Mercado de trabalho dá sinais de acomodação

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A taxa de desocupação atingiu 5,8% em abril, pouco acima dos 5,7% registrados em março, segundo os dados da Pesquisa Mensal do Emprego (PME), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa é menor que os 6% de abril do ano passado e a mais baixa para o mês desde o começo da série histórica do IBGE, iniciada em março de 2002. Mesmo com o patamar recorde (de baixa), o mercado de trabalho já apresenta sinais de acomodação há alguns meses. Economistas concordam que, nos próximos anos, não haverá crescimento com o mesmo vigor dos avanços verificados nos últimos.

"Vivemos, na década passada, um momento de crescimento da atividade econômica que não vai mais se repetir nestes mesmos moldes nesta década", disse Fábio Romão, da LCA Consultores, lembrando o avanço rápido de renda e emprego que o país viveu principalmente nos anos anteriores à crise de 2009. "Deste modo, é até natural que a ocupação cresça menos e que a taxa de desemprego, mesmo que continue caindo, se reduza mais lentamente."

A perda de ritmo aparece na evolução da população ocupada, que, em abril, chegou a 22,9 milhões de pessoas nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, 0,9% mais que no mesmo mês em 2012. Esta foi a menor variação anual desde novembro de 2009, segundo Romão, e vem reduzindo o compasso mês a mês: no ano passado, o crescimento médio da ocupação foi de 2,2%, na média dos quatro primeiros meses deste ano caiu para 1,6% até chegar aos 0,9% com que cresceu em abril.

O mesmo acontece com a renda e com a taxa de desemprego. "A média de desocupação foi de 6,7% em 2010, de 5,5% em 2012 e, neste ano, projetamos 5,3%, muito próxima do que se viu no ano passado", disse Romão. "Ou seja, o desemprego continua caindo, mas não de forma tão significativa." Já o rendimento médio real, apesar de ter tido também seu melhor abril da história, ficou 0,2% menor que em março. O aumento de 1,6% sobre abril do ano passado, por sua vez, já é bem mais brando que a média de 4,2% com que os ganhos avançaram ao longo do ano passado. Em abril, o rendimento médio do brasileiro foi de R$ 1.862,40.

Roberto Padovani, economista-chefe da Votorantim Corretora, destaca que não só a acomodação na criação de novos empregos começa a refletir nos reajustes salariais, como a inflação alta, que tem reduzido os ganhos reais. Em abril, a inflação medida pelo IPCA, estava em 6,5%, contra os 5,1% que registrava no mesmo mês em 2012.

Padovani explica também que o mercado de trabalho responde, ao longo dos últimos meses, a uma desaceleração econômica que já veio acontecendo nos últimos dois anos, depois de pressionar a cadeia produtiva e a inflação ao longo deste período com a falta de mão de obra e salários cada vez mais altos. "A economia vem esfriando desde 2011, e essa desaceleração chega, tradicionalmente, com certa defasagem no mercado de trabalho", explicou o economista.

Neste sentido, um mercado de trabalho menos explosivo tende a trazer também menos pressões de salários e de custos para o processo produtivo, o que pode ajudar em um aumento da competitividade nas empresas. "O fato de o mercado de trabalho estar mais fraco contribui para a redução de custos de produção de modo geral, o que, mais na frente, abre espaço para uma recuperação econômica", disse Padovani.



Veículo: Valor Econômico


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