Decisão da Lactalis põe futuro da LBR em xeque

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A decisão da francesa Lactalis de interromper as negociações para a aquisição da LBR - Lácteos Brasil, que está em recuperação judicial, põe o futuro da companhia brasileira em xeque. Ontem, a Parmalat S.p.A., controlada pela francesa Lactalis, informou que seu conselho de administração desistiu das negociações "porque atualmente as condições para completar essa transação não podem ser satisfeitas".

Conforme apurou o Valor, o negócio esbarrou na delicada situação financeira da LBR - a empresa está em recuperação judicial e tem dívidas totais de R$ 1 bilhão. Além disso, a situação fiscal da empresa é complicada e a própria LBR é complexa, já que não conseguiu integrar todas as operações desde que foi criada, no fim de 2010.

A expectativa da LBR com as negociações era favorável até a semana passada, quando a francesa encerrou uma "due diligence" na companhia brasileira. Em assembleia com credores no dia 30 de agosto, o diretor-presidente estatutário da LBR, Nelson Bastos, chegou a dizer que a expectativa era que a Lactalis fizesse uma "proposta firme" para os acionistas da LBR até a primeira quinzena deste mês. A assembleia foi suspensa até 30 de setembro para que os credores tivessem tempo de avaliar eventual proposta de aumento de capital da Lactalis na LBR.

Mas, ontem de manhã, as esperanças dos acionistas da LBR se esvaíram. O CEO da Parmalat S.p.A, Yvon Guérin, ligou para acionistas dizendo lamentar o desfecho porque desejava concretizar a operação. No entanto, o conselho de administração da Parmalat decidira não aprovar o negócio.

Em nota, a LBR informou que "segue normalmente no processo de aprovação do Plano de Recuperação Judicial apresentado em maio aos credores, plano este que é, e sempre foi, o curso de ação prioritário da companhia". A empresa reforça "sua convicção" de que o plano de recuperação será aprovado pelos credores. Mas o fato é que o cenário para os credores da LBR muda bastante com a desistência da Lactalis. A chegada da francesa significaria uma redução de risco para os credores, pois a possibilidade de inadimplência pela LBR seria menor. Agora, o cenário é incerto.

O plano de recuperação da LBR propõe o pagamento do valor de face dos débitos, mas quitação do principal só a partir de 2021 no caso de credores com garantia e quirografários (sem garantia). Credores considerados fornecedores essenciais seriam pagos em até 24 meses a partir da aprovação do plano. Os débitos com os quirografários financeiros somam R$ 517 milhões e com os credores com garantia real, R$ 120 milhões.

A LBR pediu recuperação judicial no início do ano após fortes perdas em 2012. Segundo a Monticiano Participações, maior acionista da LBR com 40,55% do capital da empresa, o laticínio teve prejuízo líquido de R$ 1,16 bilhão entre novembro de 2011 e outubro de 2012. Também perdeu R$ 1 bilhão ao avaliar o preço atual de ativos tangíveis e intangíveis registrados no balanço.

Os números mostram que a LBR necessita de recursos para fazer girar a operação. Mas resta saber se após a desistência da Lactalis, alguma outra empresa terá interesse na LBR. Especialistas do setor não acreditam que o BNDES (que tem 30,28% da companhia) patrocinaria uma nova operação envolvendo a LBR, que nasceu da união entre a Leitbom (Monticiano) e Bom Gosto. No ano passado, o banco teve de fazer uma baixa contábil de R$ 657 milhões por conta do resultado ruim da LBR.

Além da complexidade do negócio, a relação tensa entre Lactalis e o conselho de administração da Parmalat, por conta da aquisição desta última através de uma oferta hostil, também contribuiu para o fracasso da transação com a LBR, apurou o Valor. Mas o fim das tratativas foi amistoso. E as portas permanecem abertas caso a situação financeira e operacional da LBR se estabilize.

A Lactalis não chegou a fazer uma proposta para a LBR. O que o conselho de administração da Parmalat analisou foram as opções entre o alongamento da dívida da LBR e sua redução, com o pagamento à vista, após uma capitalização da companhia. Entretanto, nenhuma alternativa pareceu segura do ponto de vista financeiro.

Antes de a LBR pedir recuperação judicial, a Lactalis já havia conversado com a companhia brasileira, que tem a licença de uso no país da marca Parmalat, pertencente à francesa.



Veículo: Valor Econômico


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