Os segmentos que registraram maior recuo foram os de informática, veículos e móveis e eletrodomésticos
Contrariando o desempenho apresentado no mês anterior, o volume de vendas no comércio varejista ampliado (que inclui as atividades de veículos e material de construção) em julho de 2014, no Ceará, sofreu retração de 2% na comparação com igual mês do ano anterior. Os dados são da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o levantamento, o índice acumulado no ano teve variação positiva de 5%, enquanto o de 12 meses, ficou em 3%.
Entre os dez segmentos que compõem o índice, três apresentaram variação negativa no Estado em julho, sendo que a maior delas foi a do grupo dos equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-33,4%). Os outros dois segmentos que apresentaram queda foram veículos, motocicletas, partes e peças (-13,2%) e móveis e eletrodomésticos (-5,5%).
"Não me estranha que tenham caído. Devido à inflação e ao endividamento, a população em geral priorizou alimentos e bebidas na época da Copa, produtos que não fazem parte do nosso setor", explica o presidente do Sindicato do Comércio Varejista e Lojista de Fortaleza (Sindilojas), Cid Alves. Apesar do desempenho negativo, os segmentos de equipamentos para escritórios e informática e de móveis e eletrodomésticos apontam crescimento no índice acumulado no ano, de 9,8% e 11,1%, respectivamente.
Lenta recuperação
No segundo semestre, de acordo com Alves, o volume das vendas está crescendo, mas não como esperado. "Os investimentos que fizemos não estão atendendo às expectativas, as vendas estão aquém, mas mesmo assim estamos crescendo", pondera o presidente do Sindilojas. A estimativa do volume das vendas neste ano, segundo ele, deve ser igual ao ano passado.
Expansão
Em contrapartida, outros segmentos apresentaram crescimento expressivo no volume das vendas de julho no Ceará, como o de material de construção, que registrou a segunda maior variação do Estado (9,7%, ante queda de 3,2% no índice nacional), ficando atrás apenas do grupo dos artigos de uso pessoal e doméstico (12,7%).
"Nesse período, as lojas que mais venderam foram as de materiais primários, como cimento, tijolo, principalmente os grandes depósitos. Isso ocorreu principalmente porque muitas obras do Minha Casa, Minha Vida, que foram iniciadas no ano passado, estavam em andamento", assinala Cid Alves, que também é presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Maquinismo, Ferragens e Tintas de Fortaleza (Sinditintas).
Demais segmentos
O segmento dos combustíveis e lubrificantes cresceu 8,7% na comparação com igual mês do ano passado, e o grupo dos artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos teve variação positiva de 7%. O grupo que congrega os hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo cresceu 2,3% em julho, ante queda de 0,1% no País, mantendo a variação positiva de 4,4% no acumulado do ano, segundo o levantamento realizado pelo IBGE.
O setor de tecidos, vestuário e calçados teve variação positiva de 1,2% no período, com acumulado de 7,4% no ano, enquanto o grupo dos livros, jornais, revistas e papelaria teve queda de 2,7%, acompanhado o desempenho negativo registrado no mês anterior segundo o IBGE.
País: setor terá pior ano desde 2003
Rio. Num momento de incertezas em relação à economia, os consumidores estão menos dispostos a gastar, o que compromete o desempenho do comércio neste ano. O setor, mantido o atual ritmo, deve fechar o ano com o pior resultado desde 2003, quando as vendas caíram 3,7%. Pelos cálculos de economistas, o varejo tende a crescer 4% neste ano, abaixo dos 4,5% de 2013. De janeiro a julho, as vendas subiram 3,5%. Em 12 meses, acumulam alta de 4,3%.
O mais fraco dinamismo do setor está ligado à piora da confiança dos consumidores, à escassez do crédito, aos juros mais elevados e à inflação ainda em patamar alto - embora tenha cedido nos últimos meses. Para Aleciana Gusmão, técnica do IBGE, a Copa do Mundo afetou o setor tanto em junho como em julho - quando as vendas caíram 0,7% e 1,1%, respectivamente. Isso porque os feriados e dispensas antecipadas prejudicaram o setor.
Gusmão disse que o crédito mais fraco também abateu o varejo. Um dos sinais é a retração das vendas de móveis e eletrodomésticos de junho para julho - de 4,1%, a mais intensa dentre as categorias pesquisadas.
Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco, ressalta que "o desempenho do comércio reforça a expectativa de desaceleração gradual do consumo ao longo de 2014". Nos últimos dados do PIB, tal tendência de moderação do consumo já estava presente e tende a ganhar força após esse fraco resultado do comércio em julho.
Veículo: Diário do Nordeste