Promoções, panfletagem, entregas no local de trabalho ou em domicílio são as estratégias adotadas.
Promoções, panfletagem, entregas no local de trabalho ou em domicílio. São estas algumas das estratégias utilizadas pelos comerciantes da avenida Santos Dumont, no hipercentro da Capital, para minimizar as perdas em decorrência das obras do Bus Rapid Transit (BRT). As intervenções começaram no dia 15 de maio e, desde então, a queda no movimento em alguns dos estabelecimentos chegou aos 85%.
A proprietária da Drogaria Saúde Vida, Ieda Pereira, instalada há quase dois anos perto da esquina da rua São Paulo, comemorava, em janeiro, o crescimento dos seus negócios. "No início do ano estava feliz, tranqüila, pois pela primeira vez conseguia ter lucro", recorda. Mas a alegria dela durou pouco. Isso porque, devido às obras, Ieda Pereira viu seu faturamento cair de R$ 40 mil para R$ 16 mil por mês. Apenas o aluguel da loja e o salário da farmacêutica responsável pelos medicamentos consomem R$ 6.600.
Ieda Pereira recorda que o ponto de ônibus desativado em frente ao seu estabelecimento costumava ser responsável por elevar o fluxo de clientes. "Enquanto esperavam pelo transporte, as pessoas aproveitavam para entrar e olhar alguma coisa. Com isso, elas quase nunca saíam de mãos vazias", afirma a empresária. Agora, já que o cliente evita passar pela Santos Dumont, em decorrência dos transtornos que as obras geram, a equipe de colaboradores foi para as ruas em busca do consumidor.
Eles passaram a distribuir panfletos por todo o hipercentro, além de entregar os medicamentos de porta em porta sem custo nenhum. Ela observa que, apesar de estar bem longe dos patamares anteriores, a situação seria mais dramática não fosse pela estratégia. Para pagar os salários dos quatro funcionários, dois balconistas e dois caixas, ela recorre a empréstimos, pois diz não ter condições de arcar com os custos gerados pelas demissões.
Marmitas - As lanchonetes instaladas na Santos Dumont também cansaram de esperar o cliente ir até a loja, que continuam "às moscas". A JC Lanches, há quatro anos na avenida, passou a entregar marmitas para os trabalhadores do entorno. Apesar de suavizar os danos, a proprietária, Maria Cristina Delfino Guimarães, destaca que a concorrência parece ter começado a investir no mesmo segmento. Com a competição acirrada, os preços quase se igualam aos custos, variando entre R$ 6 e R$ 7, e as entregas ficam de dez a 15 por dia. "Assim, fica impossível lucrar muito", reclama.
O estabelecimento, que costumava faturar de R$ 27 mil a R$ 30 mil, arrecadou somente R$ 8 mil no primeiro mês após o início das obras. Ela lamenta a falta de dinheiro para investir em novas ações, visando à melhoria do negócio. "Não consigo financiamento, pois todos já sabem o quanto é arriscado emprestar para os lojistas da Santos Dumont, devido à gravidade da nossa situação", admite Maria Cristina. Ela acrescenta que são constantes as cobranças dos fornecedores e que nem todos se esforçam para entender o momento de crise por que passa.
Outro estabelecimento do mesmo ramo, o Point do Suco, também começou a vender marmitas. Contudo, o gerente, Mauro Sérgio Costa, afirma que a iniciativa não foi muito eficaz, tanto que ele já cogita encerrar as atividades. Na lanchonete, o faturamento diário caiu de R$ 1.900 para R$ 500. Costa frisa que até o mês passado seus cinco funcionários recebiam normalmente, mas que nada está garantido a partir deste mês.
O proprietário do Park Box Estacionamento, Dionísio Costa, diminuiu os preços praticados para atrair a freguesia. Hoje, a parcela mais significativa dos seus clientes é de mensalistas. Agora, o mês, que custava R$ 280, passou para R$ 260. Já a hora caiu de R$ 8 para R$ 6. Mesmo assim, a promoção não foi o suficiente para conter a queda de 85% no movimento.
Compensação - Os lojistas da Santos Dumont cobram uma postura mais assertiva da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) com relação à isenção de algumas taxas. A Secretaria Municipal de Finanças (SMF) estuda uma forma de conceder algum benefício, porém, faltam mecanismos legais que permitam essas compensações. De acordo com a presidente do Conselho do Comércio da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), Cláudia Volpini, por se tratar de um ano de eleições, a legislação não permite que a prefeitura conceda qualquer auxílio aos lojistas prejudicados.
"O secretário municipal de Finanças, José Afonso Bicalho, me explicou que sua pasta, juntamente com a Procuradoria Geral do município, está estudando a desapropriação temporária destas empresas. Assim, as lojas ficariam fechadas durante o período de obras e os proprietários seriam ressarcidos pelos prejuízos causados pelas mesmas. A previsão é de que a viabilidade da medida seja confirmada na próxima terça-feira", diz.
Além disso, todos os lojistas entrevistados afirmam que, se tivessem sido avisados com maior antecedência, os impactos seriam bem menores. Isso porque eles teriam como programar um planejamento financeiro ou tentariam passar o ponto para recomeçar em outro local. Todos os entrevistados afirmam ter tido apenas 20 dias para se preparar para as obras. Com isso, outra área que deve permanecer em alerta, devido à instalação do BRT, é a avenida Paraná. A previsão é de que as obras na via tenham início dentro de poucos meses.
Veículo: Diário do Comércio - MG