Tomate perde a majestade

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Depois de ficar conhecido como vilão da inflação e virar alvo de piadas e protestos nas redes sociais, fruto fica barato e produtores abandonam lavoura para evitar mais prejuízo


Eleito o vilão da inflação nos últimos meses, quando o preço do quilo superou o de alguns cortes de carne e virou meme nas redes sociais (leia quadro), o tomate anda tão em baixa que há agricultor jogando a lavoura ao chão. Produtores que venderam a caixa de 20 quilos a R$ 80, no primeiro trimestre, agora não conseguem mais que R$ 20 no produto. Bom para o consumidor: o preço médio do quilo nos supermercados e sacolões de Belo Horizonte despencou 51,60% apenas nos últimos 30 dias, de R$ 3,89 para R$ 1,88, segundo o relatório sobre o custo da cesta básica, divulgado ontem pela Secretaria Adjunta de Segurança Alimentar e Nutricional (Smasan).

O quilo do tomate já chegou a ser vendido a R$ 8 em alguns sacolões da cidade neste ano. A disparada do preço ao longo do segundo semestre de 2012 e no primeiro trimestre de 2013 ocorreu em razão de problemas climáticos no estado de São Paulo. A lei da oferta e da procura beneficiou os agricultores mineiros. Para ter ideia, levando-se em conta o preço médio da caixa de 20 quilos, o valor subiu de R$ 17,80, em julho de 2011, para R$ 51,20 em igual mês de 2012. O auge da cifra ocorreu em março de 2013: R$ 59,20. Desde então, porém, o valor vem caindo: R$ 39,60 em maio, R$ 23,40 em junho e R$ 13 em julho.

“O meio do ano é um período de maior oferta. Muita gente aumentou a produção, em março, no pico (dos preços ao produtor). A tendência é voltar ao ciclo normal, com o valor começando a subir. Mas não serão preços abusivos. A não ser que ocorra situação climática que justifique novos aumentos. Para o produtor, o valor deve chegar a R$ 1 o quilo (no fim do ano)”, disse Pierre Vilela, coordenador da assessoria técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg).

Enquanto isso não ocorre, produtores mineiros lamentam a perda na receita. Há casos em que o custo injetado na plantação (insumo, sementes, irrigação, mão de obra, frete etc.) é maior do que o valor pago pelo mercado. Resultado: há agricultores que optaram por jogar a lavoura ao chão. É o caso de Welington Alves Rodrigues, de 43 anos, dono de uma plantação em Perobas, distrito de Jequitibá, na Região Central do estado e a 105 quilômetros de Belo Horizonte.

Mais conhecido pelo apelido de Tonga, ele lamentou a perda, mas preferiu ver boa parte de sua plantação no chão, servindo de adubo. Por algumas semanas, no primeiro trimestre, ele negociou cada caixa de 20 quilos por R$ 80. Atualmente, não consegue mais de R$ 20 pela caixa. Diante da redução drástica, decidiu apostar no milharal. “Terminei de arrancar tudo e vou passar a máquina para plantar milho. Não vale a pena continuar cuidando (dos tomateiros), colocar o alimento nas caixas e levá-lo para vender, pois a perda é grande”, justificou Tonga.

A 100 quilômetros de lá, na pacata cidade de São José da Varginha, já no Centro-Oeste de Minas Gerais, produtores estão vendendo a caixa com a mesma quantidade do fruto por um preço ainda menor: R$ 10, em média. “O problema é que o custo de cada uma é de aproximadamente R$ 15”, calcula Milton Moreira, de 58 anos, presidente da Unicenter, uma central de negócios que reúne agricultores de outros cinco municípios daquelas bandas – Pará de Minas, Onça do Pitangui, Maravilhas, Florestal e Pequi.

Em março, recorda Milton, ele e seus colegas da central – esse tipo de entidade tem como objetivo unir produtores para barganhar preços de insumos – conseguiram negociar cada caixa por R$ 60. “Foi o melhor preço que conseguimos na lavoura”, recordou o agricultor de São José da Varginha. A expressão “preço na lavoura” adoça os ouvidos de qualquer produtor rural, pois significa que o comprador pagará o preço e buscará a mercadoria na fazenda.

Isso ocorreu com o tomate este ano, quando os compradores de São Paulo e outros estados pagavam bem e buscavam o produto nas plantações, em Minas.

CESTA BÁSICA As sucessivas quedas no preço do tomate ajudaram no recuo do preço da cesta básica em Belo Horizonte. O valor total dos 45 produtos pesquisados pela Smasan caiu de R$ 569,24, em 1º de julho, para R$ 555,87 em 1º de agosto – queda de 2,4%. O tomate registrou o maior percentual de queda entre as duas pesquisas, da ordem de 51,6%. Para ter ideia do que esse percentual representa, basta dizer que o segundo maior recuo foi o do quilo da cebola, cujo índice de redução foi de R$ 38,81 – o valor médio desse alimento foi de R$ 2,48.

Batata e feijão no páreo

Enquanto o quilo do tomate despenca no país, o da batata e o do feijão sobem. O do tubérculo, por exemplo, registrou o maior aumento entre janeiro e junho, segundo o último balanço divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referente ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país. O indicador informa que o preço da batata subiu 67,84% no país no acumulado do primeiro semestre de 2013. O do feijão carioquinha, 41%.

Os dois percentuais estão bem acima da inflação oficial do Brasil, que fechou o semestre em 3,15%. “Houve uma falta da chamada batata semente. O Brasil importa o produto (sobretudo da Europa) e houve dificuldades para isso. Também se deve ao encarecimento do dólar”, acredita Pierre Vilela, da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg). Na Ceasa Minas, maior entreposto do estado, o quilo da batata subiu 33% no primeiro semestre: “De R$ 1,24, em janeiro, para R$ 1,65, em junho”, informou Ricardo Martins, da seção de informações da Ceasa Minas.

Em julho, porém, o preço continuou alto no confronto com janeiro, mas registrou um pequeno recuo: para R$ 1,59. Ricardo Martins acredita numa tendência de novas quedas. “O estado do Paraná está com uma boa oferta.”

PREFERÊNCIA NACIONAL
Em relação ao feijão, a causa, novamente, está nas condições climáticas. Houve seca e chuvas desregradas no primeiro ciclo, de março a abril, afetando 30% da lavoura em Minas, o segundo maior fornecedor do grão no país. No Paraná, estado que lidera esse ranking, problemas no clima também prejudicaram a produção.

A queda na safra do feijão será prejudicada com o vazio sanitário que irá vigorar, pela primeira vez no estado para a cultura do grão, de 15 de setembro a 25 de outubro. O vazio sanitário, que é comum em lavouras de algodão e soja, proíbe a plantação em uma determinada região para o combate de pragas. No caso do feijão, a ordem vai vigorar no Noroeste de Minas, responsável por 70% da produção mineira do terceiro e último ciclo do ano, e visa exterminar a mosca branca.

As quedas nas safras de feijão levaram o governo federal a anunciar, em junho, a redução de 10% para zero na Tarifa Externa Comum (TEC) sobre as compras do grão junto a nações fora do Mercosul. Para o ministro da Agricultura e Pecuária, Antônio Andrade, o país vai precisar importar 200 mil toneladas de feijão até o fim de outubro.



Veículo: Estado de Minas


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