O início da safra de látex em países da Ásia, previsto para agosto, já afeta o preço da borracha no Brasil. Seringueiros falam em baixas de até 13% entre junho e julho, acentuando um período de perdas que vem desde abril.
As perspectivas globais para o segmento, neste ano, são negativas: a desaceleração da economia chinesa e a crise financeira europeia esfriam o consumo de borracha, enquanto os seringais tendem a produzir mais.
"A borracha tem quase a mesma importância do petróleo, é a segunda commodity em importações do País. Então qualquer informação de mercado, mesmo sem confirmação, abala os preços", analisa o sócio da Fazenda e Usina Santa Helena, Fernando Guerra, que observa queda bimestral de 12% a 14% na própria tabela de valores.
Há duas semanas, a Associação Paulista de Produtores e Beneficiadores de Borracha (Apabor) estimava desvalorização de até 15% para a mercadoria, com a entrada da safra asiática e o aumento da oferta mundial, a partir do mês de agosto.
Na prática, as usinas passariam a receber, em média, R$ 6,58 pelo quilo, ante cerca de R$ 7,65 no mês atual. A remuneração dos produtores cairia de R$ 2,90 para até R$ 2,45, nas contas da associação de seringueiros e industriais.
"Mas o preço subiu um pouco em julho, então a queda não deve passar de 13% - o que já é um número bastante acentuado", pondera o presidente da Apabor, Heiko Rossman.
A produção paulista de borracha está se prolongando, e assim deve ir até o fim do mês. "Apesar do frio, tivemos uma chuva recente na região noroeste do estado. Isso deu maior fôlego aos seringais", diz o especialista.
O volume de borracha produzido no Brasil, segundo estimativas do segmento, será de 138 mil toneladas neste ano. Em 2011, não passou de 135 mil. Quanto ao consumo, cresceu 8% do ano passado para cá: de 367 mil para 385 mil toneladas - estimulado indiretamente pelo governo.
"Há muito espaço para se investir em borracha", afirma Rossman. "Em 2020, com demanda para 630 mil toneladas, deveremos atender apenas 35% do consumo interno. Haverá uma lacuna de 400 mil toneladas por ano", calcula.
Em sua avaliação, o período de entressafra, que se inicia entre julho e agosto no Brasil, é uma hora boa para se investir nos seringais. "Apesar da queda de preços de agora, o produtor foi bem remunerado ao longo do ano. É um bom momento para reduzir custos e melhorar a gestão."
Como as usinas não terão matéria-prima para beneficiar durante a entressafra, é importante realizar investimentos no parque industrial para diminuir o custo de beneficiamento, lembra a Abapor. Hoje, as usinas brasileiras já apresentam um valor baixo: gasta-se cerca de R$ 0,90 por quilo de borracha seca, de acordo com a associação, sediada em São José do Rio Preto, no interior do Estado de São Paulo.
Contexto mundial
Olhando-se para o mundo, a situação atual é diferente da brasileira. Ao contrário do País, que dificilmente alcançará a autossuficiência nos próximos vinte anos, no mercado global há possibilidade de ocorrer excesso de oferta e encolhimento de demanda.
Já no primeiro semestre, a China, que passa por um período de desaquecimento industrial, importou menos o produto, dando sinais do esfriamento e impactando a cadeia produtiva.
O consumo mundial de borracha, em 2011, foi de 10,92 milhões de toneladas, enquanto a produção ficou em 10,97 milhões. Rossman diz que, em 2012, o nível de consumo deve permanecer ou diminuir, e o volume ofertado, aumentar.
A Tailândia, a Indonésia e a Malásia, que começam em agosto a colher o látex, respondem por 70% da produção global.
Veículo: DCI