Maior fabricante de calçados do país, a Vulcabras forjou os documentos necessários para a entrada de sapatos vietnamitas no país. Utilizando o CNPJ e a senha da empresa, funcionários autorizados pela direção entraram no Siscomex (Sistema Integrado de Comércio Exterior) e solicitaram sete licenças de importação para 25,5 mil pares de sapatos.
A empresa brasileira utilizou de um expediente irônico: criou um exportador vietnamita fictício chamado Pim En Tel Shoes Industries, conforme noticiou a "Folha de S.Paulo" ontem. A cidade de origem do produto também não existe e consta como "No Track". O nome do exportador é um referência direta ao ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel e, traduzido do inglês, o nome do município vietnamita é "Sem Rastro".
O presidente da Vulcabras, Milton Cardoso, disse que o objetivo era demonstrar que o governo não exige o certificado de origem, como determina a legislação. Os sapatos vindos da China estão sujeitos a sobretaxas antidumping e, por isso, todo calçado que chega ao Brasil só devia ter sua entrada liberada após a checagem de sua origem. Ele disse ainda que avisou, pessoalmente e por três vezes, ao ministro Pimentel que isso estava ocorrendo.
O expediente da Vulcabras irritou as autoridades do ministério do Desenvolvimento. Segundo nota divulgada ontem, a pasta enviou ofício ao Ministério da Justiça solicitando a abertura de investigação pela Polícia Federal. A PF informou que recebeu o pedido, mas que ainda não definiu se vai abrir inquérito.
Como a operação é toda fictícia, os supostos sapatos vietnamitas nunca chegaram a entrar no país. Mas, para uma fonte do ministério, ainda assim, o empresário cometeu falsidade ideológica ao entrar em um sistema público para forjar documentos e que isso "já é grave o bastante". A fonte diz ainda que o objetivo da Vulcabras foi "expor o ministério".
"Só queríamos provar o que já vínhamos alertando há bastante tempo. Se querem se voltar contra mim, é o mesmo que matar o mensageiro", disse Cardoso. Ele informa que entregou as licenças de importação falsas ao Banco do Brasil (responsável pela liberação dos documentos) e a dois departamentos diferentes do Ministério do Desenvolvimento. A pasta diz que não recebeu nada e que descobriu a fraude em uma "força-tarefa" iniciada há um mês, que reúne vários órgãos do governo. (AE)
Veículo: Diário do Comércio - MG