos elevados estoques nas fábricas.

De acordo com o gerente de pesquisa do IBGE, André Macedo, a aceleração da atividade, que tradicionalmente ocorre entre agosto e outubro, para atender a demanda do Natal, não foi registrada este ano. "Alguns setores estão com níveis de estoque acima do esperado e o consumo não tem mostrado sinais de recuperação", afirma.

O gerente de economia da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Luiz Cezar Rochel, confirma que as encomendas para o Natal estão abaixo do esperado e não mostram sinais de recuperação. "O mercado neste ano não decolou, isso é fato", avalia Rochel.

Para Macedo, o declínio no consumo é, principalmente, reflexo do endividamento das famílias e da redução do crédito. "Se essas variáveis negativas persistirem, a tendência de queda na indústria não vai ser revertida tão cedo", diz.

Na comparação com outubro de 2013, a Pesquisa Industrial Mensal, divulgada ontem, revela uma redução de 3,6% na produção nacional. Já entre janeiro e outubro houve retração de 3% em relação ao acumulado em igual período de 2013.

Categorias

De acordo com o IBGE, quatro grandes categorias econômicas e a maior parte (23) dos 26 ramos tiveram redução na produção. Destaque para veículos automotores, reboques e carrocerias (-16,5%), que exerceu a maior influência negativa na formação da média da indústria. Outras contribuições negativas partiram de produtos de metal (-13,9%), metalurgia (-8,3%), máquinas e equipamentos (-8,0%), outros produtos químicos (-5,7%), máquinas e aparelhos e materiais elétricos (-6,5%).

"O bom desempenho nas vendas de alguns produtos, como tablets, é o que tem evitado quedas mais acentuadas no segmento de eletrônicos", pondera o gerente da Abinee.

Os altos estoques também levaram a uma menor utilização da capacidade instalada na indústria. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), 80,6% do parque fabril foi usado em outubro, abaixo de setembro (81,1%) e do mesmo mês do ano passado (82,3%). "O quadro da indústria neste último trimestre do ano ainda é de desaquecimento, quando comparamos com resultados de 2013", disse o gerente executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco.

Como reflexo da fraca atividade, a indústria manteve a trajetória de cortes nos postos de trabalho. O indicador de emprego caiu 0,1% em outubro pela oitava vez seguida, quando comparado ao mês anterior, o que deve levar a uma retração no número de trabalhadores industriais em 2014. Sobre outubro do ano passado a queda foi de 2,8%.

Na opinião do economista da CNI, uma possível recuperação vai ficar para 2015.

Perspectivas

O estrategista do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, acredita que o setor produtivo permanecerá estagnado nos próximos meses, refletindo o forte pessimismo dos empresários e os altos níveis de estoques. O economista revisou para baixo sua previsão para a produção industrial neste ano, passando de queda de 2,5% para recuo de 2,8%.

"Acreditamos que a possibilidade de um ano bom e razoável [para a indústria] é praticamente inexistente", afirma o diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Francini, em nota à imprensa.

O maior parque industrial do Brasil, São Paulo, viu sua produção cair em outubro 5,1% sobre um ano antes e crescer apenas 0,3% ante setembro, informou a Fiesp.

Para o economista-chefe da TOV Corretora, Pedro Paulo Silveira, apesar das fortes pressões externas e da perspectiva de ajustes nos gastos do governo, a produção industrial deve apresentar melhora daqui para frente, podendo registrar alguma recuperação em 2015.

No mesmo sentido, Luciano Rostagno projeta crescimento de 1,5% na produção no ano que vem. "Uma política econômica mais favorável ao mercado prevista para o próximo ano deve colocar o setor em uma trajetória de recuperação gradual", vislumbra.




Veículo: DCI


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