Disparada de preços dos alimentos já dura cinco anos

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Choque de preços, em momento de inflação já elevada, facilita repasses para outras áreas, afirma economista

Café, feijão, leite e carnes também estão sofrendo o impacto da estiagem, e recuo é menos. Embora o governo esteja tratando a disparada dos preços dos alimentos deste início de ano como pontual, esse fenômeno já dura cinco anos.

Seguidos problemas climáticos, no país e no exterior, vêm fazendo os alimentos subir em média 9% ao ano no Brasil, desde 2010.Entre 2010 e este ano, os alimentos subiram bem mais do que a inflação. Só nos últimos dois anos, esses itens subiram 23%, ante uma inflação acumulada de 14%.

O aumento do consumo, tanto no Brasil quanto em outros países, como a China, ajuda a explicar por que esses produtos não ficam mais baratos, mesmo com o crescimento econômico mais fraco.Mas existem fatores domésticos que estão fazendo com que os alimentos fiquem ainda mais caros.

A economista Ignez Vidigal Lopes, especialista em economia agrária da FGV, afirma que custos com mão de obra estão aumentando também no campo, com a perda de trabalhadores para empregos na área urbana."Produtores de culturas que ficam próximas às cidades têm relatado que não têm empregados ou que o custo para contratar aumentou."

Anteontem, durante seminário no banco HSBC, o ex-presidente do Banco Central Luiz Fernando Figueiredo, sócio da gestora Mauá Sekular, disse que, de tão recorrentes, os aumentos de alimentos já poderiam até ser tratados como "sazonais" (que ocorrem com frequência, em certa época do ano).

MAIOR PESO

Os alimentos são os principais itens consumidos pelas famílias brasileiras. Por isso, representam um quarto do índice que mede a inflação oficial, calculada pelo IBGE. O seu aumento, portanto, afeta imediatamente o padrão de vida do brasileiro.

Períodos de seca na Rússia (2010) e nos EUA (2012) fizeram com que produtos exportados pelo Brasil, como milho e soja, subissem.Em 2014, são os produtos "in natura", como verduras e frutas, que mais aumentam de preço. Segundo Wladimir Caramaschi, estrategista do banco Crédit Agricole, a pressão neste momento está localizada no Brasil, ou seja, não é importada.

É o caso do tomate e da alface, que ficaram 32% e 38%, respectivamente, mais caros para o consumidor.A expectativa de economistas é que os preços desses alimentos cedam com um novo ciclo de plantio. Porém produtos cuja produção é mais demorada, como café, feijão, leite e carnes, também estão sofrendo o impacto da estiagem, e um recuo de seus preços no curto prazo é considerado menos provável.

As carnes estão subindo na esteira de exportações maiores. As vendas externas aumentaram 21% no ano passado e já subiram 25% nos primeiros dois meses do ano (ante o mesmo período de 2013). No entanto, a oferta interna só cresceu 11%, segundo levantamento do Bradesco. Neste ano, afirma o banco, "o volume abatido não tende a crescer no mesmo ritmo". Nos 12 meses encerrados em março, as carnes acumulam alta de 10,9%, segundo o IBGE, ante uma inflação de 6,15%.

A pressão dos preços desses alimentos foi um dos elementos que fizeram o banco rever a previsão de inflação deste ano de 5,9% para 6,3%, perto do limite estipulado pelo governo (6,5%).Na avaliação de Caramaschi, a alta dos alimentos é um problema, neste momento, porque pode se espraiar para outras áreas. Isso porque, com a inflação já girando em um patamar mais elevado, aumentam as chances de que esses aumentos sejam repassados para outros preços.

"Corre-se o risco de que o choque se perpetue", diz.



Veículo: Folha de S. Paulo


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