Argentina acelera desvalorização do peso

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Por César Felício | De Buenos Aires

Sem admitir, o governo da presidente Cristina Kirchner fez em 2013 a maior desvalorização nominal do peso desde 2002, ano em que a Argentina acabou com a paridade fixa entre a moeda nacional e a americana. O dólar terminou o ano passado cotado em 6,52 pesos, uma perda de valor de 32,8%. Apenas nos últimos 40 dias, quando Cristina trocou a equipe econômica, a desvalorização foi de 9,2%.

Com isso, o governo tenta conter a queda das reservas internacionais, que caíram 29,1% ao longo do ano passado, despencando de US$ 43,4 bilhões no fim de 2012 para US$ 30, 8 bilhões na sexta-feira. A desvalorização incentiva exportadores a não retardarem a repatriação de divisas. O governo também ganha um pouco de folga contábil: a desvalorização permite que o Banco Central melhore o seu próprio balanço, no momento em que tem que realizar uma emissão monetária maior para tapar o déficit fiscal da ordem de 4% do PIB.

Embora a desvalorização do peso tenha sido o dobro da perda de valor do real no Brasil, a avaliação de especialistas na Argentina é que o ganho de competitividade será discreto. "Desta vez a desvalorização acontece em uma circunstância de aceleração da inflação realmente existente, que está ultrapassando o patamar de 30% ao ano, o que anula os ganhos para o setor industrial exportador", comentou o economista Nicolás Dujovne, consultor independente.

Segundo Dujovne, "em termos reais, considerando a inflação de fato existente nos dois países, a desvalorização brasileira foi maior". A inflação oficial da Argentina está congelada em 10% ao ano desde 2007, mas o dado perdeu credibilidade e deixou de ser usado como referencial econômico. A inflação real do país é estimada entre 25% e 30% ao ano.

O atraso cambial argentino em relação à inflação realmente existente em anos anteriores se agudizou a partir de 2009, quando Cristina freou a desvalorização gradual da moeda. O país começou a viver uma inflação em dólares. Segundo um levantamento da consultoria Abeceb, o salário bruto médio em dólares do setor industrial passou de US$ 950 em 2009 para US$ 1.590 em 2012.

O movimento começou a ser contido a partir da reeleição de Cristina, em 2011, quando a presidente proibiu a compra de dólar para investimentos e permitiu que o Banco Central começasse a desvalorizar a moeda. A perda do valor do peso já havia sido de 14,1% em 2012.

O dólar mais caro deve frear a queda das reservas argentinas, mas acaba com a última âncora que impedia a aceleração inflacionária no país. "O governo está acelerando a desvalorização e encarecendo as importações ao mesmo tempo em que corta os subsídios ao setor privado e aumenta as tarifas", disse Dujovne.

Desde ontem, o governo argentino reduziu o subsídio para o setor de transporte coletivo, que teve um aumento de tarifa na região metropolitana de Buenos Aires de 66%. A passagem mais barata de ônibus passa de 1,50 peso para 2,50 pesos, o equivalente a cerca de R$ 1. Os subsídios ao setor privado, que já chegam a 5% do PIB, estão na raiz do aumento do déficit fiscal da Argentina, que passou de 2,5% para 4% nos últimos dois anos.

"Somente este aumento autorizado para o transporte coletivo implicará em um impacto de dois pontos percentuais sobre o índice inflacionário real na Argentina. Poderemos ter em janeiro uma inflação mensal real da ordem de 5%", avaliou Dujovne.



Veículo: Valor Econômico


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