Demanda retraída já afeta fabricação de produtos de primeira necessidade

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                                 Em junho, segundo o IBGE, a produção de alimentos caiu 2,1% sobre igual mês do ano passado. Já a fabricação de farmacêuticos e de bebidas registrou uma baixa de 4,2% na mesma comparação.



São Paulo - O avanço da inflação e a redução da renda disponível já provocam queda na demanda por produtos de primeira necessidade, como alimentos, bebidas e produtos farmacêuticos, de acordo com especialistas ouvidos pelo DCI.

O movimento foi detectado em junho pela Pesquisa Industrial Mensal (PIM), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mostrou recuo em alimentos, bebidas, produtos farmoquímicos e farmacêuticos. Segundo o IBGE, esses setores tiveram forte contribuição negativa para a queda de 3,2% na produção da indústria nacional em junho sobre um ano antes.

"As principais quedas na produção em junho ainda vêm de setores em que o recuo era esperado, como a indústria de máquinas, equipamentos e automobilística. Mas o que surpreende é termos perdas em setores como o de bebidas e de alimentos", afirma o presidente do Instituto Fractal, Celso Grisi.

Na comparação com junho do ano passado, a fabricação de produtos alimentícios no País caiu 2,1%. Em bebidas o recuo foi mais intenso, de 4,2%, mesmo percentual apurado na produção do segmento de farmoquímicos e farmacêuticos.

Para Grisi, a retração da atividade desses setores sinaliza que a demanda doméstica atingiu um novo patamar. Na opinião dele, se inicialmente os consumidores migraram para o consumo de produtos mais baratos e cortaram alimentos e bebidas considerados supérfluos da cesta do mercado, agora é o volume das compras que está sendo reduzido.

"A renda está menor, o desemprego continua aumentando. Isso claramente leva a uma contração do consumo das famílias. Com isso, o varejo está com medo de formar grandes estoques e vem reduzindo as encomendas", diz ele.

Grisi observa que, para fazer frente à queda nas compras dos varejistas, fabricantes têm procurado conceder prazos maiores para pagamento dos pedidos. Assim, os industriais tentam manter o nível das encomendas.

"No setor farmacêutico o comportamento do consumidor final e dos varejistas tem sido parecido. As pessoas já estão comprando menos remédios e dispensando os produtos que não são essenciais", destaca o economista.

Capacidade instalada

A utilização da capacidade instalada apurada para o mês de junho reflete a queda na demanda. Em junho, o setor industrial usou em média 80,1% da capacidade instalada, segundo os Indicadores Industriais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgados ontem.

Embora o indicador tenha avançado 0,1 ponto percentual contra o mês anterior. A CNI destacou que a variação sinaliza estabilidade no nível de utilização da estrutura fabril e que o indicador permanece abaixo do patamar ideal.

Em junho de 2014, a utilização da capacidade instalada era de 80,7%.

Perspectiva

"O mês de junho foi muito ruim para a indústria, mas a impressão é que as quedas daqui para frente se darão em menor nível. Além das bases de comparação menores em relação ao ano passado, podemos ter alguma melhora na demanda e também porque chegamos ou estamos muito próximos do fundo do poço", avalia Grisi.

De acordo com a pesquisa do IBGE, a atividade industrial caiu 3,2% em junho contra igual mês do ano passado. Essa é a décima sexta taxa negativa consecutiva, mas o resultado representa uma queda em menor ritmo quando comparada aos meses de abril (-7,9%) e maio (-8,9%). Na passagem de maio para junho deste ano, a produção recuou 0,3% e, no ano, a indústria acumula perda de 6,3% na atividade.

Já para o estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno, os dados da PIM sugerem que o setor continua em trajetória de queda. "O desempenho do setor deve permanecer fraco nos próximos meses devido ao sentimento negativo entre as empresas e os altos níveis de estoque", observa ele.

Rostagno cita ainda a queda de 3,3% na produção de bens de capital em junho ante maio, como um dos destaques do levantamento do IBGE, por se tratar de um indicador de queda nos investimentos do setor.

A retração da atividade em bens de capital foi ainda mais intensa na comparação anual, com baixa de 17,2%, seguida por bens de consumo (-2,4%) e bens intermediários (-1,7%).

"Nas comparações que envolvem o ano de 2014, permanece o cenário que vínhamos registrando, com queda no indicador geral e claro destaque para os setores ligados aos bens de capital", comentou o gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, André Macedo, em coletiva de imprensa nesta terça-feira (4).

Segundo Grisi, do Instituto Fractal, a categoria de bens de capital pode apresentar alguma melhora a partir de setembro, com a ativação da demanda por máquinas e equipamentos agrícolas.

"A desvalorização do dólar também pode contribuir para estimular a exportação de alguns setores da indústria, como vem acontecendo nos últimos meses e o aumento do consumo, comum nos últimos meses do ano, apesar do cenário menos favorável", ressalta.

No primeiro semestre, a indústria registrou retração de 6,3%, com todas as grandes categorias econômicas e 24 dos 26 ramos pesquisados com produção em queda.

A principal contribuição negativa no período vem do setor de veículos automotores, reboques e carrocerias, cuja atividade caiu 20,7% nos seis primeiros meses de 2015.



Veículo: Jornal DCI


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