Nelson Peltz busca apoio para unir Mondelez à PepsiCo

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O discurso bombástico e os trejeitos engraçados de um agitador não fazem o gênero de Nelson Peltz. Ele prefere trabalhar em isoladas salas de reuniões de conselho de administração, convencendo delicadamente uma empresa do grande potencial de seus esquemas. De fato, quando propôs um plano drástico para superdimensionar para depois retalhar a PepsiCo na semana passada, referiu-se repetidamente a Indra Nooyi, a principal CEO da companhia, como "boa amiga".

Mas o próprio fato de ele falar de seus planos em público, para uma conferência de colegas investidores e para o público de TV ao vivo da CNBC, destacou os limites da amizade: Indra não quer fazer os negócios.

Tom Mullarkey, analista da gestora de investimentos Morningstar, disse: "O fato de ele ter de ir a público significa que a PepsiCo não está interessada. Ele está tentando reunir a tropa."

Investidores que esperaram meses para ouvir os planos de Peltz depois que sua empresa de investimentos, a Trian Partners, revelou deter participações de bilhões de dólares tanto na PepsiCo quanto na Mondelez, concordaram. "Ele precisa de ajuda para o lado da PepsiCo na situação", disse um deles.

Eles podem estar abertos à persuasão. O plano que Peltz apresentou na quarta-feira prevê a compra, pela PepsiCo, da Mondelez, uma empresa de café e de petiscos doces que, segundo ele, complementaria as marcas de alimentos Frito-lay, da PepsiCo.

Peltz teve participação na criação da Mondelez, ao pressionar para que a fabricante britânica de doces Cadbury desmembrasse sua divisão de bebidas e vendesse o restante para a Kraft. A fabricante de chocolates formou então o núcleo da Mondelez quando a Kraft realizou seu próprio desmembramento, no ano passado.

A Trian quer que a PepsiCo compre o grupo com ações, num negócio avaliado em cerca de US$ 65 bilhões. Indra poderia então usar a demonstração de resultados da empresa combinada para assumir dívidas e pagar um dividendo especial aos acionistas equivalente a 20% do valor de mercado do grupo resultante da fusão.

O passo final seria desmembrar a divisão de bebidas, separando uma prosaica subsidiária que paga dividendos favoráveis ao investidor da operação de petiscos, que cresce de forma mais acelerada. Analistas e acionistas, segundo o argumento, recompensariam então ambas as partes com avaliações mais elevadas.

Kevin Dreyer, da gestora de ativos Gabelli Funds, que investe em ambas as empresas, apoia a ideia. "A Kraft, a empresa de crescimento mais lento, se saiu, na verdade, bastante bem na bolsa; em vista disso, seria possível termos uma avaliação superior à prevista para a empresa de bebidas", disse.

Peltz também argumenta que os salgadinhos Frito Lay complementam melhor os chocolates da Cadbury que as bebidas da PepsiCo. Um negócio nesse sentido reduziria os custos, realizando as "sinergias" tão almejadas pelos dirigentes de bancos.

A PepsiCo pode afirmar que já realiza a redução de custos; em alguns países, por exemplo, as latas de refrigerantes chegam às lojas nos mesmos veículos que entregam salgadinhos. Mas Mullarkey disse que os ganhos de eficiência de uma fusão com a Mondelez mais do que neutralizariam a perda dessas sinergias já existentes.

Os investidores, além disso, já estão impacientes com a Mondelez. As margens de lucro da empresa encolheram desde a aquisição da Cadbury, em 2010, e se promete uma melhora lenta. Um acionista disse: "Eles tiveram quase quatro anos para administrar essa empresa. Não há nada que propuseram que já não poderiam ter feito."

Mas o analista Ali Dibadj, da gestora de ativos Bernstein, advertiu que a teoria pode não se coadunar com a prática. "Do ponto de vista da Mondelez há um elemento humano... Temos um grupo de pessoas que trabalhou na Cadbury, depois na Kraft, depois na Mondelez e depois na PepsiCo? Isso tem um preço. Você perde gente, gera tensão no sistema."

Mais basicamente, no entanto, embora o preço aventado de US$ 35 a US$ 38 por ação pela Mondelez possa ganhar o apoio de seus acionistas, é a PepsiCo que precisa se convencer dos méritos de uma fusão ou aquisição, em primeiro lugar.

Uma fonte familiarizada com o modo de pensar da empresa qualificou o plano de "projeto fadado ao fracasso", e destacou a cotação das ações, que esta semana alcançou a alta recorde de todos os tempos de mais de US$ 85.

Indra disse a uma conferência de investidores este ano: "não precisamos de qualquer fusão ou aquisição transformacionais".

Peltz disse que 37 dos 40 maiores acionistas da PepsiCo já têm participações na Mondelez e estimulou-os a "se manifestar junto ao conselho de administração". Mas disse também que, se a PepsiCo fizer o quiser sem interferência, sua ação atingirá, de qualquer forma, US$ 105 até 2015. Ele poderá ter de engajar novos amigos.

Indra Nooyi tem estratégia oposta

Embora Nelson Peltz e outros investidores estejam pressionando a PepsiCo a desmembrar sua operação de petiscos da unidade de bebidas, a principal executiva da companhia, Indra Nooyi, tem outra coisa na cabeça: bebida à base de flocos de aveia.

A divisão Quaker da empresa vende uma bebida à base de aveia na América Latina e Indra destacou o produto como o possível futuro dos petiscos "bebificados".

"Os limites entre petiscos e bebidas estão ficando indistintos", disse ela em conferência com investidores em maio. "Continuamos falando artificialmente de petiscos e bebidas apenas porque algumas pessoas monitoravam esse setor de forma diferente. Acho que isso acabou. É a praticidade."

No período de 18 meses desde o lançamento, pela PepsiCo, de seu plano de melhoria de resultados, Indra se manteve firme diante das pressões dos investidores que não compartilham de sua visão de continuidade entre comer e beber. Seu agressivo plano de reestruturação entrelaçou o marketing de alimentos e de bebidas e aumentou os gastos com publicidade.

A firmeza de convicções na identidade da PepsiCo como uma "empresa integrada de alimentos e bebidas" é apropriada para a principal executiva, nascida em Chennai, que comandou a expansão da companhia para além das bebidas gasosas.

Indra, de 57 anos, ingressou na PepsiCo como estrategista corporativa em 1994 e ascendeu a diretora financeira em 2001. Ela esteve envolvida na venda da operação de restaurantes da empresa, atualmente Yum Brands, em 1997, e planejou a aquisição, em 1998, da Tropicana (de sucos) e a fusão, em 2001, com a Quaker Oats.

Mas o foco de Indra em produtos "saudáveis" como suco e iogurte atraiu críticas de que ela estaria ignorando os principais refrigerantes e petiscos da PepsiCo. Em fevereiro de 2012, Indra anunciou uma "correção de rumo de grandes proporções", prometendo gastar de US$ 500 milhões a US$ 600 milhões a mais no marketing e na publicidade das marcas "principais". Desde então, as ações da PepsiCo subiram quase 33%, e alcançaram esta semana a maior alta de todos os tempos, de mais de US$ 85. Mas a queda de longo prazo do consumo americano de refrigerantes ainda é um empecilho - e a PepsiCo reconhece que é necessário mudar.




Veículo: Valor Econômico


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