Incertezas ainda afetam projetos do varejo em 2014

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Por Adriana Mattos | De São Paulo



Passado um ano de ajustes nas operações das principais redes varejistas em 2013, seria de se esperar que em 2014 as empresas retomassem posturas mais agressivas, com novos projetos de investimentos e a volta da expansão por meio de aquisições. Análise inicial dos planos de negócios das empresas para este ano, no entanto, aponta para a manutenção de uma posição mais prudente em alguns segmentos do varejo.

Ocorre que as líderes varejistas no Brasil tentam finalizar o processo de integração de negócios comprados anos atrás e precisam concluir essa fase, que em certos casos se arrasta há dois ou três anos. Ao mesmo tempo, sentiram a desaceleração do consumo no ano passado, e com as incertezas do mercado para 2014, indicam estimativas de crescimento mais modesto.

Companhias como Raia Drogasil e Brasil Pharma, por exemplo, devem finalizar projetos de integração de negócios adquiridos e já definiram isso como prioridade para 2014. A Raia Drogasil planeja a abertura de cerca de 130 lojas em 2014, apurou o Valor, o mesmo número previsto para 2013 (o resultado final não foi concluído). Entre as drogarias, a Pague Menos mantém projeto de abertura mais agressivo, de 88 lojas em 2014, versus 68 em 2013. No varejo alimentar, o Walmart precisa avançar, por determinação da matriz, na implantação de uma novo sistema de tecnologia em todas as suas lojas, e concluir a implantação de uma nova política comercial que começou a ser instaurada no país há três anos.

O Magazine Luiza, por sua vez, já avisou que eventuais novas aquisições não serão feitas ante do fim de 2014 e o início de 2015, passada a fase de acertos finais após a integração com as redes Maia e Baú, adquiridas em 2010 e 2011, respectivamente. Jorge Inafuco, gerente sênior da PwC Brasil, afirmou em entrevista recente que a consultoria espera que varejo e consumo representem cerca de 10% das fusões e aquisições do Brasil em 2014, a mesma porcentagem verificada no ano anterior.

Na avaliação de Cláudio Felisoni, presidente do Instituto Brasileiro de Executivos do Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), o varejo deve apresentar crescimento moderado em 2014. "Por termos eleições [presidenciais], haverá uma pressão maior sob o déficit fiscal. Mas não vejo 2014 como um ano tão complicado para o setor, apenas com expansão inferior ao de anos anteriores, quando o ciclo de crescimento do varejo era muito forte", afirmou Felisoni.

O Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV) projeta investimentos de R$ 7,8 bilhões em 2014, alta de 28% sobre 2013. O crescimento, porém, não reflete um aumento de lojas inauguradas. Mais da metade dos recursos vão para inaugurações, mas parte desse alta se deve ao aumento do custo dos pontos e terrenos. Por isso, a previsão é de um número menor de novas lojas neste ano - de 1.192 aberturas em 2013 para 1.058 em 2014.

Com a operação mais ajustada, o Grupo Pão de Açúcar pode traçar metas mais ousadas para 2014, mas até o momento não publicou todas as suas projeções. A rede já informou, porém, que deve manter o valor teto do investimento de 2013 para o ano de 2014 em até R$ 2 bilhões. O Carrefour, por sua vez, pode avançar com o plano de abertura de capital no Brasil em 2014, como antecipado pelo Valor, o que pode levar a rede a acelerar o crescimento por abertura de lojas, para apresentar aos investidores uma empresa com expansão mais robusta, dizem especialistas.

No cenário macroeconômico, na avaliação de especialistas, o consumidor deve continuar a adotar um comportamento comedido em seus gastos em 2014. "Eles devem manter uma postura mais ponderada, a mesma adotada em 2013" disse Marcos Gouvêa, diretor-geral da GS&MD Gouvêa de Souza, em recente entrevista.

De um lado da balança, a possível resistência dos consumidores em voltar a comprar no mesmo ritmo de 2012 - o que fez disparar as taxas de inadimplência naquele ano e em parte de 2013 - pode afetar o ânimo dos compradores em 2014. Novas pressões na taxa de juros básica no ano que vem (pesquisa Focus do Banco Central prevê taxa em 10,5% ao fim de 2014, e está em 10%, hoje) também ajudam a compor o pano de fundo.

Neste ano de 2014, na avaliação da FecomercioSP, o comércio deve manter um ritmo de crescimento modesto. A estimativa da federação é que a receita de vendas do varejo cresça 3% em 2014, inferior à taxa de 4% estimada para 2013. Para este ano, a federação considera essa alta de 4% uma "tímida recuperação" do setor, disse em entrevista coletiva o diretor-executivo da FecomercioSP, Antonio Carlos Borges, que prevê "repiques inflacionários" ao longo deste ano.

De acordo com cálculo do IDV, o setor deve registrar expansão de 4,7% nas vendas reais em 2014, versus alta de 4,1% em 2013. "Queda da inadimplência e melhores índices de confiança em 2014, além das vendas de Copa do Mundo, levaram os associados do IDV a projetar taxas melhores em 2014", disse Gouvêa. Se pudesse isolar o efeito Copa do Mundo, essa taxa de 4,7% seria menor, mas Gouvêa não soube precisar a nova taxa.

Existe, porém, um conjunto de variáveis mais promissoras que tem sido destaque nas análises que consideram hipótese de reação do consumo e do varejo. Na primeira metade de 2014, há fatores que pesam positivamente, como o efeito Copa do Mundo nas vendas e o fato de que em anos eleitorais, como 2014, circulam volumes maiores de dinheiro na economia.

O aumento do salário mínimo, que deve injetar R$ 46 bilhões no mercado, também tem sido comentado pelas associações comerciais, mas com ressalvas. Apesar da massa bilionária de recursos, o reajuste real do salário foi de apenas 0,8%, inferior ao verificado em 2012 e 2013.

Para os primeiros meses de 2014, entre janeiro e abril, especialistas ainda dizem acreditar em um desempenho mais positivo do comércio, com taxas de crescimento acima do apurado em 2013, basicamente por conta da fraca base de comparação. Em fevereiro de 2013, por exemplo, chegou a haver queda de 0,25% no volume vendido no comércio, segundo o IBGE. "Numa base fraca, a taxa de crescimento naturalmente acontece", disse o economista-chefe da consultoria GS&MD Gouvêa de Souza, Ricardo Meirelles.


Veículo: Valor Econômico


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