Prêmio Equalizador para a laranja deve recompor preços no campo

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Citricultores gaúchos poderão fazer sua estreia na modalidade


Marina Schmidt



O chefe da divisão de política agrícola do Ministério da Agricultura, Gustavo Firmo, assegurou que novos três leilões de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro) de laranja para a safra 2014/2015 serão realizados nos meses de agosto, setembro e outubro. Neste ano, já aconteceram dois certames do tipo, em julho, atendendo a produtores paulistas e paranaenses.

Nos próximos três leilões participam também Rio Grande do Sul, Bahia, Sergipe e Minas Gerais. Os leilões de Pepro garantem ao produtor o ganho mínimo pelo quilo dos produtos comercializados. No caso das laranjas para processamento industrial, os citricultores têm recebido cotação pelo menos 20% mais baixa do que o estabelecido, já que o quilo da laranja pago pela indústria ao produtor deveria ser de, no mínimo, R$ 0,28, mas não tem superado os R$ 0,22.

Com essa ferramenta, a expectativa é de que essa diferença seja compensada. Os leilões devem subsidiar, nos quatro estados, 2,4 milhões de caixas da fruta, sendo que cada um dos certames – previstos para 29 de agosto, 30 de setembro e 31 de outubro – deve resultar em 800 mil caixas cada. De acordo com o coordenador técnico da Câmara Setorial de Citricultura do Estado, Paulo Lipp, um volume satisfatório para o Rio Grande do Sul seria de 350 mil caixas – cada uma com um total de R$ 40,8 quilos. “Essa iniciativa é uma conquista e um estímulo ao produtor”, celebra Lipp, que acompanhou o processo de ingresso do Estado nos leilões, discutido na Câmara Setorial de Citricultura Nacional.

Firmo explica que os volumes são definidos de acordo com o levantamento de preços pagos, já solicitado para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Por essa razão, a oferta só deverá ser divulgada dias antes do leilão. São Paulo e Paraná, que participaram dos primeiros leilões de Pepro em julho, já têm intenção de oferta definida. Nos próximos três leilões, os subsídios aos produtores paranaenses devem ser de 360 mil caixas em cada um dos eventos, totalizando mais de 1 milhão de caixas. Os citricultores paulistas, por sua vez, terão oferta de 4 milhões de caixas em agosto, 3 milhões em setembro e 6 milhões em outubro. 

Os produtores interessados em participar dos leilões de Pepro precisam atender a uma série de requisitos. É preciso fazer parte e estar em situação regular no Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores (Sicaf), no Sistema de Registro e Controle de Inadimplentes da Conab (Sircoi) e no Cadastro Informativo de Créditos não Quitados do Setor Público Federal (Cadin). Além disso, é necessário que o produtor apresente interesse de compra com o valor firmado junto ao comprador, para determinar a diferença a ser compensada.

A disputa no leilão precisa ser realizada por corretor que opere em Bolsa Cereais, Mercadorias ou Futuros, devidamente registrado. Como o leilão de Pepro é uma novidade para os citricultores, a Emater tem disponibilizado informações e profissionais para auxiliar nessa etapa inicial. Nos escritórios regionais, os agricultores podem obter mais informações e apoio para o cumprimento das exigências, inclusive na etapa de ingresso nos cadastros, que depende de acesso à internet.
Produtores enfrentam custos elevados e efeitos da balança comercial

Os seis centavos de diferença entre o preço estabelecido e efetivamente pago pelo quilo da laranja pela indústria de processamento de sucos representa mais de 21% do valor mínimo estabelecido para este ano, percentual que acentua os ganhos já modestos dos citricultores.

De acordo com o coordenador da Câmara Setorial de Citricultura do Estado, Paulo Lipp, os custos de produção e logística para produção da fruta são elevados. Para cada quilo, as despesas são de no mínimo R$ 0,14 (metade do mínimo estabelecido, de R$ 0,28). Com margens de ganho tão apertadas, muitos têm desistido da cultura. “Isso tem causado erradicação de pomares. Até pequenos produtores resolveram abrir mão de pomares para plantar soja”, detalha Lipp, citando que no Estado uma região que tem sofrido com esse efeito é o Alto Uruguai. “Lá tem acontecido isso nos últimos dois anos, porque o preço da soja está em alta e o produtor é muito suscetível ao imediatismo.”

O engenheiro agrônomo Derli Paulo Bonine, do escritório regional da Emater/RS-Ascar de Lajeado, salienta que em outras localidades do Rio Grande do Sul, embora não esteja ocorrendo erradicação de pomares, há uma estabilização, notada, principalmente, na região consagrada como a maior produtora do Estado, o Vale do Caí. “Nos 10 municípios da região, há estabilização da produção há mais tempo, mas na região Norte, entre 2000 e 2010, houve um incremento de área de cultivo, que também mostra estagnação.”

Hoje, o Vale do Caí produz mais bergamota e outros cítricos do que a laranja, reporta Bonine. Já a sistemática observada nos municípios da região Norte reflete outro fenômeno, que tem vínculo direto com a demanda de laranja no País: o mercado externo. O Brasil é responsável por dois terços de toda a produção de laranja para sucos do mundo, o que justificava o interesse em investir na produção do cítrico – condição vantajosa até 2009, quando começaram a repercutir no mundo os efeitos da crise econômica mundial, resultando em queda nas exportações.

Com isso, a laranja começou a sobrar no mercado interno, que sofre com os efeitos da demanda acima da procura. Bonine esclarece que, além de todo esse contexto, o suco de laranja no País concorre com o  aumento do consumo de outras variedades de sucos, como o de uva.


Veículo: Jornal do Comércio - RS


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