Produtores de banana temem concorrência 'desleal' do Equador

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Medo dos produtores é de que a cultura do Equador dissemine pragas que não ocorrem no Brasil

Os produtores de banana da Bahia temem a entrada da fruta produzida no Equador no mercado brasileiro. A produção do país vizinho atualmente é barrada por medidas protecionistas do Brasil, mas há uma forte pressão para a sua liberação.

Os bananicultores da Bahia argumentam que o custo de produção no país vizinho é muito menor, já que  a atividade é subsidiada pelo governo e os gastos com mão de obra são pequenos, o que torna a concorrência desleal. Por isso, os produtores têm pressionado o governo para que não permita a importação.

"Enquanto o nosso custo de produção de uma caixa de 20 kg de banana varia entre R$ 8 e R$ 11, eles produzem a mesma quantidade por R$ 4", compara o produtor de Bom Jesus da Lapa e conselheiro da Associação Frutas do Oeste Ady Santos de Oliveira.

A Bahia tem a segunda maior produção de bananas do Brasil, ficando atrás apenas de São Paulo. Dos 7,5 milhões de toneladas anuais colhidos no País, 1,2 milhão é daqui. Segundo dados da Secretaria Estadual da Agricultura  (Seagri), em 2009 a renda proveniente da banana ultrapassou R$ 1 bilhão na Bahia. O volume corresponde a uma fatia de  13,4% do total produzido no País.

A banana é uma cultura importante para a agricultura familiar, que representa, somente no Estado, 60% dos bananicultores. O risco de perda de renda para esse tipo de produtor pode se dar a curto prazo, caso o Equador ingresse no mercado nacional, mas para os grandes    não é menor,  ameaçando os empregos gerados em seus negócios.

"As empresas que produzem banana estão preocupadíssimas. Se o Equador entrar no mercado brasileiro,  vão fechar as portas", diz Ady, que tem ido, representando a Bahia, às reuniões da Confederação Nacional de Bananicultores (Conaban).

Doenças

A possibilidade de a fruta equatoriana  trazer doenças também preocupa o setor. A sigatoka-negra é a mais temida delas. O fungo,  Mycospharella fijiensis (Morelet) deighton, ataca as folhas da planta e reduz a produção dela.  É uma praga de fácil contaminação, podendo ser propagada até pelo vento.

Apesar de existirem defensivos capazes de controlá-la, a aplicação deles faria o custo de produção aumentar. A Bahia, que só tem registros da sigatoka-amarela, forma mais branda do fungo, é atualmente uma área livre da praga.

"Se  a sigatoka-negra chegar aqui, não vai ser o fim do mundo, mas o uso de defensivos para lidar com ela pode onerar em até 30% os custos da produção de banana", diz o presidente da Associação dos Produtores de Banana da Bahia, Ervino Kogler.

O volume de uso de agrotóxicos no Equador é outra fonte de crítica dos produtores nacionais. A diferença chega ser 10 vezes maior em relação ao Brasil, e são utilizados defensivos que nem são permitidos no País.

Queda do preço

O que o Brasil produz é suficiente para o mercado interno. Mas o secretário-executivo da Câmara Setorial da Fruticultura da Bahia, Ivan Pinto da Costa, acredita que, mesmo que a banana do Equador entre em pequenas quantidades no mercado nacional, isso irá forçar a queda do preço da fruta por aqui.

"Sei o que é isso por causa do que aconteceu com a uva. A que vem de fora, um pouquinho que vende, já joga o preço da fruta nacional para baixo", diz Costa.

Ele  acredita que a banana pode, inclusive, abrir as portas para o maracujá e a manga equatorianos. "Há  dois anos entrou no País o suco de maracujá do Equador, que derrubou o preço do maracujá na Bahia. Na época, a caixa da fruta chegou a ser vendida até por R$ 4, quando o comum é vendê-la a R$ 20, R$ 25", diz.

Maior exportador de bananas do mundo, o Equador cobiça o mercado brasileiro desde 2005. Agora, o país anunciou que está de acordo com os requisitos fitossanitários necessários para exportar ao Brasil, conforme determina a Organização Mundial do Comércio (OMC), e pressiona pela liberação. 

O secretário da Agricultura e presidente do Conselho Nacional de Secretários de Agricultura (Conseagri), Eduardo Salles, tem apelado à presidente Dilma Rousseff e ao Ministério da Agricultura para resolver a questão.

"O ministro (Antônio Andrade, da Agricultura) sinalizou que está do nosso lado. A OMC rege essas regras, e nós, como país, temos que impor as nossas barreiras. Cabe aos ministérios da Agricultura e das Relações Exteriores inviabilizar a importação", afirma Salles.



Veículo: A Tarde - BA


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