Entressafra e seca nas regiões produtoras pressionam cotação no mercado.
As panificadoras mineiras já estudam a possibilidade de um reajuste nos preços dos pães nos próximos meses. O motivo é a valorização recente do trigo, matéria-prima que representa cerca de 30% dos custos do setor. Desde janeiro, a tonelada da commodity subiu 11,41% no Paraná, passando de R$ 453,37 para R$ 505,12, e 12,33% no Rio Grande do Sul, de R$ 409,69 para R$ 460,24, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Os dois estados servem como referência por serem responsáveis por 80% da produção nacional.
Segundo a pesquisadora de trigo do Cepea, Renata Maggian Moda, são várias as causas para o aumento do trigo. Um deles é o período de entressafra, que vai de meados de março até julho. O pico dessa fase fica exatamente entre maio e julho. Somado a essa questão sazonal, a seca que assola o Rio Grande do Sul tem impedido a plantação do grão. Ainda não se sabe o percentual de redução da área cultivada, mas já se sabe que haverá uma queda. A Argentina, outro grande fornecedor de trigo para o Brasil, também tem sofrido com a seca. Por fim, a alta do dólar tem sido outro impulsionador de elevação do preço do produto. Renata explica que, em decorrência desses fatores apontados, a tendência é que os preços do trigo ainda subam mais nos próximos meses. A alta é garantida pelo menos até o fim da entressafra.
Com o aumento da cotação do trigo, o primeiro setor que tem sentido o impacto é o de panificação por causa da alta no preço da farinha. Segundo o vice-presidente da Associação Mineira da Indústria da Panificação (Amipão), José Batista, pesam sobre as padarias não só o aumento da farinha como também o alto custo da mão de obra. Levando em conta esse cenário, ele explica que o aumento do pão para o consumidor final tem se tornado quase uma necessidade de algumas panificadoras.
Ainda não dá para saber quando, nem de quanto será o reajuste do pão, porque isso depende da capacidade de absorção dos custos por parte de cada uma das panificadoras. Aquelas que já alinharam o valor da mercadoria poderão segurar os preços baixos por mais tempo. Porém, aquelas que estão com os preços defasados, terão que reajustá-los mais rapidamente. Minas Gerais tem hoje cerca de 8 mil padarias, que deverão crescer em média 10% frente ao ano passado, segundo estimativas da Amipão.
Estoque - A padaria Vianney, localizada no bairro Funcionários, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, ainda não está sentindo os impactos do aumento do trigo porque assim que a farinha começou a encarecer foi feito um estoque para aproveitar os preços menores. Segundo o proprietário da empresa, Pedro Santiago de Moraes, assim que o estoque comprado terminar ele irá avaliar a necessidade de aumento do pão.
Ele estima que a empresa tenha potencial para assimilar algo em torno de 5% de reajuste sem repassar para o consumidor final. Ele afirma que o produto, que hoje custa R$ 10,90 o quilo, poderá passar a ser vendido por algo próximo de R$ 11,80 ainda neste ano.
Já na padaria Boníssima, também no Funcionários, os custos da alta da farinha já estão sendo sentidos pela empresa. "A alta com certeza já está pesando para nós", afirma a diretora da padaria, Natália de Souza Carneiro. Ela explica que já está sendo estudada a possibilidade de reajuste do pão, que também custa R$ 10,90 o quilo. Ainda será avaliado o percentual de aumento conforme a evolução do custo de produção.
Veículo: Diário do Comércio - MG