Shoppings crescem mais no interior e no Norte

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O setor de shopping centers brasileiro se vê imerso num fenômeno inédito em sua história. A quantidade de centros de compras instalados no interior deve ultrapassar a das capitais até o final de 2013. As razões para tal movimento dizem respeito ao potencial de crescimento das regiões menos populosas, e à questão de orgulho dos governos locais, que não se contentam mais em ir a uma cidade vizinha para dispor de um centro comercial.

"Não é a quantidade de pessoas que faz um shopping ganhar dinheiro, mas o potencial econômico da região onde ele está localizado. Se tornou motivo de vaidade ter um deles na cidade. Os prefeitos não querem perder para os vizinhos em termos de impostos gerados pelo estabelecimento;a população chega a cobrar deles um empreendimento desses", disse o presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), Luiz Fernando Veiga.

Executivos da entidade estimam que até o final deste ano, 258 estabelecimentos estarão instalados em cidades que não são capitais - 13 a mais dos que os 245 localizados nas capitais.

Otimista quanto ao bom momento do segmento, a associação prevê um crescimento de 12% no aumento das vendas, em 2013, com a inauguração de 48 novos empreendimentos no País. Deste montante, 16 shopping centers serão os primeiros a serem instalados nas cidades que os acolherão. "Atualmente, abrem-se mais shoppings no Brasil do que nascem crianças na China", brincou Veiga, que estima mais 23 centros comerciais em 2014.

No ano anterior, a separação de estabelecimentos distribuídos entre capitais e outros municípios se deu em 51% e 49%, respectivamente - dados estes muito diferentes dos de tempos passados, quando a proporção era de 85% a 15%. "Era raro você ver shopping no interior. Até pouquíssimo tempo atrás, uma cidade com até 100 mil habitantes jamais teria acesso a um shopping center", disse o presidente.

Conforme levantamento feito pela instituição, isso se modificou radicalmente. Hoje, 43% dos shoppings estão situados em municípios de até 500 mil habitantes. E 17 deles estão em lugares com até 100 mil habitantes.

O maior exemplo deste movimento de interiorização é a administradora 5R Shopping Centers. Com investimentos de R$ 150 milhões - valor reservado apenas à construção do estabelecimento -, o Praça Americana Shopping Center, do grupo, situado na cidade de Americana (SP), deve ser inaugurado ainda no primeiro semestre de 2015.

A cidade foi escolhida mediante o potencial de consumo da região, que é avaliado através da renda média de R$ 4.246 por mês, dos americanenses.

Outra cidade a receber um shopping da empresa é a Alvorada (RS). O primeiro centro comercial do município deve ser inaugurado no segundo semestre de 2014, mediante aportes que chegam a R$ 140 milhões.

Ainda no interior, a empresa divulgou investimentos de R$ 430 milhões para as obras do Praça Uberaba Shopping Center e do Praça Uberlândia Shopping, nas cidades de Uberaba e Uberlância, ambas em Minas Gerais. A explicação para o empreendimento está no crescimento econômico da região, acima da média nacional - 1,62% e 1,82% para os dois municípios, respectivamente. A previsão de inauguração do primeiro é para o segundo semestre de 2014, e do outro, para o segundo semestre deste ano.

César Garbin, sócio e diretor de operações da rede, explica as razões que levaram a empresa a projetos tão ousados fora das capitais. "O aumento do poder aquisitivo da população e, consequentemente da demanda, tem levado os shoppings para áreas que antes eram consideradas inviáveis", disse.

A maior companhia do segmento no País, a BR Malls, também não fica atrás no movimento, com shoppings em desenvolvimento em cidades como Cascavel (PR), Contagem (MG), Vila Velha (ES) e Guarujá (SP).

Outra grande do setor, a Sonae Sierra Brasil trabalha com dois novos projetos de expansão. Um deles é a inauguração, prevista para 2013, do Boulevard Londrina Shopping, em Londrina (PR).

Outra questão, levantada por Veiga, se dá no campo dos investimentos. "Para construir um shopping são necessários aportes de no mínimo R$ 250 milhões a 300 milhões. No interior, obviamente, o custo é mais baixo", destacou.

Fora isso, a burocracia pesa mais na hora de fazer um empreendimento em grandes centros urbanos, sem contar a acirrada concorrência, comum em mercados mais maduros. O presidente tomou como exemplo a cidade de São Paulo, que costuma apresentar inúmeros entraves aos empreendedores que têm interesse em montar um negócio no local. "É preciso passar por cima de muita gente para inaugurar um centro comercial na capital paulista. A burocracia é infernal", disse o executivo, comentando os atrasos recentes em obras realizadas na região.

Capitais

O deslocamento dos empreendimentos em direção ao interior, porém, não retarda o crescimento dos mesmos nas capitais do País. Por mais que se tenha comentado a saturação dos mercados mais tradicionais, o presidente da entidade faz questão de mencionar que há áreas dentro dessas regiões ainda com enorme potencial econômico. "Ainda cabe muito shopping em São Paulo. Existem locais que precisam ser abastecidos por este tipo de empreendimento", comentou o presidente da Abrasce, tomando como exemplo a capital.

Segundo ele, graças aos problemas recorrentes dos grandes centros urbanos do País, como o tráfego pesado e a violência, a maioria das pessoas prezam a segurança e a comodidade na hora de fazer as compras.

Por isso, os shoppings figuram entre os locais mais visitados pela população nacional: 65% dos brasileiros os frequentam ao menos uma vez por semana, visita cujo tempo médio varia em torno de 73 minutos.

Somado a isso, predomina-se a tendência de as pessoas irem aos estabelecimentos mais próximos à suas casas. Isso explica o fato de as capitais ainda atraírem a construção de inúmeros shoppings.


Veículo: DCI


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