JBS transforma produtor americano de frangos em empresa lucrativa

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Um sistema de rotação de lâminas de metal que cortam pernas de frango numa ampla fábrica da Pilgrim's Pride Corp. nesta cidade do sul dos Estados Unidos ajuda a ilustrar por que a empresa tem conseguido produzir lucro recorde quatro anos depois de ter emergido de um processo de recuperação judicial.

A Pilgrim's, adquirida no fim de 2009 pelo frigorífico brasileiro JBS SA, há dois anos gastou US$ 1,3 milhão na máquina automatizada para poder cortar frango em porções menores na fábrica de Atenas. A medida tem ajudado a Pilgrim's a aumentar as vendas em lugares como Angola, país rico em petróleo, onde os consumidores preferem pedaços menores que são mais baratos. Vender esses pedaços menores eleva em até 10% a receita que a Pilgrim's geraria em Angola se vendesse as pernas inteiras (coxa e sobrecoxa) que os produtores americanos costumam exportar.

A Angola, o terceiro maior mercado de exportação de frango dos EUA em volume, representa apenas uma pequena parcela da receita anual de US$ 8,4 bilhões da Pilgrim's. Mas a medida é um exemplo de como a empresa, sob o comando da JBS, tem se esforçado para gerar mais lucro por quilo, melhorando de forma substancial seus resultados. A Pilgrim's é a segunda maior processadora de frango dos EUA depois da Tyson Foods Inc.

"Queremos nos assegurar de que estamos obtendo o máximo de receita por ave em relação ao custo", diz o diretor-presidente da Pilgrim's, Bill Lovette.

O esforço para extrair mais lucro também levou a Pilgrim's a desossar as aves de forma mais eficiente para produzir carne com alta demanda e a adotar medidas de cortes de custos que vão desde interromper as operações de unidades de baixo desempenho até reduzir a distribuição de Gatorade grátis para os empregados. A empresa conseguiu economizar US$ 3 milhões ao ano só por substituir dispensadores de papel-toalha para secar as mãos por secadores elétricos, dizem os executivos. A Pilgrim's também eliminou 5.500 empregos nos EUA, ou 15% da sua força de trabalho no país, desde 2010.

O lucro líquido da empresa mais que triplicou em 2013, para um recorde de US$ 550 milhões, com alta de 3,6% nas vendas. Esse resultado é considerado forte, mesmo em um setor que prospera graças a uma mudança no gosto do consumidor, que tem se afastado das carnes de boi e porco, mais caras. Para efeitos de comparação, a Tyson divulgou um aumento de 33% no lucro operacional para a sua unidade de frangos no ano fiscal encerrado em setembro de 2013.

A cotação da ação da Pilgrim's mais do que triplicou desde 2011, fechando ontem com uma ligeira alta, em US$ 19,40 na Nasdaq.

A Pilgrim's foi liderada durante décadas por Lonnie "Bo" Pilgrim, um texano que fundou a empresa com um irmão nos anos 40 como uma loja de ração. A companhia se expandiu rapidamente por meio de aquisições e se tornou a maior processadora de frangos dos EUA. Mas ela acabou sucumbindo a uma enorme pilha de dívidas e um disparo no preço da ração animal em 2008.

A JBS, conhecida por eliminar ineficiências de empresas mal administradas, pagou US$ 800 milhões por uma participação de 64% da Pilgrim's com o intuito de reerguê-la depois da recuperação judicial. A compra marcou a primeira incursão da gigante brasileira de carne bovina no setor de frangos. A JBS agora possui cerca de 75% da Pilgrim's e sua divisão americana de suínos compartilha a sede com a Pilgrim's em Greeley, no Colorado.

No fim de 2010, a JBS recrutou Lovette, um veterano da indústria que passou 25 anos na Tyson. Ele cresceu no negócio, trabalhando durante as férias nas linhas de processamento do Holly Farms, frigorífico da família. Descrito como um executivo obcecado por detalhes, ele rapidamente detectou áreas que precisavam de mudanças. Na administração anterior, a Pilgrim's "tentava ser tudo para todos", o que a levou a abraçar oportunidades de vendas que, muitas vezes, resultavam em pouco lucro, diz ele.

Lovette também sentia que a empresa sofria com um estilo de gestão de cima para baixo em que a maior parte das decisões era tomada apenas pela cúpula executiva. Ele aumentou a responsabilidade dos gerentes das mais de 30 fábricas processadoras nos EUA e México de melhorar a produtividade e as vendas e introduziu programas de bônus para incentivar os supervisores das linhas de processamento.

Em uma das principais iniciativas da Pilgrim's, os executivos negociaram grandes mudanças nos contratos de distribuição de frango com prestadoras de serviços de alimentação, restaurantes e clientes de varejo. A Pilgrim's, que fornece frango para gigantes que incluem o Wal -Mart Stores Inc. e a Yum Brands Inc., dona da rede de restaurantes KFC, vendeu durante muito tempo grande parte da sua carne processada por meio de contratos fixos de 12 meses. Isso sobrecarregava a empresa com um risco significativo quando os custos da ração sofriam aumentos repentinos.

A Pilgrim's convenceu muitos clientes a fechar contratos mais flexíveis, que têm os preços ajustados com base em variações no custo da ração e dos preços do frango no mercado em geral. Lovette diz que a mudança - adotada depois por rivais - contribuiu para aumentar os lucros.

A Pilgrim's incentivou seus gerentes a buscar outras formas de aumentar o faturamento. A empresa gera hoje cerca de 20% de sua receita fora dos EUA, principalmente no México. Mas, nos próximos anos, a maior parte de seu crescimento virá, provavelmente, do exterior, à medida que a renda dos consumidores de países emergentes de regiões que incluem a África e a Ásia sobe e eles comem mais carne.

A Angola é um exemplo. A demanda de frango cresceu junto com o aumento da população e da renda impulsionado pelo petróleo. Uma moeda mais forte em relação ao dólar, que tornou os produtos americanos mais baratos, também tem ajudado.

A Pilgrim's não quis detalhar suas exportações para Angola, mas informou que elas têm crescido mais rapidamente do que a média global da indústria. O total de frango exportado pelos EUA para Angola aumentou 14 % em volume no ano passado, e o valor em dinheiro mais que dobrou, para US$ 232 milhões entre 2008 e 2013, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA.

A JBS já tinha um relacionamento com clientes em Angola, - cuja língua também é o português - e isso ajudou a expandir as vendas da Pilgrim's lá. A Pilgrim's exporta hoje frango para cerca de 100 países, em comparação com 80 antes da compra pela JBS. A receita das exportações de frango nos EUA subiram 23% entre 2010 e 2013, de US$ 581 milhões para US$ 716 milhões.

Ao mesmo tempo, os executivos também estão reduzindo custos em toda a empresa. Os esforços podem ser vistos na fábrica em Atenas, onde os cortes este ano incluíram a quantidade de Gatorade que a Pilgrim's oferece aos seus cerca de 1.500 funcionários. "A soma que gastávamos só nisso era astronômica", diz Brandt Meeks, gerente de operações da fábrica.



Veículo: Valor Econômico


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