Uma pesquisa da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu (SP), desenvolveu o "superalho", hortaliça que se manteve livre da contaminação de três grupos de vírus transmitidos por pulgões e ácaros, responsáveis pela formação das tradicionais cabeças de alhos miúdas que pesam entre 25 e 30 gramas.
Segundo o pesquisador Marcelo Agenor Pavan, alguns testes feitos em plantios comerciais, em Goiás, atingiram a produtividade de 18 toneladas por hectare, enquanto a média brasileira é de 5 a 6 toneladas por hectare. O produto também se encaixa na categoria "premium", com bulbos (cabeças) que pesam entre 40 e 50 gramas e atingem nota superior a 5, dentro de uma escala de 1 a 7, conforme classificação do Ministério da Agricultura.
O pesquisador e sua equipe utilizaram uma tecnologia para proteger a hortaliça dos vírus. Foi retirado um pedaço de tecido da planta (meristema) para cultivá-lo em meio de cultura com hormônios, vitaminas e sais. Na sequência, este material foi transferido para um substrato cultivado em casa de vegetação, com luz e temperatura controladas, para se transformar em semente - um dente de alho.
Por enquanto, a multiplicação das sementes é feita em Guarapuava (PR), onde não existem riscos de contaminação porque não há plantio da hortaliça na região. "A partir daí, o material está pronto para ser empregado nos cultivos comerciais", informa Pavan. Ele alerta, porém, que depois de dois ou três anos, o produtor precisa adquirir novas sementes para a plantação não se tornar vulnerável a doenças.
A pesquisa desenvolvida em parceria com nove agricultores - grupo batizado de G-9 - passa, agora, pelo desafio de encontrar multiplicadores de sementes para que o material se torne acessível para os Estados produtores do país, como Minas Gerais, Goiás, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Bahia.
Mas para Rafael Corsino, diretor da Associação Nacional dos Produtores de Alho (Anapa), o setor enfrenta embate muito maior do que as doenças no campo. "A importação de 15 milhões de caixas por ano", informa. Segundo ele, a maior parte, cerca de 10 milhões de caixas, é proveniente da China e o restante da Argentina. Corsino comenta que há 10 anos, o alho nacional convive com a concorrência desleal do produto chinês vendido entre R$ 15 e 20 por caixa. "É muito abaixo do preço de custo do produtor brasileiro que chega, em média, a R$ 45 por caixa", diz.
Desde 2001, a Anapa conseguiu que a Câmara do Comércio Exterior (Camex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), instituísse uma taxa de US$ 0,52 por quilo sobre o produto importado. Mas Corsino informa que essa taxa não é normalmente cobrada, porque os importadores costumam entrar com recursos na Justiça para não efetuar o pagamento. Ele espera que até o final do ano, a Anapa ganhe uma ação que suspende a concessão destas liminares para que o alho chinês deixe de circular no mercado sem pagar a cota.
O Brasil produz somente 30% do alho que consome - aproximadamente 10 milhões de caixas de 10 quilos por ano - e, ainda assim esta hortaliça é considerada de baixa qualidade ao receber nota 4 na classificação do Ministério da Agricultura.
Veículo: Valor Econômico