A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que começa oficialmente amanhã, receberá como exemplo de sustentabilidade da agropecuária o resultado da Coopercati, uma cooperativa criada há sete anos para debelar os problemas e reerguer a cultura do algodão em Catuti, município localizado no norte de Minas Gerais, na região semiárida.
A produção algodoeira local vinha sendo abandonada desde os anos 1980, quando ainda havia 20 mil agricultores que plantavam 130 mil hectares da fibra, de acordo com estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Pragas, mas também uma corrida de produtores por culturas mais rentáveis, quebraram as lavouras de algodão de Catuti. O que, segundo moradores, causou problemas sociais.
Assim, em 2005, formou-se a Coopercati. No início, a entidade tinha apenas 40 hectares cultivados por cinco famílias cooperadas. A primeira safra, datada de 2006/2007, rendeu-lhes 25,4 toneladas de algodão em pluma. Na última, colheram-se, respectivamente, 216 toneladas.
Resultados acima de dez vezes a quantia inicial são característicos da cooperativa, que hoje fatura, por ano, R$ 1 milhão. O coordenador técnico do projeto, José Tibúrcio Filho, explica que a multiplicação dos frutos se deve à adoção de sementes transgênicas, ao preparo adequado do solo e, entre outras medidas, à comercialização direta (sem atravessadores) com fábricas têxteis.
"Pela primeira vez, em 33 anos que trabalho com a cultura do algodão, vi que dá para trazer a sustentabilidade à agricultura familiar. Basta levar informações ao produtor", disse o especialista.
Se, antes, os cotonicultores de Catuti aplicavam uma média de 25 doses de agrotóxico para proteger suas lavouras, como relatou Tibúrcio, hoje, com os produtos e o uso corretos, as aplicações não passam de sete por temporada.
Não obstante, a produtividade do campo cresceu de 30 arrobas de algodão por hectare para 170. (cada arroba pesa quinze quilos.) O espaço ocupado pelos cooperados também aumentou para 870 hectares, com 120 famílias ligadas à Coopercati. O tamanho de cada propriedade não passa de 100 hectares.
Depois de ter recebido o reconhecimento da Unicamp e um selo internacional - ambos relacionados à sustentabilidade -, o projeto será apresentado como modelo na Rio+20, por outra iniciativa ligada à causa "verde": o movimento SustainAgro.
Internacional, com participação de 37 organizações ligadas à agropecuária, o projeto se propõe a reforçar a posição do setor nas ações pelo meio ambiente e a reduzir a pobreza, com base em casos como o da Coopercati.
Sustentabilidade a prazo
"No início, a gente só pensava em produzir", relembrou Tibúrcio: "Era o produtor individual, cada um por si". Em seguida, a cooperativa se voltou à comercialização - meio ambiente, até então, era um pormenor -, segundo o coordenador, que acompanhou todo o processo de desenvolvimento da Coopercati.
"Em 2006, não sabíamos nem o que era a tecnologia. Fazíamos trinta aplicações de inseticida para plantar 30 hectares", continuou o especialista. Durante a safra de 2007/2008, a preocupação era a de agregar valor ao produto, para garantir o preço na venda às cinco fábricas conveniadas.
"A partir da quarta safra, passamos a pensar em sustentabilidade", afirmou Tibúrcio, chegando ao ponto de interesse da Rio+20. "Agora estamos trabalhando nisso. Conservamos o solo e adotamos as melhores práticas", disse.
Veículo: DCI