Lei agrária dificulta segunda fábrica da CMPC no Estado

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Patrícia Comunello

Patrocinadora do maior investimento privado industrial da história do Estado, a chilena CMPC, dona da Celulose Riograndense, quer construir uma segunda planta gaúcha. Mas o presidente do Conselho de Administração da companhia, Eliodoro Matte, revela, em entrevista exclusiva ao Jornal do Comércio, que o plano enfrenta a barreira da lei brasileira de compra de terras por estrangeiros. Hoje, um novo aporte, que pode muito bem seguir o volume do atual, R$ 5 bilhões, depende de mudança na regra. Enquanto exalta o empreendimento em Guaíba como “o maior já feito pela CMPC”, Matte adverte que a restrição fundiária foi um erro por abranger projetos industriais que dependem da base florestal. “A questão da terra é um grande limitador do nosso grande projeto industrial no Brasil”, resumiu. Na campanha para mudar a lei, até a área diplomática chilena tenta sensibilizar o Palácio do Planalto. O prazo para desatar este nó tem data. Após concluir a expansão da unidade de Guaíba em junho de 2015, o grupo focará um novo empreendimento.

Jornal do Comércio – Qual é a importância para a CMPC do investimento em Guaíba?

Eliodoro Matte – É o maior investimento da nossa história, e o maior que é feito no Estado, por isso nos preocupa a execução. Na parte de infraestrutura e engenharia, temos muita experiência. No Brasil, há muitas plantas desta envergadura em construção. A tecnologia de montagem é muito conhecida. Mas o mais difícil é o mercado quando o produto sai da planta, diante da grande quantidade de celulose. Há três plantas - Eldorado Brasil Celulose, Suzano e Arauco-Stora Enso (Uruguai) entrando em operação, enquanto o mundo registra freio na demanda, especialmente na China. É um problema para os preços.

JC - A desaceleração é maior do que se esperava?

Matte – Sim, mas os chineses têm todas as ferramentas para fazer com que a economia interna não caia mais, têm muita reserva e potencial de consumo. O país precisa manejar a situação, que decorre da queda do investimento, hoje em um nível muito baixo. Agora é hora de estimular o consumo. Se a atividade do gigante não tiver expansão de 10% a 11% ao ano, não deve baixar de 7% a 8%.

JC – E se ficar abaixo desses percentuais?

Matte – Não acredito. Se baixar a 3% a 4% é um problema não apenas para a indústria de celulose, mas para a mineração e todos os setores, mas temos de ser otimistas (risos). O importante é que estamos construindo aqui no Rio Grande do Sul a planta com a produção com custos mais baixos do mundo, porque a produção de madeira é próxima e a logística é muito boa. Partimos com a celulose em barcaças até o Porto do Rio Grande, e dali se vai a todos os cantos do mundo. Outras plantas que estão sendo montadas estão a 800 quilômetros de qualquer terminal de embarque. Estamos tranquilos, o que garante boa possibilidade de terminar bem o projeto.

JC – Desde a aquisição da fábrica, a CMPC teve alguma dúvida sobre a ampliação?

Matte – Nunca. Quando compramos a unidade (no final de 2009), tomamos a decisão de fazer o investimento. Pagamos um preço que já considerava o projeto, depois compramos os ativos do projeto Losango (Fibria).

JC – Após concluir o atual projeto, há planos de nova ampliação ou outra planta no Brasil?

Matte – Tudo dependerá da disponibilidade de terras. Hoje há problemas para aquisição de áreas por estrangeiros, que não é permitida por lei. Isso é um problema.

JC – O senhor exaltou a segurança jurídica local, mas essa restrição não gera temor sobre o futuro?

Matte – A segurança jurídica é muito importante, mas se cometeu um erro na regra sobre a compra de ativos. Por problemas com a soja, ante o avanço de chineses sobre as áreas, o governo vetou todos os negócios. Isso atingiu a todos e precisa ser corrigido. Não é lógico que estrangeiros possam investir em unidades industriais, mas não em terras. É muito ridículo.

JC – Essa é uma limitação a novos projetos?

Matte – Sim, claro, pois estamos limitados a este investimento em Guaíba. Não podemos ampliar as áreas florestais. Estamos limitados à base cultivada próxima daqui e à Losango.  Para crescer mais, não temos base florestal, o que gera um sério problema. Se tivesse maior disponibilidade de terras, o Rio Grande do Sul poderia ter outra localização, outra planta. Asseguro que o Estado tem áreas para serem cultivadas.
Papel e celulose devem ficar mais competitivos em função do câmbio

O novo patamar do câmbio também deve mudar a lógica de perdedores e vencedores da indústria. Os setores exportadores deverão ser beneficiados, enquanto os importadores terão de rever o custo. “O sentimento sobre a desvalorização cambial na indústria em geral é positivo, mas para alguns setores essa mudança é mais benéfica”, diz Roberto Gianetti da Fonseca, diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Derex) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Segundo ele, o setor de papel e celulose deve ganhar competitividade com o novo patamar de câmbio, mas os setores com alto nível de importação e concentrados no mercado interno podem ter dificuldade. A escalada cambial já tem provocado uma melhora da rentabilidade das exportações, ressalta Rodrigo Branco, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). De maio para junho, houve alta de 2,9% em razão da expressiva desvalorização do câmbio nominal, de 7,4%. No acumulado do ano, porém, há uma queda de 5% na rentabilidade.

Com saldo negativo de R$ 6,475 bilhões na balança comercial do primeiro semestre - 38% maior que o de igual período do ano passado -, o setor automotivo ainda não tem claros os impactos que o dólar na casa dos R$ 2,30 podem causar. “Festejamos e choramos ao mesmo tempo”, diz o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan.

Segundo ele, no curto prazo, os componentes importados vão ficar mais caros, mas, no médio prazo, pode ocorrer um estímulo às exportações. Na semana passada, a Anfavea reviu suas projeções para vendas externas em 2013, que passaram de 420 mil para 534 mil veículos, 20% ante 2012. Antes, a alta esperada era de 5%. Em valores, o ano deve fechar próximo a US$ 16 bilhões, 8,8% a mais que no ano passado ante previsão inicial de repetir os US$ 14,7 bilhões exportados em 2012.



Veículo: Jornal do Comércio - RS


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