Sinal verde para a sustentabilidade

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Produção de embalagens “ecologicamente corretas” ganha corpo no Brasil, com alta na demanda

A “onda verde” chegou definitivamente aos lares brasileiros acondicionada em garrafas, caixas, frascos, potes, bisnagas, tubos etc. Embalagens sustentáveis de produtos alimentícios, de higiene e beleza ganham espaço no mercado com a crescente utilização de pet reciclado e de bioplásticos. A tendência surgiu no fim da década passada, com o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aos materiais reprocessados, e ganhou força em 2010 a partir da inauguração da fábrica de polietilenos “verdes” da Braskem, a maior do mundo, no Polo Petroquímico de Triunfo, no Rio Grande do Sul. “Acreditávamos que iríamos exportar toda a produção, mas nos surpreendemos. A demanda interna mostrou a sua força e responde hoje por 15% dos pedidos”, conta Antônio Morschbacker, diretor de tecnologias renováveis da empresa.

As inesperadas encomendas à controlada do grupo Odebrecht traduzem uma mudança de atitude dos consumidores, cada vez mais preocupados com o destino final daquilo que colocam, todo santo dia, na lata de lixo. De acordo com pesquisas realizadas pela Tetra Pak, fabricante de caixas longa vida, cerca de 90% da população entende que as empresas devem “tomar medidas ambientalmente responsáveis”, como, por exemplo, utilizar insumos e matérias primas “ecológicos” em toda a cadeia produtiva. “O consumidor está muito atento às questões ambientais”, constata Fernando von Zuben, diretor de meio ambiente da subsidiária da multinacional sueca. “Esse amadurecimento impõe um desafio para as empresas: investir em ações efetivas voltadas ao meio ambiente e deixar de lado ‘boas ações’. Coleta seletiva e reciclagem podem até não alavancar vendas, mas, com certeza, evitam perdas de faturamento.” O Brasil já é, há algum tempo, referência internacional em reciclagem, com destaque especial para o reprocessamento de latinhas de alumínio, que se aproxima da perfeição (ver tabela). A boa notícia é que o País terá condições, a partir do próximo ano, de elevar seus índices de reaproveitamento de diversos outros materiais como fechamento de lixões e a implantação da coleta seletiva nos municípios, por determinação da Lei 12.305/10, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). “Temos capacidade instalada e tecnologia para reciclar muito mais, especialmente plásticos, vidro e papel”, afirma André Vilhena, diretor executivo do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), que destaca a contribuição da indústria no processo. “Há pouco, surgiram várias inovações em embalagens de plástico. Um exemplo: sacos de salgadinho ganharam revestimentos finíssimos de alumínio que não interferem na reciclagem do plástico.”

Além de investir em novas tecnologias, os fabricantes de invólucros também estão empenhados em uma campanha educativa junto à população. No fim de 2011, o setor firmou um pacto com o governo federal que prevê a inclusão do símbolo do descarte seletivo em embalagens - mil por ano - e a inserção de uma simbologia técnica padronizada e informações nos rótulos para facilitar a triagem de materiais nas cooperativas de catadores.

Trato feito, trato cumprido: em 2012, 1.022 caixinhas e frascos exibiam o ícone e outros 992 sinalizavam o caminho a ser seguido para a sua reciclagem. “O conceito de sustentabilidade está se enraizando definitivamente em nosso segmento. O engajamento das empresas na campanha de esclarecimento sobre a reciclagem e a boa acolhida a novos insumos, como o pet reciclado e o bioplástico da Braskem, mostram isso”, observa Luciana Pellegrino, diretora executiva da Associação Brasileira de Embalagem (ABRE).

Até meados da década, outra resina de origem vegetal estará à disposição dos interessados no mercado doméstico.

É o monoetileno glicol de origem renovável, o BioMEG, que será produzido em Piracicaba (SP), graças a uma parceria da Coca-Cola com o grupo indiano JBF Industries (ver matéria na página 7). Com capacidade instalada de 500 mil toneladas ao ano, a unidade, a exemplo da linha de produção da Braskem em Triunfo, usará como matéria-prima o eteno extraído da cana-de-açúcar. “É natural que o etanol tenha conquistado a preferência da indústria para a produção de plásticos, pois sua escala é muito maior, no Brasil, do que as demais opções”, assinala Eloísa Garcia, pesquisadora do Centro de Tecnologia de Embalagem (Cetea), ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. “Tem gente desenvolvendo insumos a partir de açúcar e bagaço de cana, mandioca e até mesmo casca de camarão. Só que ainda levará algum tempo para que tenham condições de atender à demanda do mercado."

Na seara da cana, dois grandes projetos de bioplásticos à base de etanol entraram em compasso de espera no Brasil, por conta da recente descoberta de gigantescas jazidas de gás de xisto nos Estados Unidos. Como o baixo preço do combustível reduz consideravelmente os custos de produção de embalagens na América do Norte, a Dow Chemical resolveu analisar com calma a viabilidade da construção de uma fábrica de polietileno "verde" em Santa Vitória (MG) em parceria com a trading japonesa Mitsui, anunciada há seis anos. Pela mesma razão, especula-se, o grupo Odebrecht teria adiado o cronograma de implantação de uma unidade de polipropileno em Triunfo. "O Brasil também tem grandes reservas de xisto. O problema é que ainda não deu início à extração, o que pode comprometer a execução desses dois planos", analisa o engenheiro químico Maurício Jaroski, gestor da área de química sustentável da consultoria Maxiquim.



Veículo: Brasil Econômico


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