Farmacêutica está atenta a oportunidades de aquisição no Brasil

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O grupo farmacêutico suíço Roche, primeiro produtor mundial de tratamento contra o câncer, sinaliza interesse em fazer aquisições, inclusive no Brasil, usando parte do quase US$ 18 bilhões que tem em caixa. Em entrevista ao Valor, o presidente-executivo da Roche, Severin Schwan, afirmou que a empresa está atenta a oportunidades que surgirem no Brasil, porque o país "continua a ser um mercado muito importante, está crescendo e vamos aumentar nossa presença".

Para o executivo, as turbulências atuais e o menor crescimento que afetam o Brasil e emergentes em geral não causam inquietação. "Vemos crescimento contínuo e isso tem a ver com a penetração de nossos remédios que ainda é relativamente baixa e uma demanda muito forte (no Brasil) vai continuar no futuro".

Schwan dá também um tom diferente de queixas até recentemente feitas pela industria farmacêutica, estimando que o Brasil "tem uma lei de patentes muito boa, a propriedade intelectual é respeitada no país e está em linha com os padrões internacionais".

Para ele, o desafio no país, hoje, é tornar mais disponíveis remédios inovadores contra o câncer e diagnósticos. Num país como a India, por exemplo, o tratamento com o remédio padrão contra câncer do seio, o Herceptin, custa 15 vezes mais que a renda média mensal, segundo analistas. No Brasil, o grupo diz que trabalha com o governo para estabelecer esquema de preço, por exemplo para o medicamento MabThera. "A consequência é que pode aumentar dramaticamente o acesso a esse remédio", diz Schwan.

Ele fez as declarações pouco depois de anunciar que o grupo teve lucro liquido de 11,37 bilhões de francos suíços (US$ 12,2 bilhões) no ano passado, numa alta de 18%, impulsionado por maior venda nos EUA (10%) e nos emergentes, como China (21%) e Brasil (9,4%). Globalmente, as vendas aumentaram 6%, totalizando 46,8 bilhões de francos suíços.

Para a Roche, mais aquisição está no radar tanto em farma como em diagnostico, até porque parte da inovação vem de fora do grupo. Mas o grupo suíço não comenta sobre o tamanho das aquisições que pretende fazer globalmente.

Schwan admite que mais pressão para baixa adicional dos preços de medicamentos vai prosseguir em 2014, particularmente na Europa e nos EUA. Mas acha que isso será compensado com o crescimento esperado para os mercados latino-americano e asiático. Para ele, isso explica também porque está havendo uma mudança na fatia dos EUA e da UE em favor dos emergentes.

Cerca de 70% das vendas de Roche são da divisão farma. O mercado farmacêutico global, de US$ 964 bilhões no ano passado, pode crescer 5% ao ano até 2017, conforme prevê o grupo em seu relatório anual. Essa expansão vem dos emergentes, com alta estimada de 11%. Nos mercados desenvolvimento na América do Norte, Europa e Japão a expectativa é de crescimento entre 1% e 3% no mesmo período. Roche espera que as vendas de seus principais produtos, na área de oncologia, cresçam 9% globalmente nos próximos cinco anos.

No caso de diagnósticos, o mercado global pesava US$ 50 bilhões em 2012. A estimativa também é de 5% anualmente de expansão nos próximos anos, sendo 10% nos emergentes e só 3% nos mercados desenvolvidos. O mercado de diagnósticos profissionais pode crescer no ritmo da taxa geral do mercado, enquanto monitoramento de glicose cresce 1%.

Daniel O'Day, principal executivo da divisão farma, nota que "a porção da população no Brasil que tem acesso a esses remédios (mais inovadores de Roche) é muito pequena". Na divisão de diagnósticos, seu presidente, Roland Diggelmann, tambem vê 'tremendas oportunidades para crescimento no Brasil'.

Quanto ao impacto economico da perda de patentes, Roche parece mais tranquilo que outros grupos. Globalmente, um volume de negócios de US$ 34 bilhões oriundos de medicamentos originais será diretamente ameaçado este ano pela concorrência de genéricos. Com a pressão sobre os preços exercida pelos sistemas de saúde, analistas projetam aumento da fatia dos genéricos, passando em valor de 27% a 36% do mercado global de medicamentos nos próximos anos.

O remédio de Xeloda, para quimioterapia, e o antiviral Valcyte enfrentam concorrência de genéricos este ano. O primeiro teve vendas de 1,5 bilhão de francos suíços no ano passado, e o segundo de 693 milhões.

Sobre a concorrência, Schwan não vê problemas. "Nossa estratégia é substituir os remédios que expiram com outros remédios inovadores. Para isso investimos muito". Exemplificou com 15 substâncias novas que estão em fase avançada de desenvolvimento e que considera um dos pipeline mais consistentes em nossa industria.

Para analistas, os ganhos da Roche anunciados hoje ilustram como investimento em produtos biológicas ou terapias complexas, está funcionando. Os biológicos tem maior margem de ganhos que os remédios tradicionais, e são mais difíceis de serem copiados quando a patente expira. O laboratório suíço reforçou seu portfólio com novos produtos, incluindo Kadcyla contra câncer do seio, e Gazyva contra leucemia, que foram aprovados no ano passado nos EUA e vão entrar tambem no mercado brasileiro.

Schwan reiterou que a estratégia não muda. O grupo continuará investindo forte na área de oncologia, mas também em imunologia/oftalmologia e em neurociência. Uma das esperanças do grupo é o desenvolvimento do Lampalizumab, um remédio contra uma atrofia que pode levar a cegueira e afeta oito milhões de pacientes no mundo. Não existe ainda remédio contra a doença. Mas as pesquisas dão resultados "fantásticos", podendo permitir reduzir pela metade a cegueira progressiva.

Na neurociência, a esquizofrenia, que afeta 1% da população mundial, tambem está no radar, com o desenvolvimento do Bitopertin, apesar de alguns tropeços iniciais. A Roche prevê alta em seus negócios entre 1% e 5% este ano. O lucro deve crescer num ritmo superior ao das vendas.



Veículo: Valor Econômico


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