Cenário difícil no setor de eletrodomésticos: No cenário do 2º semestre, demissões

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As fabricantes de eletrodomésticos e eletroeletrônicos tiveram um primeiro semestre difícil e a perspectiva para a segunda metade do ano não é animadora. Na Zona Franca de Manaus, importante polo de produção do setor, as companhias projetaram uma demanda que não apareceu. O estoque nas fábricas aumentou e o que foi vendido, saiu por um preço menor. Nesse cenário, algumas companhias optaram por cortar pessoal. A indústria começou a ensaiar uma recuperação em julho, mas a perspectiva para o segundo semestre não é boa e a política de enxugar a folha está mantida para os próximos meses.

O clima pouco animador do setor de eletroeletrônicos vai em linha com a Sondagem Industrial, divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) na sexta-feira. A CNI informa que cresceu a insatisfação em relação a margens de lucro e situação financeira das empresas. "Os empresários não estão muito otimistas com relação à contratação de trabalhadores", diz o documento.

"Ninguém está contratando. E demissões não estão descartadas para o segundo semestre", diz um executivo do setor. "No momento, os cortes são pontuais, em um ou outro turno. Quando a perspectiva é boa, você tira operário de uma linha, de TV, por exemplo, e coloca em uma de smartphone. Mas isso não está acontecendo", diz a fonte.

No caso de televisão LCD, por exemplo, a receita média por unidade vendida nos cinco primeiros meses do ano apresenta queda de 4,26%. O valor médio de cada televisão saiu por R$ 998 em 2013, ante R$ 1043 em 2012. Os valores consideram a inflação (IPCA) do período. Entre janeiro e maio de 2013, a produção da TV LCD caiu 3,3% e o estoque da indústria registrou 25 mil unidades. No mesmo período do ano passado, o estoque da TV LCD ficou negativo em 30 mil unidades.

Ou seja, nos cinco primeiros meses de 2013, a indústria produziu menos, vendeu TV LCD por um preço menor e ainda arcou com os custos relativos aos estoques, a despeito de qualquer tipo de sazonalidade relacionada às vendas. Os dados são da Suframa e foram compilados pelo Valor Data.

As fabricantes de TV estão entre as dez empresas que mais demitiram metalúrgicos na Zona Franca de Manaus no primeiro semestre deste ano: Samsung (647 pessoas), Semp Toshiba (458), Sony (279) e LG (278).

Em geral, as companhias dizem que as demissões estão dentro do padrão. De fato, o total geral de demissões de metalúrgicos na Zona Franca de Manaus no primeiro semestre de 2013 foi de 12.155 - menor do que os 12.787 demitidos no mesmo período do ano passado, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas.

Mas o que preocupa, segundo executivos ouvidos pelo Valor, é que os cortes de pessoal podem aprofundar-se na segunda metade do ano, período que concentra a maior parte das vendas do setor. A conta vai depender da demanda que tiver sido projetada pelas empresas e da capacidade de absorver o aumento dos custos.

Electrolux, Semp Toshiba, Wap e Flextronics informam que demitiram funcionários para se ajustar à demanda. A Semp Toshiba informa que "reestruturou as operações da fábrica da Zona Franca de Manaus para adequar-se à demanda do mercado nacional. As mudanças incluem redimensionamento de equipes e processos". A Flextronics, fabricante de acessórios para eletroeletrônicos também da região, demitiu 220 pessoas.

O corte de pessoal não foi feito apenas em Manaus. A Electrolux demitiu 286 pessoas em Curitiba no primeiro semestre "para ajustar os níveis de estoque". A Wap, que vende máquinas para limpeza industrial e doméstica, desligou 20 pessoas, equivalente a 10% de seu quadro, também em Curitiba.

Whirlpool reduz projeção de aumento de vendas

A fabricante de eletrodomésticos americana Whirlpool, dona das marcas Brastemp e Consul, reduziu sua projeção de crescimento de vendas unitárias na América Latina para entre 1% e 3% em 2013. A estimativa anterior era de uma alta de 3% a 5%. A concorrente sueca Electrolux projeta um volume de vendas "ligeiramente positivo" no ano na região.

As informações constam em relatório de resultados do segundo trimestre das empresas, ambos divulgados na sexta-feira.

Entre abril e junho, as vendas da Whirlpool na região que inclui o Brasil cresceram 6%, para US$ 1,2 bilhão, e o lucro operacional avançou 31%, para R$ 135 milhões. O desempenho foi puxado por benefícios de créditos fiscais no Brasil no valor de R$ 24 milhões. Não fosse isso, o lucro operacional teria crescido menos - 10% -, mas ainda com expansão de margem.

Segundo a Whirlpool, "o aumento das vendas e da produtividade mais do que compensaram os maiores custos de materiais e o patamar mais elevado da moeda estrangeira".

Em teleconferência com analistas e investidores, o presidente da Whirlpool, Michael A. Todman, disse que a companhia sentiu uma desaceleração no Brasil em junho, por causa da onda de protestos, mas que já percebe a demanda voltando a um ambiente "mais normal".

O presidente mundial da Electrolux, Keith McLoughlin, disse na teleconferência de resultados da empresa que perdeu algumas poucas semanas de pedidos por conta das manifestações.

Todman, da Whirlpool, se disse otimista em relação às perspectivas de médio e longo prazo para o Brasil porque "os fundamentos são corretos, e o os níveis de penetração ainda são baixos".

O executivo afirmou ainda que, no segundo trimestre, a Whirlpool mostrou sua capacidade de ganhar participação de mercado diante dos problemas enfrentados pela concorrente mexicana Mabe, fabricante das marcas GE, Dako e Continental, que está em recuperação judicial. "Esperamos que essa tendência continue ao longo do ano, a medida que continuamos a lançar produtos inovadores no mercado".

A Whirlpool também reduziu suas previsões de crescimento na Ásia e na Europa, mas aumentou as projeções para a América do Norte. Globalmente, a companhia registrou lucro líquido de US$ 198 milhões no segundo trimestre, alta de 75% sobre um ano antes. A receita líquida, na mesma comparação, subiu 5,3%, para US$ 4,7 bilhões.

A Electrolux registrou receita líquida de 5,4 bilhões de coroas suecas (US$ 818 milhões) na América Latina no segundo trimestre, em alta de 5,6% sobre igual período do ano passado. O Brasil vem perdendo espaço na operação latino-americana da empresa e no último trimestre foi responsável por 35% das vendas totais da região.

O maior volume de vendas e os preços mais altos da Electrolux na região foram ofuscados por custos de produtos e de matéria-prima elevados no trimestre. De acordo com a companhia sueca, a valorização do dólar ante o real contribuiu para a queda de 17,4% em seu lucro operacional na América Latina, para 261 milhões de coroas suecas (US$ 40 milhões). A margem operacional recuou de 6,1% para 4,8%.

"Considerando o nível atual do real, esperamos um impacto cambial negativo na América Latina ao longo do resto do ano", afirmou McLoughlin, em comunicado.

A Electrolux informou que houve maior demanda por aparelhos de ar condicionado e máquinas de lavar roupas no Brasil no segundo trimestre, mas o ritmo de crescimento diminuiu ao longo dos meses.

No mundo, o lucro líquido da Electrolux recuou 8% no segundo trimestre, para 642 milhões de coroas suecas (US$ 98 milhões). A receita líquida foi de 27,67 bilhões de coroas suecas (US$ 4,1 bilhões), praticamente estável em relação a um ano antes.




Veículo: Valor Econômico


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