Brasileiro compara preço e compra menos

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Por Adriana Meyge | De São Paulo

A venda de 131 categorias de produtos de consumo frequente - como alimentos, bebidas e itens de higiene pessoal - deve terminar o ano em queda de até 1,6% em volume em relação ao ano passado, segundo a Nielsen. Para Olegário Araújo, diretor de atendimento da empresa de pesquisa de mercado, o viés de queda deve permanecer em 2014. "Se você agregar ao fato de que são produtos de alto giro e que a população cresce, [o recuo] é um quadro crítico", diz Araújo. O diretor da Nielsen projeta um ano muito mais competitivo para o varejo e a indústria.

Para ele, a família brasileira vive um momento de tensão em consequência do maior endividamento. O aumento da renda e o maior acesso ao crédito nos últimos anos possibilitou que o consumidor conquistasse novos bens e serviços, como automóvel, viagem e alimentação fora do lar. Mas o momento é outro. "Hoje a classe média, diante do endividamento, precisa fazer malabarismo e pensar: do que eu abro mão e o que vou manter ou, ainda, o que vou pagar primeiro?", diz o consultor.

De acordo com pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 62,2% das famílias se declararam endividadas com cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimos ou prestação de carro este mês. O percentual representou um recuo sobre o índice de 63,2% de novembro, mas foi o maior para um mês de dezembro desde 2010, início do levantamento. Em dezembro de 2012, 60,7% das famílias estavam endividadas.

Em 2013, a cesta de produtos pesquisados pela Nielsen deve ter um avanço real nas vendas em valor, seguindo a tendência apurada até agosto. Nos oito primeiros meses do ano, as vendas recuaram 2% em volume e tiveram aumento real de 2,2% (nominal de 8,7%), sobre o mesmo período do ano passado.

O volume de produtos vendidos havia ficado estável em 2012 em relação ao ano anterior. "A situação financeira da família brasileira piorou este ano", diz Araújo. Pesam no bolso dívidas de longo prazo, como financiamento de carro e imóvel, além de despesas com aluguel, juros do cartão de crédito e cheque especial.

O segmento de bebidas é o mais representativo da cesta e o que mais recuou no ano até agosto. Em cervejas e refrigerantes, há uma movimentação do consumidor para marcas mais baratas.

O consumidor reagiu pesquisando preços e comprando em diferentes tipos de lojas, como "atacarejo" - atacadista que também vende no varejo - e farmácias.

Nesse cenário, disponibilidade de produtos e preço foram essenciais para que algumas categorias de produtos crescessem em volume, segundo a Nielsen. No acumulado do ano até agosto, os aumento de preços este ano foram, em média, 18% menores do que no mesmo período do ano passado.

As marcas que conseguiram crescer nas categorias em queda precisaram fazer mais promoções e elevar a distribuição de seus produtos. Nesses casos, a contribuição dos lançamentos para as vendas foi três vezes maior que a média. "Estar no ponto de venda de forma competitiva e com novidade é essencial. É um baita desafio [para as empresas] para 2014", diz Araújo.

Araújo afirma que o brasileiro precisa equilibrar três pratos. O primeiro, com gastos essenciais, como alimentação. O segundo traz bens duráveis e semiduráveis conquistados, como carro, casa própria e eletrodomésticos. O terceiro são avanços em campos como lazer e educação. O consumidor precisa racionalizar as compras e os pagamentos nessas áreas. O desafio é encontrar maneiras de preservar o bem-estar conquistado e, ao mesmo tempo, manter as despesas sob controle. Isso significa conseguir pagar juros de parcelamentos e lidar com a inflação, que tem maior impacto nas classes C, D e E.

"Não é uma equação simples: o consumidor experimenta e busca praticidade e qualidade, mas de outro lado precisa economizar", diz Araújo. Apesar do crescimento do consumo esperado no longo prazo, o desafio permanece no curto prazo. "O cenário financeiro das famílias não vai mudar tão rapidamente", diz Araújo.



Veículo: Valor Econômico


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