Calçadistas preveem queda da produção

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Por Sérgio Ruck Bueno | De Porto Alegre



Para este ano de 2014, os fabricantes de calçados preveem estabilidade no consumo doméstico, com recuo da produção nacional, aumento das importações e alguma recuperação nas exportações.

Este quadro reverte o desempenho da indústria nacional, que fechou o ano de 2013 com aumento de 7% no volume de produção, segundo levantamento do Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi).

Mas, segundo a Abicalçados, entidade que reúne as empresas que produzem calçados no país, a produção em 2013 também encolheu, embora não tenha informado o tamanho do recuo. No ano de 2012 foram produzidos 864 milhões de pares, relata Heitor Klein, presidente da Abicalçados, com base em dados do Iemi.

Para 2014, a Abicalçados projeta "no máximo" uma estabilidade no mercado doméstico de calçados, que tende a ser prejudicado por fatores como a inflação resistente, o comprometimento da renda dos consumidores e a concorrência de produtos associados à Copa do Mundo, disse Klein.

Segundo o executivo, os segmentos que tiveram melhor desempenho no ano passado no mercado interno foram os de calçados femininos em couro, laminados sintéticos e injetados em plástico ou borracha. Já os sapatos masculinos mantiveram "estabilidade", diz.

O ritmo de crescimento do produto importado superou o calçado nacional no ano passado. Nos primeiros onze meses de 2013, as importações avançaram 10,6% em volume e 14,8% em valor, em relação a igual período de 2012, para 37,1 milhões de pares e US$ 544 milhões, respectivamente.

Do lado das exportações, o maior problema no ano passado foi a Argentina, que barrou a entrada dos calçados brasileiros (ver reportagem ao lado).

As empresas brasileiras exportaram aos argentinos o equivalente a US$ 115,8 milhões de janeiro a novembro de 2013, com queda de 12,5% sobre o mesmo intervalo de 2012.

O volume e o valor dos calçados embargados pelo governo argentino - 700 mil pares no valor de US$ 13 milhões - são pequenos diante das exportações ao mercado argentino e das exportações totais de calçados, que somaram US$ 986,9 milhões e 110,1 milhões de pares de janeiro a novembro.

O problema é que as restrições geram insegurança entre os exportadores e os negócios ficam mais fracos a cada ano.

"Precisamos de previsibilidade", afirma o presidente da Abicalçados.

A Argentina ainda é o segundo maior mercado externo para os calçados brasileiros, atrás dos Estados Unidos, e a queda nos embarques para lá até novembro foi responsável pelo recuo de 0,8% nas exportações totais do Brasil no período.

Conforme o executivo, um acordo precisa ser firmado até este mês de janeiro, quando começam as vendas das coleções outono-inverno, ou todo o primeiro semestre de 2014 poderá ser perdido, pois as encomendas para a primavera e o verão são feitas só a partir de julho.

Mas apesar da longa crise com a Argentina, as projeções da Abicalçados para as exportações globais do setor em 2014 até que são positivas.

Independente do desfecho do imbróglio com o principal sócio do Mercosul, Klein prevê "alguma recuperação" das vendas externas no ano que vem, favorecidas pelo real mais barato e pela manutenção da desoneração da folha de pagamento das indústrias do setor, que permitem alguma redução dos preços dos produtos brasileiros.

Segundo o presidente da Abicalçados, esses dois fatores, mais o Reintegra (Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras), que expirou no fim de dezembro e devolve até 3% do valor das exportações para as indústrias brasileiras sob a forma de créditos de PIS e Cofins, contribuíram para a queda de 8,3% no valor médio por par de calçado exportado pelo Brasil de janeiro a novembro, para US$ 8,97.

Para o acumulado de 2013, entidade projeta uma "variação mínima", para mais ou para menos, em relação às exportações totais de US$ 1,1 bilhão em 2012.

Além dos fatores macroeconômicos, a associação conta com a parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações (ApexBrasil) para prospectar novos mercados com alto potencial de consumo para calçados brasileiros de maior valor agregado, principalmente em couro e laminados sintéticos.

Segundo Klein, os países alvos em 2013 e 2014 são Rússia, China e África do Sul, onde o setor está concentrando os esforços em promoção e distribuição.

Neste ano, conforme a Abicalçados, a Rússia já aumentou em 24,4% as importações de calçados brasileiros até novembro ante igual período de 2012, para US$ 24,2 milhões, com uma elevação de 23,3% no valor médio por par, para US$ 23,21.

A China ainda sequer aparece entre os 20 maiores importadores de calçados brasileiros, mas tem potencial para ultrapassar a Rússia (hoje em 11º lugar), afirma Klein.

Hoje os calçados injetados em plástico ou borracha correspondem a 44% do valor e a quase 80% do volume das exportações brasileiras e, conforme o gerente executivo de inteligência comercial e estratégia de negócios da ApexBrasil, Marcos Lélis, a maior oportunidade de crescimento está no segmento de produtos de couro, que tiveram uma alta de US$ 10 para US$ 30 no preço médio por par desde 2004 no mercado internacional. "Aí não vamos competir com os chineses, mas com os italianos e espanhóis", explica.

Para Lélis, além dos grandes mercados de calçados, como Estados Unidos e França, as maiores oportunidades de expansão das exportações nesse segmento estão em países emergentes com forte consumo de produtos de luxo, como a própria China e a Rússia e ainda Coréia do Sul, Hong Kong, Emirados Árabes e Índia. Conforme Klein, o trabalho do setor é mostrar que calçados brasileiros de qualidade similar à dos italianos pode custar de 30% a 50% menos.




Veículo: Valor Econômico


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