Capital maranhense desperdiça 80 toneladas de alimentos por ano

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Um terço do que é produzido no mundo em alimentos é desperdiçado de alguma forma e não chega à mesa de quem precisa. O número corresponde a 1,3 milhões de toneladas, segundo estatística da Organização das Nações Unidas (ONU). No Brasil, são sete milhões de toneladas de alimentos que vão para o lixo, por ano, afirma a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Essa comida que se perde faz falta no prato de milhões. Segundo a ONU, uma em cada oito pessoas passa fome no planeta. São cerca de 87 milhões no mundo e 14 milhões no Brasil.

Na capital maranhense, segundo dados do Conselho Municipal de Segurança Alimentar (Comsea), por ano são desperdiçadas 80 toneladas de alimentos. Desse total, 30 toneladas poderiam ser beneficiadas e reaproveitadas distribuindo à população carente. É o que afirma o presidente do Comsea, José de Ribamar Sales Rocha. “A maioria destes estabelecimentos não possui um projeto para reaproveitar estes alimentos. Vimos que, muitos dos produtos estão na validade e próprios para consumo, têm apenas pequenas avarias não aceitas no comércio”, avalia Rocha.

A pesquisa do Comsea foi realizada em todas as feiras, mercados e supermercados; alguns restaurantes; e na Ceasa, maior centro de distribuição de hortifrutigranjeiros na capital. A entidade flagrou casos de grandes quantidades de frutas e verduras jogadas fora, em finais de feira, onde foi notado maior desperdício. “Só na feira do João Paulo, em um dia, encontramos três containers de cerca de 50 quilos cada, lotados de alimentos. Junto às folhagens, foram encontrados também muitos legumes e frutas com pequenos machucados. Com certeza, algo ali poderia ser reaproveitado se fosse separado, tratado e higienizado”, disse. O que não poderia ser usado para consumo poderia virar ração para animais e até adubo, sugere o presidente do Comsea.

Rocha aponta ainda o desperdício encontrado em restaurantes, onde o montante poderia resultar em mil refeições diárias. “Sabemos que no caso dos restaurantes há uma legislação que impede esse reaproveitamento, mas não seria descartado para ração ou adubo, por exemplo”, disse ele. E pontuou que os estabelecimentos poderiam produzir mais em acordo com a demanda e as pessoas, se servirem do que poderão consumir. “É uma questão de educação alimentar e que diminuiria o desperdício nestes locais”, ressalta Rocha. O trabalho foi tema de discussões com os demais conselhos para sensibilizar os gestores da importância de campanhas pró-reaproveitamento e na construção do Banco de Alimentos da capital.

Entreposto de alimentos


O Banco de Alimentos, segundo o Ministério de Desenvolvimento Social (MDS), é o instrumento oficial e espaço adequado para receber, triar, beneficiar, avaliar as condições e distribuir os alimentos à população que necessita. A gerência cabe às Secretarias de Segurança Alimentar (Semsa) dos municípios, assim como a destinação do que é arrecadado. Com esse instrumento, tudo que hoje é desperdiçado em alimentos iria para o Banco e teria o tratamento adequado, conforme determinam as normas, explica a titular da Semsa, Fatima Ribeiro. “Após esse processo poderiam ser distribuídos à população com a qualidade atestada e sem riscos à saúde. O Banco de Alimentos é de grande importância”, ressalta a secretária.

A criação desta ferramenta está em discussão pelo município para sua inclusão no Plano Plurianual (PPA) - lei que prevê a arrecadação e os gastos em programas e ações para um período de quatro anos. “Estamos cobrando essa inclusão, dada a necessidade da capital em possuir essa ferramenta e somarmos na diminuição da fome em nossa cidade”, destacou Fatima Ribeiro. Segundo o Comsea, 10% da população de São Luís vive em insegurança alimentar e seria esta a população prioritária atendida. “Com o Banco, o trabalho será feito junto às feiras, supermercados e Ceasa na arrecadação destes alimentos, realizando o combate direto ao desperdício”, afirma a titular da Semsa. O Banco de Alimentos tem ainda a possibilidade de arrecadar junto a parceiros, para distribuição em forma de cesta básica às famílias em situação de risco alimentar, em casos de emergências e situações de enchentes.

Reaproveitamento


A tentativa de tentar diminuir o desperdício parte da consciência da sociedade e da iniciativa de algumas instituições. Na rede de supermercados Mateus, por exemplo, a forma encontrada para diminuir o desperdício de alimento foi a parceria com o projeto Mesa Brasil, do Sesc. A rede disponibiliza hortifruti e gêneros de mercearia que passam por avaliação de nutricionistas e são encaminhados ao programa Mesa Brasil. As equipes do programa fazem nova avaliação, triagem e beneficiamento do produto para utilização. Os alimentos são repassados a empresas que mantém cadastro no projeto e distribuem às comunidades.

"São todos produtos dentro do prazo de validade, mas que apresentam alguma avaria na embalagem e que por isso, não vão à venda em loja”, explica a nutricionista do Grupo Mateus, Caroline Veras. Entre as avarias mais comuns estão latas com amassados, caixas de produtos com algum rasgado ou até rótulo incompleto; e no caso de hortifruti, apresentar alguma parte com imperfeição, que são prontamente cortados e se tornam aptos ao consumo. “Essa parceria garante o aproveitamento de muitos produtos que, em situação normal, seriam descartados por pequenas imperfeições. Com o tratamento dado, são incluídos na alimentação”, ressalta a nutricionista.

Outra iniciativa é o projeto Cooperar, da Cooperativa dos Hortifrutigranjeiros do Maranhão - Ceasa. Com a ação, o que é desperdiçado - frutas, legumes e verduras – são distribuídos gratuitamente a cerca de 300 famílias carentes dos bairros Jaracati, Anjo da Guarda, Ilhinha, Tibiri, entre outros. Alimentos que não foram vendidos, passam por higienização e são doados a famílias cadastradas no projeto. As entregas são feitas de segunda a sábado, a partir das 16h, e cada pessoa leva cerca de 20 quilos de alimentos limpos, ensacados e próprios para o consumo.

Os produtos são separados por funcionários da Ceasa e pelos próprios cooperados que organizam em cestas para distribuir. “Eles passam de boxe em boxe para arrecadar o que pode ser feito reaproveitado”, disse a secretária da instituição, Aída Tribuzi. O que não serve para consumo humano é doado para a alimentação de animais. Para a dona de casa Silvana Cerqueira, 34 anos, a iniciativa é importante, mas, poderia se estender a outras instituições. “Se todos os comércios fizerem dessa forma, as pessoas, como eu, vamos deixar de catar no lixo e receber o alimento de maneira mais digna”, enfatizou. O Cooperar iniciou em fevereiro de 2000, por sugestão de uma consumidora, por ter percebido o grande número de pessoas que recolhiam os produtos do lixo, correndo assim risco de saúde. Também após constatar a quantidade de alimentos desperdiçados ao fim das atividades e que poderiam ser revertidos para doação.



Veículo: Diário de Pernambuco


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