Lojas de R$ 1,99 ampliam valor de produtos

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São Paulo - As tradicionais lojas de artigos de R$ 1,99 tiveram de mudar seu foco nos últimos anos. Para enfrentar momentos difíceis, especialmente com a alta do dólar e a economia mais fraca, as empresas - que antes se concentravam em produtos importados e de baixo valor agregado - agora optam por maior diversidade no mix de artigos, bem como de preços.

Para o professor dos MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV) Roberto Kanter, a tendência dessas lojas é qualificar o leque de produtos, com linhas de artigos que aumentem a qualidade e agregam mais valor. Além de melhorar a qualidade dos artigos, é preciso investir no design dos pontos de venda e ampliar a experiência de compra dos clientes.

Na visão do acadêmico, essa mudança de postura faz parte de um processo de evolução natural das pequenas varejistas e, quem não se adaptar, está fadada a fechar ou ser dominada por uma gestão familiar de pouco profissionalismo. "Como exemplo positivo, podemos citar rede Millium. Ela aumentou o mix com itens que vão desde artigos de verão, camping, limpeza e até utilidades domésticas e possui lojas de dois mil m²", exemplificou Kanter.

O professor explica que outra tendência dessas lojas é que, quando crescem, elas lançam produtos de marca própria, o que eleva a qualidade dos itens oferecidos. E justifica o reposicionamento do conceito para de R$ 1 a R$ 99.

"Afinal, é comum pequenos varejistas começarem a se posicionar no mercado com produtos de alta fragilidade, qualidade baixa, marcas desconhecidas e preços muito baixos. Contudo, esse formato só se sustenta a curto prazo."

A mudança ocorrida no mercado pode ser confirmada pela próxima feira do setor, que antes era de R$ 1,99, e agora se autointitula Expo Brasil Feira de 1 a 99. Isso reforça como as lojas não são mais aquelas que só ofereciam importados da China ao preço único, segundo o presidente da feira, Alexandre Torres de Carvalho.

Kanter e Carvalho acreditam que esses lojistas passaram a comprar produtos de maior valor para mudar a imagem popular no mercado. Como consequência vão ganhar em competitividade, apesar de diminuir a margem de lucro.

Impacto do dólar

A alta do dólar também impactou fortemente os empresários. A perspectiva é de que quem não mudar não consiga sobreviver. "É preciso ter uma rede de fornecedores nacionais. Os artigos de baixa qualidade e preços antes competitivos, passam a ser importados a uma taxa maior e perdem o maior diferencial, que é o baixo custo", explicou Kanter.

Nas lojas de R$ 1,99 - tirando a parte de guloseimas que são produtos nacionais - existe uma dependência quase que total em relação aos produtos asiáticos. A Zein Importadora sentiu a alta da moeda norte-americana. A rede conta mais de 90% dos produtos importados da China, o que levou a um repasse de pelo menos 10% nos preços.

Com um estande de 400 m², e com presença na Expo Brasil Feira desde 2000, a empresa apresentará no evento brinquedos, utilidades domésticas, artigos de decoração e natalinos. "Temos produtos com preços bem diversificados que tem uma taxa de preços de R$ 0,50 até R$ 200, isso depende do item. Principalmente naqueles que estão entre a faixa de R$ 1 a R$ 99", disse o gerente de marketing da Zein, Matheus Benati.

Adequação

Segundo o gerente da empresa houve uma mudança de comportamento do consumidor, foi o que impulsionou a evolução do setor. "Os produtos de R$ 1,99 evoluíram muito. Agora, a qualidade é uma das exigências. O produto sem qualidade não sobrevive", diz Benati.

Para ele, mesmo nos itens de baixo valor agregado, os consumidores já conseguem encontrar uma qualidade maior e preços competitivos. "Outra vantagem para os empresários do segmento é que nesse momento de crise econômica há necessidade dos consumidores de comprarem produtos bons, bonitos e baratos".

A importadora mantêm duas lojas com a bandeira Issam. Os pontos de venda atendem apenas lojistas e estão localizados no bairro do Pari, na capital paulista com mais de 10 mil metros quadrados. Apesar do cenário econômico ainda manter o ritmo de queda nas vendas - registrada por diversos setores do varejo-, as lojas Issam não registraram essa desaceleração. "Mesmo com o bom desempenho do primeiro semestre continuamos mantendo o foco nas negociações com fornecedores, para garantir preço mais competitivo", destacou Benati.

Poder de compra

O menor poder de compra dos brasileiros também tem favorecido o setor, de acordo com o presidente da Expo Brasil Feira 1 A 99. "Devido à pujança do mercado com uma alta demanda dos compradores, alguns dos expositores e compradores tiveram crescimento de até 25% e estão com prazo de entrega de 20 a 30 dias", destacou o organizador do único evento do setor.

De acordo com estudos realizados por conta da feira existe uma migração do perfil de compradores, ou seja, aqueles que priorizavam a compra de celulares e roupas, por exemplo, aderiram ao mercado de variedades em função do menor valor agregado dos itens. Segundo Alexandre de Carvalho, 65% dos produtos oferecidos na feira são nacionais. "Podemos considerar a alta do dólar um breque, porém a indústria nacional tem sido um dos grandes diferenciais do evento", finalizou.

A 31ª edição da Expo Brasil Feira - 1 a 99 - será de 18 a 21 de outubro, no Expo Center Norte, em São Paulo. O evento é aberto só para profissionais do setor. A previsão desta edição é de um aumento de 22% no faturamento, frente à edição de outubro de 2014, que na ocasião movimentou R$ 132 milhões.

 



Veículo: Jornal DCI


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