Investimentos em infraestrutura devem atingir US$ 1 trilhão até 2017

Até 2020, consumo de aço dobrará e país vai rivalizar com a China na importação de alimentos como soja e frango

A crescente dependência brasileira da China no comércio internacional faz exportadores refletirem sobre um novo alvo para os seus produtos.

Ainda não há mercados à altura do chinês, mas especialistas e empresários são unânimes a apontar o próximo grande destino: a Índia.

"A China é o mercado do presente, mas a Índia é o mercado do futuro", diz José Augusto de Castro, presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil).

Os motivos que farão da Índia um grande mercado consumidor são semelhantes aos que transformaram a China em um dos grandes motores do crescimento global: população numerosa, com uma migração crescente do campo para a cidade, aumento de renda e as consequentes demandas causadas por essa transformação social.

"A Índia vive um processo que aconteceu na China há dez anos", afirma Glauber Silveira, presidente da Aprosoja Brasil (Associação Brasileira dos Produtores de Soja).

Apesar de o crescimento da economia indiana também decepcionar neste ano --a estimativa do FMI (Fundo Monetário Internacional) é de expansão de 5,7%--, as projeções de longo prazo mantêm o otimismo.

"Embora o país ainda não tenha colocado em prática reformas e projetos de infraestrutura para sustentar um crescimento acima de 7% ao ano, ainda temos boas perspectivas para a Índia no longo prazo", diz Duncan Innes-Ker, analista sênior da Economist Intelligence Unit.

OPORTUNIDADES

Se a ausência das reformas compromete a sustentabilidade do crescimento, os investimentos em infraestrutura, que devem atingir cerca de US$ 1 trilhão até 2017, estimularão o desenvolvimento do setor siderúrgico.

"A Índia será o próximo grande ator nesse mercado", afirma Carlos Assis, sócio e líder de mineração da consultoria Ernst & Young.

O consumo de aço deve praticamente dobrar entre 2012 e 2020 na Índia, elevando a demanda por minério de ferro. E, embora a Índia seja um produtor relevante desse insumo, o governo do país tem dúvidas sobre a disponibilidade da matéria-prima.

"A indústria siderúrgica enfrenta o problema do esgotamento de reservas de minério com alto teor de ferro", relata a comissão de planejamento do governo indiano.

"A Índia vai precisar do minério de ferro brasileiro, que é o de melhor qualidade no mundo, e de outros minerais, como o nióbio, cuja produção está concentrada no Brasil", diz Eduardo Martins, diretor da consultoria KPMG, especialista em mineração.

FOME DE ALIMENTOS

Também há grandes oportunidades na área agrícola. Com o êxodo rural e a alta da renda, haverá mudanças nos hábitos alimentares.

Por características culturais, o mercado de carnes é pequeno na Índia. O frango surge como preferência entre as proteínas não vegetarianas, mas o consumo ainda é baixo, de 3 quilos per capita, ante a média mundial de 14 quilos por habitante ao ano.

Em dez anos, devem ser consumidos na Índia 11 quilos por pessoa, segundo estimativas do governo. A demanda por ovos, lácteos e alimentos industrializados também crescerá, aumentando, por tabela, a procura por insumos para alimentação animal, como milho e soja.

"Hoje os indianos são autossuficientes, mas vão precisar importar. Não há mais como aumentar as áreas e os ganhos de produtividade são limitados", afirma Silveira.

Até 2020, a Índia deve superar a China como maior importador de óleo de soja, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA.

O secretário interino de Comércio Exterior, Daniel Godinho, cita ainda o potencial para a exportação de sucos, vinhos e produtos de confeitaria, como chocolates.

Apesar de as exportações à Índia representarem só 1,3% do total vendido ao exterior neste ano, Godinho diz que o mercado indiano "já é uma realidade". "As exportações ao país aumentaram cinco vezes de 2008 a 2012", diz.



Veículo: Folha de S.Paulo