A deflação de alimentos em julho deve ter contribuído para o aumento das vendas nos supermercados no período. Com esse impulso, economistas esperam alguma recuperação do varejo em julho, embora os fundamentos que sustentam o consumo ainda não apontem para uma retomada consistente, já que o mercado de trabalho continua a dar sinais de desaceleração, enquanto as condições de crédito seguem mais restritivas.
Mesmo o relaxamento de algumas regras, como liberação de compulsório, não devem levar as vendas de bens duráveis a ter alta consistente nos próximos meses, já que o problema neste segmento está mais ligado à demanda, com o fim de um ciclo de consumo, do que à oferta, afirmam analistas.
Após queda de 0,7% em junho, 18 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data estimam, em média, que o volume de vendas do varejo restrito, que não inclui automóveis e material de construção, subiu 0,7% em julho, sempre na comparação com o mês anterior, feitos os ajustes sazonais. As estimativas para a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), a ser divulgada amanhã pelo IBGE, vão de queda de 0,1% até alta de 1,3%.
Já para o comércio ampliado - que, além dos segmentos de veículos e construção, também considera os oito setores pesquisados no varejo restrito -, a expectativa média de 13 analistas é de alta de 1,2% entre junho e julho. Para economistas, o avanço está relacionado à base fraca de comparação, após o tombo de 3,6% das vendas desses itens em junho.
Após um primeiro semestre "conturbado", com seca e Copa do Mundo, Paulo Neves, da LCA Consultores, espera alguma retomada das vendas no varejo ao longo da segunda metade do ano. Para julho, o economista estima alta de 0,4% do comércio na comparação com o mês anterior. Em sua avaliação, a base mais baixa de comparação e alguma postergação de consumo por causa dos feriados em dias de jogos devem favorecer um desempenho melhor do comércio. A inflação menos pressionada também ajuda neste cenário, diz.
Em média, as vendas no varejo recuaram 0,1% ao mês entre janeiro e junho. Para a segunda metade do ano, é esperado um desempenho melhor, com crescimento médio mensal de 0,4%, embora Neves veja riscos para esse cenário vindos do mercado de trabalho formal. "O Caged tem mostrado fraqueza e se continuar decepcionando, é possível que o consumo não se recupere como estamos imaginando", afirma.
O economista avalia que a configuração das vendas em julho deve ser bastante parecida com o esperado para o restante do ano. A expectativa é que os super e hipermercados puxem o desempenho do comércio, já que o consumidor continua mais endividado e, portanto, propenso a adquirir produtos de menor valor. Em julho, de acordo com dados da associação do setor, as vendas aumentaram 0,5%. Outro indicador que reforça a percepção de desempenho positivo do varejo no mês foi a expedição de papel ondulado, que aumentou 4,9% em relação a junho.
Já as vendas de móveis e eletrodomésticos devem seguir modestas, mesmo após queda de 2% no mês anterior. "Para esse segmento, a impressão é que, de fato, o ciclo de consumo se esgotou", afirma. Programas como o Minha Casa Melhor contribuíram para adiar essa acomodação, mas as medidas mais recentes, como liberação do compulsório para estimular o crédito, não devem surtir o mesmo efeito, na avaliação de Neves.
"Não são essas medidas que vão salvar o desempenho do comércio no ano", concorda Leandro Padulla, economista da MCM Consultores. Em sua avaliação, o problema não é apenas de oferta de crédito, mas também de demanda, já que com a confiança em baixa há menor propensão para o consumo. Para Padulla, a recuperação do comércio no segundo semestre deve ser "errática". Ele estima aumento de 3% das vendas no varejo restrito, após alta de 4,3% em 2013.
Veículo: Valor Econômico