Dell muda o perfil para ir além do PC

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A fabricante americana de computadores Dell, que revolucionou o mercado com seu sistema de venda direta e já foi líder mundial do setor, está aos poucos abandonando o perfil que a transformou em um símbolo da produção de equipamentos.

Nos últimos dois anos, a Dell vem investindo pesadamente para tornar-se uma empresa voltada à oferta de serviços e outros produtos que equipam os departamentos de tecnologia da informação (TI) das empresas - e não apenas o computador pessoal. Hoje, 45% da receita da companhia já é originada em áreas como armazenamento de dados, equipamentos de rede e serviços. E a tendência é que a participação cresça nos próximos anos.

A explicação para a mudança de rumo é simples: as novas áreas têm margens de lucro bem maiores que as oferecidas pelo mercado de PCs. Mais especificamente, duas a três vezes mais, dependendo da atividade, afirma Brian Gladden, principal executivo de finanças da companhia. "Temos uma marca forte e nossos clientes, em especial empresas de pequeno e médio portes, nos pedem para oferecer uma oferta mais abrangente. É esse caminho que vamos seguir", diz Gladden ao Valor.

A estratégia, apoiada em 14 aquisições feitas em cinco anos, foi idealizada e comandada pelo fundador da empresa, Michael Dell. O executivo, que deixou a liderança da companhia em 2004 para assumir a presidência do conselho, retomou as rédeas em 2007.

Na época, a Dell parecia ter perdido o rumo. Sob o comando de Kevin Rollins, a companhia perdeu a liderança em PCs para a Hewlett-Packard (HP) e via o modelo de venda direta dar sinais de fraqueza. Alguns analistas chegaram a duvidar da capacidade de Michael Dell de reerguer a companhia que ele mesmo fundou na década de 80, com investimento de US$ 1 mil. "Eu não vejo nenhuma estratégia de curto prazo que possa salvar a Dell", disse então o analista Brent Bracelin, da corretora Pacific Crest Securities, ao site Market Watch, pertencente ao Wall Street Journal.

Cinco anos depois, o cenário é outro. Embora muito maior, a HP enfrenta turbulências - trocou de executivo-chefe três vezes nos últimos tempos e chegou a anunciar planos para sair do mercado de computadores, o que foi descartado posteriormente. Já a Dell é bem vista por analistas e investidores. No ano fiscal 2011, a fabricante teve um faturamento de US$ 61,5 bilhões, com crescimento de 16% na comparação com 2010. Desse total, 80% veio da venda de produtos para empresas e o restante para consumidores residenciais.

O crescimento da empresa em 2011 foi quase três vezes superior à média do mercado global de TI e ocorreu mesmo em um cenário de instabilidade econômica mundial e de retração nas vendas globais de computadores. O setor encolheu 1,4% no ano, segundo a empresa de pesquisa Gartner.

Para 2012, mesmo com perspectivas nebulosas para a economia, Gladden diz acreditar que é possível manter a trajetória de expansão. "Mesmo em períodos difíceis dá para encontrar áreas de crescimento", diz. Um dos segmentos mais promissores, em sua avaliação é o de armazenamento de dados. Com o aumento no volume das informações digitais nas companhias, serão necessários mais equipamentos para guardá-las, além de sistemas que permitam organizá-las e consultá-las de forma eficiente. Em três anos, a receita da Dell com esses produtos passará dos atuais US$ 2,5 bilhões para US$ 5 bilhões, estima Gladden.

De acordo com o executivo, o Brasil, a China e a Índia têm apresentado, atualmente, o ritmo de crescimento mais acelerado para a Dell no mundo. Ao todo, os três países respondem por 14% do faturamento global. Segundo Raymundo Peixoto, responsável pelas operações da Dell no Brasil, os novos produtos estão sendo trazidos aos poucos e têm tido boa aceitação entre os clientes. "É importante mostrar que a Dell não é só um fabricante de PCs, mas um consultor em TI", afirma.

A Dell tem US$ 16 bilhões em caixa para fazer aquisições e turbinar seu plano de diversificação nos próximos anos. A guinada é semelhante ao movimento que a IBM fez no começo dos anos 2000. Depois de quase sumir do mapa nos anos 90, a "Big Blue" reorganizou seus negócios, voltando-se à oferta de serviços e vendendo sua divisão de PCs para a chinesa Lenovo.

Ao contrário da concorrente, a Dell não pretende abandonar os PCs. Segundo Gladden, os computadores permanecem um item importante nos negócios com pequenas empresas. "Muitas vezes, tudo o que elas precisam é um PC. E nós precisamos ter esse produto para vender", diz o executivo.

Nas vendas ao consumidor residencial, Gladden diz que o objetivo é dedicar-se aos produtos mais caros, com margens mais altas. Por conta disso, não é prioridade recuperar a vice-liderança mundial, perdida para a Lenovo no segundo semestre de 2011. "Queremos ter participação relevante em receita, não em unidades vendidas", diz.



Veículo: Valor Econômico


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